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"Viro brasileiro quando vou ao Brasil"

Renate Krieger
20 de dezembro de 2017

Matthias Frattini gosta de moqueca de peixe e lembra com carinho do barco como meio de transporte em Belém. No Brasil, diz que aprendeu a não se deixar dominar pela angústia, a permanecer simpático e de bom humor;

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Profilbild Matthias Frattini DLR
Foto: Arquivo Pessoal

"Minha experiência no Brasil começou com algo que acho que todo mundo vivencia quando vai a um país estrangeiro: eu mesmo fiquei muito mais ciente de que sou alemão, que tenho uma identidade nacional alemã.

Quando vivi no Brasil, precisei confrontar o fato de eu ser estrangeiro, e ficou um pouco mais claro para mim o que significa ser alemão.

O que mais me marcou no trato com os brasileiros, na convivência no Brasil, é que, em comparação com o tratamento e a comunicação entre as pessoas na Alemanha, os brasileiros são incrivelmente amáveis e simpáticos. No início da minha primeira viagem para o Brasil, em 1991, eu não sabia falar português, e as pessoas me tratavam de forma leve, a comunicação era fácil.

Isso me deixou muito bem impressionado, porque vi muitas pessoas no Brasil – especialmente quando você sai dos grandes centros – que eram relativamente pobres, mas mesmo assim elas não se deixam dominar pela angústia, eles permanecem simpáticos e de bom humor. Não são todos e nem sempre é o caso, mas é fato em comparação com a Alemanha.

Sempre que voltei das minhas viagens do Brasil para a Alemanha, ficava muito evidente para mim que as pessoas aqui costumam viver preocupadas ou reclamando.

Eu também acho que trouxe um pouquinho do jeitinho brasileiro para a Alemanha – por causa do meu trabalho no Centro Aeroespacial alemão e da minha experiência e conhecimento do Brasil – estudei gestão de florestas na Alemanha e fiz as pesquisas para o diploma universitário e para o doutorado em várias regiões do Brasil. Sou bastante requisitado quando se trata de falar do país sul-americano. E acredito que muitas pessoas me veem como alguém que trouxe essa forma leve de comunicação de lá.

Algumas pessoas que estiveram comigo no Brasil dizem que, quando estou lá, viro outra pessoa, me comporto de forma 'brasileira', faço certas coisas que eu não faria na Alemanha. Um exemplo: na Alemanha, quando entro numa loja, nunca questionaria o preço dos produtos, mas não me importo de negociar lá no Brasil, perguntar se tem desconto.

Eu tenho uma rede que comprei no Brasil e que gosto de pendurar no terraço. É uma rede boa, uma rede de verdade, não uma dessas redes de turista. Hoje em dia, continuo gostando de encontrar brasileiros e de me comunicar com eles, e especialmente de manter a fluência do português brasileiro falando com amigos de lá, porque a língua se tornou uma parte importante de mim mesmo – embora tenha que confessar que meu português piorou um pouco nos últimos anos, porque não vou mais ao Brasil com tanta frequência.

Não posso dizer que cozinho comida brasileira com regularidade, mas faço um prato aqui e ali. Gosto muito de arroz e feijão preto, que é algo que consigo fazer facilmente aqui na Alemanha.

Também gosto de fazer moqueca de peixe, ou pelo menos uma adaptação dela. Uso peixe, claro, leite de coco e coentro – um tempero que nem todo alemão gosta, mas para mim é tipicamente brasileiro e é o ingrediente mais importante da moqueca. Não tenho uma panela de barro. Faço numa panela normal e funciona (risos).

E gosto de farinha de mandioca – os alemães não gostam muito, mas dá para fazer rápido e simplesmente tem gosto de Brasil.

Fui ao Brasil pela primeira vez em 1991, depois de fazer uma formação profissional em gestão florestal e estudar o assunto numa escola técnica. Depois dos meus estudos, queria viajar e conhecer uma floresta tropical. Por coincidência, tinha um conhecido que estava fazendo pesquisas na Mata Atlântica e ele me convidou para visitá-lo. Passei três meses lá e aprendi a falar Português, não sem que os brasileiros achassem engraçado. Mas aprendi a pronunciar a frase 'mais uma!' perfeitamente (risos). De volta à Alemanha, visitava cursos de Português para aprimorar o idioma.

Meu primeiro contato com o Brasil e a floresta brasileira foi em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, mas não considero essas regiões o 'Brasil de verdade' (risos), são apenas uma parte da realidade brasileira. Dois anos depois da minha primeira visita, fiz um intercâmbio financiado pela fundação Carl Duisburg e fui para o Tocantins, Brasília, Belém e um pouco do norte do Brasil.

Não acho que São Paulo seja ruim, mas não morei muito tempo por lá e não sei se aguentaria. Fiz a pesquisa de campo para o meu trabalho de conclusão da faculdade sobre conflitos na Mata Atlântica, na estação ecológica de Jureia/Itatins.

Eu me sinto mais em casa no norte do país. Uma cidade que achei muito agradável para morar e viver foi Belém, porque é uma cidade relativamente grande, mas tem aquele charme, aquele ambiente tropical.

Não se vê mais muito da história da cidade hoje em dia, muitas das casas dos tempos coloniais não existem mais, mas gostei da oferta cultural da cidade. Morei em vários bairros de Belém. A proximidade com a água me fascinou, achava muito bonito e interessante pegar um barco ou balsa para chegar a algum lugar em vez do ônibus.

Eu ia muito a Gotejuba, que era uma ilhota com pequenas praias e vilarejos e onde se chega de barco – leva mais ou menos uma hora a partir de Belém. Dava para tomar banho nas ondas de lá, mas era um mar de água doce. Adorava passar os fins de semana lá."

Na série Como o Brasil mudou minha vida, a DW conta a história de alemães que viveram no país.