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Uma história americana

29 de novembro de 2010

Os documentos foram produzidos em embaixadas norte-americanas de todo o mundo e trazem opiniões pessoais – e picantes – de figuras importantes do cenário internacional.

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Logo do site WikileaksFoto: picture-alliance/dpa

O novo vazamento de informações pelo site WikiLeaks trouxe mais desconforto aos Estados Unidos e a líderes da comunidade internacional. Os documentos revelados neste domingo (28/11) trazem dados chocantes de episódios diplomáticos – são mais de 250 mil relatórios produzidos por funcionários do governo norte-americanos em todo o mundo entre 2003 e fevereiro de 2010.

Segundo os relatórios divulgados pelo site, diplomatas de outros países eram espionados por norte-americanos: funcionários da secretaria de Estado, a pedido do governo, relatavam particularidades de altos representantes estrangeiros.

As informações recolhidas pelos Estados Unidos eram enviadas, posteriormente, a embaixadas em países como África, Oriente Médio, Leste Europeu e América Latina, assim como a representantes norte-americanos nas Nações Unidas.

Os documentos foram distribuídos pela WikiLeaks na Europa a publicações de grande circulação de vários países, como o Der Spiegel, Guardian, Le Monde e El País. Para o diretor do site que vazou as informações, Julian Assange, trata-se de "uma história diplomática dos Estados Unidos" que cobre "os principais temas".

Relações diplomáticas na berlinda

Em meio a diversas opiniões emitidas por diplomatas, consta a impressão dos norte-americanos sobre o ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle. O ministro é visto como incompetente e dono de uma personalidade inquieta, diz um relatório de 22 de setembro de 2009.

Já a chanceler federal é citada como Angela "Teflon" Merkel: a líder não se deixaria abater por quase nada e, ainda segundo os documentos vazados, ela raramente seria criativa e "evitaria riscos". Dentre os 250 mil documentos revelados pela WikiLeaks, 1719 foram produzidos pela embaixada norte-americana em Berlim.

John Kornblum, ex-embaixador norte-americano na Alemanha, vê o desenvolvimento de uma crise a partir desse novo vazamento. Para Kornblum, os diplomatas irão pensar duas vezes antes de ter qualquer conversa com um representante norte-americano e, depois desse fato, será preciso, segundo ele, restabelecer uma nova relação de confiança.

Ex-embaixador alemão em Washington, Wolfgang Ischinger vê "danos severos para a política externa", principalmente para as relações intergovernamentais pouco estáveis. Apesar de o conteúdo dos documentos relevados não ser amigável, "as relações teuto-americanas devem sobreviver", acredita Ischinger.

Espionagem

Dentre as atividades de espionagem estavam o levantamento de dados, como detalhes de cartão de crédito, e-mail e chamadas telefônicas de nomes encomendados pelo governo norte-americano. A própria secretária de Estado, Hillary Clinton, teria pedido que seus diplomatas relatassem informações técnicas sobre o sistema de comunicação de altos representantes das Nações Unidas, incluindo o secretário-geral, Ban Ki-moon.

Os documentos revelados também mostram que os Estados Unidos repreenderam a China diversas vezes por permitir o transporte de componentes de mísseis da Coreia do Norte para o Irã através de seu território.

Há ainda memorandos sobre os planos chineses de golpear o Google, sobre a promoção de uma reunificação na península coreana depois de um eventual colapso da Coreia do Norte, e o relato do pedido do rei da Arábia Saudita aos Estados Unidos para que bombardeassem o Irã a fim de conter sua corrida nuclear, entre outros.

O Brasil também é citado nos documentos secretos: diplomatas norte-americanos que trabalham no país teriam recebido ordens de verificar a possível atividade da organização Al-Qaeda nas fronteiras entre Paraguai e Argentina. As informações coletadas teriam sido enviadas à embaixada em Assunção.

Ainda segundo os memorandos, os Estados Unidos queriam saber se o Paraguai apoiava a "guerra contra o terror" promovida pelos norte-americanos, "incluindo sua posição regional e internacional e seu apoio e oposição às políticas norte-americanas contra o terrorismo".

Ataque e condenação

O site principal da WikiLeaks, que está disponibilizando os documentos confidenciais aos internautas, amanheceu nesta segunda-feira sob ataque cibernético.

A Casa Branca condenou o vazamento das informações e disse tratar-se de uma "ação imprudente e perigosa" que ameaçam vidas. "Para ser claro, essas revelações colocam em risco os nossos diplomatas, profissionais de inteligência e pessoas ao redor do mundo que procuram os Estados Unidos para obter assistência, promover democracia e para um governo aberto", disse em comunicado o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.

NP/rts/dpa/afp/dapd
Revisão: Roselaine Wandscheer