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Xi e Zelenski conversam pela 1ª vez desde o início da guerra

26 de abril de 2023

Após telefonema "longo e significativo" com líder chinês, presidente da Ucrânia nomeia embaixador em Pequim. China reforça importância dos laços bilaterais e diz que enviado chinês vai a Kiev tratar de "acordo político".

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Montagem de fotos mostra, à esquerda, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e à direita o presidente da China, Xi Jinping
Foto: Ukrainian Presidentia/IMAGO/MONCLOA PALACE/REUTERS

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou nesta quarta-feira (26/04) que teve uma conversa por telefone "longa e significativa" com o presidente da China, Xi Jinping, no primeiro contato entre os dois líderes que se tem notícia desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, há mais de um ano.

O telefonema de quase uma hora ocorre dois meses depois de Pequim – aliado de longa data da Rússia – ter dito que gostaria de atuar como mediador de paz na guerra, e um mês após a visita de Xi a Moscou.

Ainda nesta quarta-feira, Zelenski nomeou um embaixador ucraniano na China, posto que estava desocupado desde fevereiro de 2021. O escolhido foi Pavel Ryabikin, que anteriormente chefiou o Ministério de Indústrias Estratégicas da Ucrânia, segundo decreto no site da presidência ucraniana.

O presidente ucraniano parecia otimista com o telefonema, que ofereceu a ele a chance de tentar se colocar entre Moscou e seu principal aliado. O presidente russo, Vladimir Putin, tenta a todo custo manter Xi por perto como contrapeso aos Estados Unidos, que se aliaram à Ucrânia.

"Acredito que este telefonema, assim como a nomeação do embaixador ucraniano na China, dará um ímpeto poderoso ao desenvolvimento de nossas relações bilaterais", escreveu Zelenski no Facebook. O gabinete presidencial em Kiev disse que mais detalhes do que foi dito ainda seriam publicados.

China reforça aproximação com Kiev

Um comunicado do Ministério do Exterior da China, por sua vez, afirmou que "a posição central [de Pequim] é facilitar as negociações de paz", e anunciou que um enviado da China – um antigo embaixador na Rússia – visitaria a Ucrânia em busca de um "acordo político".

O comunicado do ministério chinês tinha um tom positivo, concordando com a insistência de Kiev de que seu território não pode ser dividido pelas anexações realizadas pela Rússia e deixando claro que Pequim valoriza seus laços de longa data com a Ucrânia.

"O respeito mútuo pela soberania e integridade territorial é a base política das relações China-Ucrânia", diz o texto. "A prontidão da China para desenvolver relações com a Ucrânia é consistente e clara. Não importa como a situação internacional evolua, a China trabalhará com a Ucrânia para promover uma cooperação mutuamente benéfica."

Reações da Rússia e dos EUA

A porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia, Maria Zakharova, elogiou a abordagem da China, mas foi crítica à Ucrânia. Referindo-se ao telefonema, ela saudou a "prontidão de Pequim em se esforçar para estabelecer um processo de negociações [de paz]", enquanto condenou o que chamou de "rejeição de Kiev a quaisquer iniciativas sólidas destinadas a um acordo".

Já os Estados Unidos afirmaram que a conversa entre Xi e Zelenski era "uma boa coisa", mas, "se isso vai levar a algum tipo de movimento, plano ou proposta de paz significativa, não se sabe ainda".

"Há muito tempo dizemos que queremos que esta guerra termine", disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, acrescentando que o conflito pode acabar "imediatamente" se a Rússia retirar suas tropas da Ucrânia.

"Se vai haver uma paz negociada, terá que ser quando o presidente Zelenski estiver pronto para isso… Quando ele puder fazê-lo de uma posição de força", opinou Kirby. "Nós certamente receberíamos qualquer esforço para chegar a uma paz justa, desde que essa paz possa ser justa, sustentável e confiável."

Expectativa por diálogo

A conversa entre os dois líderes era esperada há semanas, desde que a China apresentou uma proposta de 12 pontos para encerrar os combates. O telefonema foi, para a China, mais um passo em direção a um envolvimento mais profundo na resolução do conflito.

Zelenski havia dito em uma entrevista à agência de notícias Associated Press no final de março que não falava com Xi desde o início da guerra e fez um convite para que ele visitasse a Ucrânia.

A proposta de paz veio logo após o anúncio da China de que deseja atuar como mediadora em uma guerra que reenergizou as alianças ocidentais consideradas rivais por Pequim e Moscou. Com a medida, o governo de Xi reforçou a alegação da China de ser neutra no conflito, apesar de bloquear os esforços das Nações Unidas de condenar a invasão realizada pelo Kremlin.

Enquanto Zelenski aproximou seu país da Otan e implorou, com parcial sucesso, aos países-membros da aliança para lhe enviarem armas modernas sofisticadas para ajudar a derrotar a Rússia, Pequim acusou o Ocidente de provocar o conflito e "pôr lenha na fogueira" ao fornecer armas defensivas à Ucrânia.

O governo chinês tem negado qualquer plano de fornecer à Rússia armamento para ajudá-la a lutar na guerra.

Em fevereiro, quando a China pediu um cessar-fogo e negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, Zelenski saudou cautelosamente o envolvimento de Pequim. Mas destacou que o sucesso dependeria de ações, não de palavras.

Em março, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu Xi no Kremlin, no que foi visto como uma tentativa de enviar uma mensagem poderosa aos líderes ocidentais de que seus esforços para isolar Moscou em meio aos combates na Ucrânia fracassaram.

ek/bl (AP, Reuters, AFP)

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