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Wilhelm von Humboldt e a revolução da educação

Heike Mund ca
22 de junho de 2017

Considerado o pai da universidade moderna, Wilhelm von Humboldt nasceu há 250 anos. Ele é injustamente menos conhecido que seu irmão, Alexander, pois sistema educacional que introduziu na Prússia foi modelo para o mundo.

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Wilhelm von Humboldt
Wilhelm von Humboldt era cosmopolita, poliglota, filósofo, estadista e escritor numa só pessoaFoto: picture-alliance/prismaarchivo

Nascido em Potsdam, na Alemanha, há 250 anos, em 22 de junho de 1767, Wilhelm von Humboldt ainda hoje seria o ministro da Educação perfeito: cosmopolita, poliglota, filósofo, estadista e escritor numa só pessoa. Ele dominava fluentemente as línguas mais importantes do novo e velho mundo, tendo vivido nos principais centros europeus da época: Paris, Roma, Londres, Viena e, por último, na metrópole prussiana, Berlim. Mesmo que na percepção pública ele assuma um papel menos importante do que seu irmão, o naturalista Alexander von Humboldt, seu trabalho não foi menos contundente.

Basicamente, toda a sua vida foi uma viagem educativa. Mesmo após a morte prematura do pai, um oficial prussiano elevado a camareiro da corte e proprietário de terras, Wilhelm von Humboldt pôde desfrutar na infância e adolescência uma excelente formação por meio de preceptores. A mãe, originária de uma abastada família de comerciantes protestantes, escolheu o melhor para seus dois filhos: filósofos, pedagogos reformistas e estudiosos universais que proporcionaram a Wilhelm e a Alexander uma visão de mundo além da educação escolar necessária.

Os dois irmãos logo se familiarizaram com o espírito de pesquisa, a curiosidade intelectual e a disciplina prussiana. Mais tarde, ambos deveriam realizar grandes proezas, cada um em sua área. Eles mantiveram contato estreito com grandes pensadores de sua época: com Schiller, Goethe, Fichte e Schleiermacher, estudando repetidamente a filosofia moderna de Kant. Graças à fortuna dos pais, eles foram financeiramente independentes e puderam perseguir livremente seus interesses pessoais.

Curiosidade científica e paixão pelas viagens

Aos 23 anos, Wilhelm entrou no serviço público prussiano, do qual logo se afastou devido à monotonia da vida burocrática em Berlim. Ele casou-se então com uma mulher um ano mais velha do que ele e proveniente de família abastada.

Para a época, os dois levavam uma vida matrimonial incomum: bem ao contrário do ideal prussiano-militar de masculinidade, Wilhelm cuidava dedicadamente dos filhos. Além de ousada, sua esposa, Caroline, possuía um elevado nível educacional. Durante as viagens, ela gostava de usar roupas masculinas, mais práticas para andar a cavalo.

Os dois viajaram intensamente pela França e pela Espanha, em parte através de regiões remotas e elevadas dos Pireneus, pouco frequentadas por viajantes, levando consigo seus três filhos, além do professor particular. Às vezes, o meio de transporte eram mulas, às vezes, cavalos do correio. O mais velho podia ir com a mãe – aventuras que uniam o casal.

Pesquisador independente e diplomata real

Wilhelm von Humboldt era guiado pela mesma curiosidade intelectual que seu irmão, Alexander. O jovem bem articulado logo dominou diversas línguas com a mesma fluência de seu idioma materno, sugando tudo que lhe era desconhecido em suas muitas viagens. Durante toda a sua vida, a formação intelectual prática e realista, a exploração de culturas estrangeiras lhe foram mais importante que o aprendizado de livros e teorias.

Em 1802, Wilhelm von Humboldt entrou pela segunda vez no serviço público prussiano. No entanto, com mais sorte: ele foi enviado como diplomata para Roma. Lá era bastante independente, circulando com escritores, estudiosos e artistas. No entanto, o feliz equilíbrio entre as preferências pessoais e os negócios do Estado logo terminou. Após a derrota nas Guerras Napoleônicas, a Prússia não havia fracassado somente política e militarmente, mas estava falida. A população sofria com a fome. A pobreza extrema e as duras consequências da guerra aniquilaram toda sua vitalidade.

Reforma do sistema educacional prussiano

Em meio a essa situação, Wilhelm von Humboldt foi chamado de volta a Berlim pelo rei, assumindo a chefia da administração do ensino e da cultura no país. A formação escolar na Prússia era totalmente rígida e irrealista. Não havia separação entre Igreja e Estado. O ensino era orientado por cânones rigorosos. Os alunos eram educados para serem súditos obedientes. As mulheres não podiam frequentar a educação secundária.

Humboldt deu início a uma nova era na educação. Ele reformou fundamentalmente o rígido sistema educacional prussiano. Em 1810, introduziu a educação em três níveis no país: a escola elementar, a "escola erudita" do ensino secundário, e a universidade. A fatal "pedagogia do treinamento", como ele chamava, foi abolida.

Criador da moderna universidade de pesquisa

Além disso, ele revisou o antiquado currículo: professores escolares e universitários deveriam tornar-se, dali por diante, "advogados da educação de jovens" e voltar-se para a vida prática. Para Humboldt, a aprendizagem sistemática e a educação integral por meio da arte e da música eram tão importantes quanto a matemática como treinamento da mente. Em sua opinião, também a capacidade de pensar criticamente faz parte disso. "Saber é poder, quem se educa é livre" era o seu lema.

Wilhelm von Humboldt estabeleceu as bases da moderna sociedade baseada na educação. Com sua reforma educacional, o filósofo e estudioso também modificou a paisagem universitária alemã. A "magnificência do professor" foi substituída por uma metodologia moderna de ensino.

Com a introdução de uma moderna universidade de pesquisa, o reino da Prússia recebeu o sistema educacional mais moderno da Europa. Hoje, a universidade fundada por Wilhelm von Humboldt na capital alemã em 1810 leva o seu nome. Por lá passaram cientistas como Albert Einstein e Max Planck, nela estudaram Karl Marx e Otto von Bismarck.