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Vacina contra AIDS ainda é utopia

12 de julho de 2002

Quinze mil especialistas participaram em Barcelona da 14ª Conferência Internacional sobre a Aids, encerrada nesta sexta-feira (12/07).

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"Tapete" dedicado aos países participantes da conferência em BarcelonaFoto: AP

Foram sete dias de debates e palestras sobre a Aids, uma doença contagiosa e ainda incurável, cuja proliferação só pode ser evitada com eficácia por meio da prevenção. O surgimento de uma vacina no mercado, a curto ou médio prazo, ainda é bastante utópico, segundo especialistas.

Robert Gallo, professor de microbiologia e pesquisador da área imunológica, um dos descobridores do vírus causador da Aids, o HIV, duvida que a vacina possa ser desenvolvida rapidamente. "Uma vacina capaz de bloquear a infecção? Sim, eu acredito que seja possível, só não posso prever para quando. Há muitos anos arrisquei fazer previsões e acabei me enganando. Um belo dia haverá uma vacina contra a Aids, um belo dia existirá um medicamento seguro, inclusive para o Terceiro Mundo. Mas antes disso ainda vai morrer muita gente", afirmou em Barcelona.

Jordi Casabona, co-presidente da Conferência Internacional sobre a Aids, também concorda que é difícil estimar quando será descoberta uma vacina ideal, ou seja, acessível e sem efeitos colaterais, apesar das pesquisas em todo o mundo.

Atualmente cerca de 30 vacinas diferentes estão na chamada fase 1 de testes clínicos, com alguns poucos voluntários que servem de cobaia. Apenas uma vacina já se encontra na fase 3 de testes. A Tailândia divulgou que pretende concluir até o final do ano um estudo clínico com a participação de 16 mil pessoas e, otimista, acredita que em cinco anos terá desenvolvido uma vacina.

O anúncio foi recebido com certo ceticismo na conferência de Barcelona. Peter Piot, coordenador do programa anti-Aids das Nações Unidas, o Unaids, explica por que até hoje não existe um medicamento realmente eficaz contra a doença: "Primeiro, perdemos muito tempo sem investir em pesquisas e sem fazer testes clínicos. Depois, o vírus muda constantemente, é o vírus mais esperto que nós conhecemos. Nós precisamos de uma vacina que seja composta por vários componentes do vírus."

Necessidade de conscientização —

Se existe consenso entre os especialistas de que a vacina ideal está longe de ser criada, surgem no mercado, por outro lado, novos medicamentos que despertam esperanças, como é o caso do "T 20", apresentado pelas empresas Roche e Trimeris. Com o agravante, porém, de que seu preço os torna inacessíveis aos países em desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, os especialistas observam preocupados a proliferação constante da epidemia, fomentada pela falta de informação, de um lado, e pela indiferença, de outro. Ou seja, a prevenção só traria resultados satisfatórios por meio da conscientização.

Os alertas dos especialistas de que paira no ar uma grave ameaça nos países do Leste Europeu, até agora não surtiram o efeito desejado. O próprio Robert Gallo manifestou sua preocupação quanto a isso: "Quando estive na Europa no mês passado, chamou minha atenção quanta prostituição está sendo levada do Leste para o Centro do continente. E, no Sul, quantas jovens africanas estão trabalhando na lavoura. Na minha opinião, a Europa logo vai enfrentar uma epidemia crescente".

Para seu programa anti-Aids, as Nações Unidas necessitam de 10 bilhões de dólares ao ano, uma soma que precisaria ser disponibilizada na maior parte pelos países ricos. Foi sobretudo a estes países que Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, e de Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, dirigiram seu apelo conjunto, no encerramento do encontro em Barcelona: "Precisamos deixar de falar, agora nós precisamos finalmente agir". Resta aguardar se a Aids não vai desaparecer da pauta assim que os delegados voltarem para casa e só retornar a ela quando for realizada a próxima conferência internacional em Bangcoc, daqui a dois anos. (ms/lk)