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Zeitgeist: Glifosato ameaça futuro governo de Merkel

30 de novembro de 2017

Decisão unilateral de ministro da CSU irrita SPD e abala confiança entre possíveis parceiros da única alternativa que resta à chanceler para tentar formar seu próximo governo.

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Christian Schmidt e Barbara Hendricks
Decisão do ministro Schmidt ignorou posição da colega Hendricks e selou destino do herbicida na União EuropeiaFoto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

O glifosato é o herbicida mais utilizado do mundo e conhecido por seu efeito destruidor sobre plantas que não tenham sido geneticamente alteradas para resistir a ele. Esta semana, ele mostrou que pode ter um efeito destruidor também na política, como "mata coalizão".

Pois o veneno desenvolvido pela americana Monsanto está no centro de uma discórdia pública dos partidos conservadores alemães, a CDU e a CSU, com o social-democrata SPD – justamente o único parceiro que restou à chanceler federal Angela Merkel para a formação de uma coalizão de governo.

A polêmica começou na segunda-feira (27/11), quando, depois de várias rodadas de abstenção, a Alemanha mudou de lado na votação decisiva sobre a renovação da licença de uso do glifosato na União Europeia. A voto pelo sim foi dado, em Bruxelas, pelo representante do Ministério da Agricultura.

O titular do órgão é Christian Schmidt, da CSU, o partido conservador da Baviera, um dos principais estados agrícolas da Alemanha. A mudança imediatamente chamou a atenção. Afinal, as abstenções anteriores se deram porque havia posições conflitantes entre dois ministérios sobre a questão. Pelas regras do governo alemão, quando não há consenso, opta-se pela abstenção.

O outro ministério é o do Meio Ambiente, que é comandado por Barbara Hendricks, do SPD. A ministra logo comunicou que sua posição continuava sendo a mesma: ela é contra a prorrogação da licença do glifosato, que é suspeito de causar câncer.

O que, então, se deu em Bruxelas? Em entrevista à emissora ARD, Schmidt, que é adversário declarado dos ambientalistas e ligado ao setor agrícola, disse que tomou sozinho a decisão de votar pelo sim. Ele negou participação de Merkel na decisão. A chanceler o repreendeu publicamente, mas não o afastou.

A imprensa alemã afirmou que a decisão de Schmidt não foi tão isolada assim: ao menos o presidente da CSU e governador da Baviera, Horst Seehofer, sabia o que iria acontecer. Ele próprio teria dito isso durante encontro com seus secretários de governo.

Para Merkel, o maior problema da decisão de Schmidt é a hora em que ela foi tomada. Nesta quinta-feira, os líderes de CDU, CSU e SPD se reúnem com o presidente Frank-Walter Steinmeier para debater sobre o futuro de uma coalizão de governo. Agora a confiança entre os possíveis parceiros está abalada, e as negociações ficaram ainda mais difíceis.

O SPD reagiu com irritação. E com razão. A CSU passou por cima de um procedimento padrão, o da abstenção em caso de falta de consenso. E o voto alemão se mostrou decisivo para a aprovação da licença de uso, pois garantiu que os votantes do sim chegassem à maioria qualificada exigida: eles devem representar 65% da população europeia.

O presidente do SPD, Martin Schulz, afirmou que o comportamento unilateral de Schmidt "levou a uma enorme perda de confiança dentro do governo em exercício e entre os partidos". Resta aguardar para ver o quanto o imbróglio em torno do glifosato vai atrapalhar a formação do próximo governo Merkel.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.