Voluntários impedem caos olímpico
28 de agosto de 2004Segundo o Ministério das Finanças da Grécia, a Olimpíada 2004 vai custar em torno de seis bilhões de euros. No entanto, segundo cálculos inoficiais, os custos podem chegar a 10 bilhões de euros. O comitê organizador dos Jogos (Athoc) prevê uma receita de cerca de dois bilhões de euros oriunda de patrocínios, mais 818 milhões subvencionados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O grande resto será pago pelo contribuinte grego.
A conta a ser paga pelos gregos seria ainda maior, sem as 60 mil pessoas que voluntaria e gratuitamente prestam serviços olímpicos. Esses voluntários trabalham de recepcionistas, orientam o trânsito nos estacionamentos e os espectadores na entrada dos estádios e ficam de plantão nos inúmeros postos de informação.
De um lado, vê-se a máquina do comércio, que enriquece uns poucos; do outro lado, milhares de idealistas, que sacrificam suas férias e arregaçam as mangas, para garantir o funcionamento da gigantesca festa do esporte.
Ingresso "gratuito"
Uma delas é a alemã Annette Gasper, de Darmstadt, que trabalha no Centro de Informações Esportivas da Vila Olímpica. Sua jornada vai das 7 às 14 horas, quando vem o turno da tarde, que fica até as 22 horas. Junto com outros três voluntários, ela presta toda sorte de informação sobre o triatlo, representado por apenas 100 atletas em Atenas.
Como a maioria de seus colegas, Gasper candidatou-se via internet e não reclama da contradição entre comércio e trabalho gratuito nas Olimpíadas. Pior, segundo ela, é a situação dos "supervisores" gregos, que ganham 1.300 euros por mês, têm jornada diária de 16 horas e "nem os deuses sabem o que será deles depois dos jogos".
Os voluntários só tiveram de pagar a passagem para Atenas. Na Vila Olímpica, ganham hospedagem e alimentação gratuita, além de passes de ônibus - inclusive para o tempo livre. Dependendo da atividade, até podem assistir às provas sem pagar ingresso. Graças aos seus contatos no atletismo, Gasper – que é dona de uma pequena escola de natação - conseguiu hospedar-se gratuitamente na Casa Alemã em Atenas, onde o pernoite normalmente custa 98 euros.
Polir a imagem do país
Já Alexandros Kirtsidis, que tem pais gregos, engaja-se na Olimpíada com muito patriotismo. Ele trabalha de guia de estacionamento e só tem uma preocupação: polir a imagem do país. "A Grécia foi muito criticada antes dos Jogos. Sempre se disse que os jogos acabariam no caos", diz Kirtsidis. Na sua opinião, "sem os voluntários, a Olímpíada seria impossível". Os voluntários parecem ser a prova de que, longe dos cartolas, marqueteiros e atletas fanáticos e dopados, ainda existe o tão propalado espírito olímpico.