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Brasil tem três representantes na mostra Forum Expanded

Marco Sanchez, de Berlim12 de fevereiro de 2015

Obras de Felipe Bragança, Arthur Tuoto e Frederico Benevides participam da Berlinale 2015 em mostra experimental que foca em temas políticos.

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Drama dos refugiados é o tema de "Fuga dos meus olhos", de Felipe BragançaFoto: Felipe Bragança

Política e experimentação são as forças motoras da Forum Expanded, uma extensão da mostra experimental Forum da Berlinale. Este ano, a Expanded conta com o trabalho de três brasileiros: Frederico Benevides e Arthur Tuoto apresentam as videoinstalações Viventes e Je proclame la destruction, e Felipe Bragança volta à Expanded com seu novo curta, Fuga dos meus olhos.

To the sound of a closing door (Ao som de uma porta fechando) é o tema do programa deste ano, que quer desafiar o senso de finitude e buscar os ecos dele, selecionando projetos com um senso de ruptura histórica e que gerem visões e expectativas em relação ao futuro.

Desdobramentos da "miamização"

Viventes pode ser visto como uma reflexão sobre a cidade de Fortaleza. A capital cearense passa por um processo de "miamização", na qual o chamado desenvolvimento disfarça e amplia segregações.

"A maior parte das cidades brasileiras vive projetos de urbanidade que pouco levam em consideração a forma de viver de seus habitantes no que eles têm de mais singular", diz Benevides.

Utilizando imagens de seu curta, Visita ao filho, a obra mostra imagens que são "um momento de rasgo do real. Exibidas como instalação, essas imagens parecem muito reais e assertivas. São rostos, corpos, bichos e plantas que chamam a atenção ao serem projetadas em escala humana e com a temporalidade dilatada, explica o diretor.

A câmera estática e a câmera lenta convidam o espectador para "uma imersão nesses micromovimentos". Uma confrontação com a realidade do presente, que "celebra e ironicamente aterroriza ao trazer os 'comuns' para o centro dessa apresentação."

Berlinale 2015 Je Proclame la Destruction KEIN SOCIAL MEDIA + EINSCHRÄNKUNG
Em "Je proclame la destruction", de Arthur Tuoto, personagem repete a mesma frase em francêsFoto: Arthur Tuoto

Reapropriação artística e política

A instalação de Tuoto se apropria de uma cena de O diabo, provavelmente (1977), de Robert Bresson, e cria uma "espécie de dispositivo cíclico de montagem", no qual um personagem repete a frase Je proclame la destruction (Eu proclamo a destruição).

"A reiteração dessa sentença, como um mantra eterno, dialoga tanto com a proposta niilista do filme de Bresson como também articula uma preposição anarquista, situando um anseio político radical sempre atemporal e universal", diz Tuoto.

O artista tem seu trabalho centrado na apropriação e resignificação audiovisual. "Vivenciamos uma cultura da reapropriação e do remix, do consumir e do reproduzir como uma forma de interação criativa na qual a mediação cada vez mais substitui a concepção em si, subvertendo a ideia sagrada do autor e questionando a concepção artística", explica.

Berlinale 2015 Viventes KEIN SOCIAL MEDIA + EINSCHRÄNKUNG
"Viventes", de Frederico Benevides, pode ser visto como uma reflexão sobre a cidade de FortalezaFoto: Frederico Benvenides

Cruzamento de realidades na imaginação

Em 2013, quando vivia em Berlim, Bragança se deparou com um acampamento de refugiados numa praça do bairro de Kreuzberg. "Depois que vi aquele lugar não consegui mais parar de pensar nele como um reflexo de um deslocamento cultural que eu também vivia", diz o diretor, que começou a frequentar as discussões do grupo e conheceu Koukou do Togo, que apresentou Bragança para outros refugiados.

Assim nasceu Fuga dos meus olhos, curta onde o diretor volta a misturar documentário e ficção, unindo o onírico à discussão política. "O filme fala desse cruzamento de realidades, da vida que resiste na memória, da espera que eles [os refugiados] vivem hoje e o sonho de um futuro possível. Apesar desses corpos estarem no limbo, suas mentes, corações e imaginação continuam fervilhando de possibilidades. O filme se passa nessa imaginação", explica Bragança.

O diretor também encontra paralelos entre os refugiados políticos na Europa e os excluídos no Brasil. "Nossa identidade brasileira é calcada no desterro. Dos portugueses viajantes, dos negros sequestrados, dos índios expulsos de seu lugar. Pensar o lugar do exílio é pensar o Brasil", diz.