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Weimar: a música entre a literatura e a arte

Nicole Restle (rr)2 de setembro de 2005

A cidade onde Goethe e Schiller se encontraram é conhecida no mundo todo como o berço do classicismo alemão. Mas poucos sabem que a cidade possui também uma história de mais de 400 anos de música.

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Vida na corte influenciou a música em WeimarFoto: dpa

Nenhuma outra cidade alemã se identifica tão claramente com uma época histórica quanto Weimar. A capital da Turíngia deve sua fama, principalmente, ao legado de quatro homens: Christoph Martin Wieland, Johann Gottfried Herder, Friedrich Schiller e Johann Wolfgang von Goethe – célebres escritores e pensadores que a transformaram em uma metrópole intelectual européia na segunda metade do século 18. E, ainda hoje, Weimar mantém essa aura de berço da literatura clássica alemã.

Weihnachtsmarkt in Weimar
Em 1815, foi instalada em Weimar a primeira árvore de natal pública da Alemanha. Há cerca de 200 anos, foi composta aqui a canção natalina 'O Du Fröhliche'Foto: dpa

Mas o que muitos desconhecem é que Weimar também possui uma história de mais de 400 anos de música. Uma história que, até o começo do século 20, permaneceu ligada à corte do ducado, mais tarde grão-ducado de Sachsen-Weimar-Eisenach.

Bach, um pequeno escândalo

Mesmo que o compositor Johann Hermann Schein tenha lá vivido apenas por um ano – de 1615 a 1616, época em que compôs sua famosa suíte instrumental Banchetto musicale –, como regente da orquestra da corte, Johann Sebastian Bach exerceu durante nove anos a função de organista e músico de câmera na corte de Weimar – período no qual compôs diversos de seus corais e cantatas.

Johann Sebastian Bach
Johann Sebastian Bach (1685–1750)

Em 1716, ao saber que, contra todas as expectativas, não seria nomeado substituto do então regente da orquestra, Samuel Drese, Bach ofereceu seus serviços ao príncipe Leopoldo, de Anhalt-Köthen. Só que ele fez as malas sem pedir a permissão do duque Guilherme Augusto de Weimar, o que provocou um escândalo na época, conta Irina Lucke-Kaminiarz, diretora do Arquivo Musical da Turíngia.

Goethe trouxe a opereta

Da antiga orquestra da corte de Weimar, surgiu a Orquestra Estadual de Weimar, uma das mais antigas da Alemanha, segundo sua diretora, Julia Miehe. "Celebramos em 2002 nosso 400º aniversário, o que não significa que nossa orquestra tenha apenas 400 anos de idade, mas que ela está estabelecida em Weimar há 400 anos", distingue. "Isso é bastante tempo e nossa orquestra vive dessa grande tradição – tanto quanto ao repertório, como quanto ao som".

Goethe
Placa do Café Goethe, em WeimarFoto: Dw

Quando assumiu sua direção teatral, Goethe engajou-se não apenas pelos jovens autores de seu tempo, mas também pelo reconhecimento da opereta, na época ainda em seus primórdios. Ele aproximou, por exemplo, o público de Weimar das composições de Mozart para o palco, das quais A Flauta Mágica foi um enorme sucesso de bilheteria, encenada 82 vezes apenas sob sua direção.

Música e literatura interligadas

A orquestra e o teatro da corte compunham grande parte da vida musical de Weimar. Mas foi graças a duas mulheres, que influenciaram fortemente o desenvolvimento cultural da cidade, que a Alemanha toda voltou os olhos para Weimar: Anna Amalia e Maria Pavlovna.

Im berühmten Rokoko-Saal der Herzogin Anna Amalia Bibliothek in Weimar blättert eine Mitarbeiterin der Stiftung Weimarer Klassik und Kunstsammlungen in einem historischen Atlas
Biblioteca Anna Amalia, local de um incêndio em 2004Foto: dpa

"Anna Amalia era uma pessoa muito musical. Ela mesma chegou a compor. Ela era rodeada por um círculo altamente intelectual, de forma que a vida musical da cidade estava intimamente ligada à vida literária e artística", conta Lucke-Kaminiarz. "Foi através do convite que fez a Wieland para estabelecer-se na cidade como educador que Goethe veio a Weimar. E não se pode imaginar Goethe sem a música."

Apenas dois anos depois, falecia o duque Ernesto Augusto 2º e Anna Amalia, agora viúva, se via na obrigação de assumir a liderança, já que o príncipe herdeiro Carlos Augusto era muito jovem. Durante sua regência, Anna Amalia criou as bases para o desenvolvimento cultural e intelectual da cidade.

Pavlovna: pequena e provinciana

Quando a grã-duquesa russa Maria Pavlovna chegou a Weimar em 1804, recém-casada com o sobrinho de Anna Amalia, Karl Friedrich, Weimar vivia o auge de seu desenvolvimento artístico. Mesmo assim, a mudança para a pequena cidade foi demais para a filha de czares, que até então vivera na mundana São Petersburgo. Ela até tinha esperado encontrar uma pequena cidade, mas de forma alguma tão pequena e provinciana. Pavlovna trocara a agitação da cidade grande pelo idílio bucólico.

Temendo que a cidade sofresse uma decadência cultural após a morte de Goethe, Pavlovna decidiu tomar providências. "Ela mesma tinha obtido uma ótima formação cultural em São Petersburgo e a música era sua modalidade artística predileta. É interessante acompanhar seu esforço para trazer um músico eminente, reconhecido no resto da Europa para assumir a direção do teatro após a saída de Goethe", conta Lucke-Kaminiarz.

Franz von Liszt
O compositor Franz LisztFoto: dpa

O substituto foi Johann Nepomuk Hummel, aluno de Mozart e pianista virtuoso muito celebrado na época. Entre os anos de 1819 e 1837, em que a orquestra esteve sob sua direção, a ópera vivenciou uma enorme prosperidade em Weimar.

Após a morte de Hummel, em 1837, Pavlovna saiu novamente em busca de um substituto à altura, simplesmente pelo fato de ela mesma querer receber aulas de piano. Desta vez, Pavlovna trouxe à cidade ninguém mais, ninguém menos, que o grande compositor húngaro Franz Liszt.