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Borracha sintética

29 de dezembro de 2009

Em 1909, o alemão Fritz Hofmann sintetizou pela primeira vez um produto natural em laboratório. Hoje existente em 100 formas distintas, a borracha sintética se tornou indispensável a partir da Segunda Guerra Mundial.

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Foto: Lanxess

Durante muito tempo, a história da borracha foi cem por cento natural: na América do Sul cresciam árvores que liberavam uma seiva leitosa, quando se cortava sua casca. Os nativos chamavam essas plantas ca-hu-chu – algo como "madeira que chora". Eles deixavam secar o látex viscoso e com ele produziam tubos, vasilhas, roupas impermeáveis e figuras de culto. Além de bolas flexíveis para vários tipos de jogos.

100 Jahre Kautschuk
Foto: Lanxess

Os primeiros relatos europeus sobre a borracha (Kautschuk em alemão, caoutchouc em francês) e os estranhos jogos de bola dos ameríndios datam do início do século 16. Durante longo tempo se procurou um emprego útil para esse material sui generis. Entretanto, além de borrachas de apagar e capas de chuva, nada mais ocorria aos europeus. Sobretudo porque no calor a borracha natural começava a colar, e no frio, ficava quebradiça.

Isso mudou em 1839, quando o norte-americano Charles Goodyear inventou o processo da vulcanização. Sua borracha era termicamente mais resistente, mais elástica e mantinha a forma. Ainda assim, segundo Robert Schuster, diretor do Instituto de Tecnologia da Borracha em Hannover, a utilidade do material não ia muito além de botas impermeáveis, bolsas de água quente e capas de chuva "contra o tempo de Londres. Não tinha muita graça".

Riqueza amazônica

O próximo capítulo relevante nesta história vem com a invenção do automóvel, por volta de 1880. "Essa combinação, automóveis e rodas pneumáticas, tornou a borracha um material realmente estratégico", aponta Schuster.

Entre os principais beneficiados pelo aumento da demanda foram os chamados "barões da borracha" do Brasil, único lugar onde cresciam seringueiras, na época. Isso resultou em riqueza incomensurável para os detentores do monopólio, culminando com a majestosa casa de ópera de Manaus, em plena selva amazônica.

Essa dependência incomodava os países industrializados. Até que um inglês conseguiu contrabandear para fora do Brasil 70 mil sementes da seringueira. Assim, no princípio do século 20, as árvores da borracha passaram a ser cultivadas em grande estilo nas colônias inglesas no Sudeste Asiático, onde até hoje se concentram os maiores produtores de látex.

Borracha-metil e Buna

O monopólio brasileiro fora rompido. Contudo, permanecia a dependência de umas poucas fontes, além de grandes oscilações de preço e qualidade. Foi quando o fabricante de tintas alemão Friedrich Bayer, de Elberfeld, começou a se perguntar: será possível substituir o extrato da seringueira por uma alternativa artificial? E prometeu um prêmio em dinheiro ao químico de sua fábrica que encontrasse a solução.

Após anos de experimentos, Fritz Hofmann desenvolveu, em 1909, a borracha-metil. Segundo Robert Schuster, era a primeira vez que se imitava em laboratório um produto natural. E não é de espantar que isso ocorresse na Alemanha, acrescenta, uma vez que o país "se tornara campeão na química desde meados do século 19".

Porém, o processo desenvolvido pelo químico da futura fábrica Bayer era trabalhoso demais para fabricação em grande escala; somente a síntese exigia semanas. Apenas no fim da década de 20 o químico Walter Bock chegou a uma alternativa melhor: o polibutadieno, uma combinação de butadieno e sódio, abreviada como "Buna".

Pneus para Hitler

Symbolbild Autoreifen Reifen Gummi
Foto: picture-alliance / Helga Lade Foto

Os nazistas, ao assumirem o poder na Alemanha em 1933, perceberam imediatamente o potencial do novo material. Adolf Hitler mandara construir autoestradas e a fábrica Volkswagen, e, para fornecer os pneus necessários, a borracha sintética passou a ser produzida em massa a partir de 1936.

Sem dúvida, tratou-se também de uma consideração estratégica, pois a produção do látex natural estava na mão de nações inimigas como a Inglaterra e a França. E para a guerra, a Alemanha precisava de muitos pneus, para os veículos militares, motocicletas e caminhões.

Os nazistas chegaram a construir uma fábrica de borracha até mesmo dentro do campo de extermínio de Auschwitz, a qual, no entanto, nunca chegou a ficar pronta. Sempre em nome da guerra, uma decisão do Congresso liberou mais tarde a patente do Buna para os Estados Unidos.

Desenvolvimento continua

A firma Lanxness, na cidade renana de Dormagen, é atualmente uma das maiores produtoras de borracha sintética do mundo. Criada em 2004, a partir do departamento de química do conglomerado Bayer, ela deve metade de seu faturamento ao material inventado há 100 anos.

Os pneus modernos contêm até 20 tipos diferentes de borracha, inclusive a natural. Os fabricantes protegem suas receitas próprias como segredos de Estado. Eles enfrentam o mesmo desafio técnico de sempre: os pneumáticos devem ser duradouros, porém aderir bem ao solo, para garantir a segurança. Além disso, a resistência à rotação deve ser mínima, o que se reflete também no consumo de combustível.

Hoje existem, ao todo, cerca de 100 variedades diferentes de borracha sintética, com características e empregos específicos. E o desenvolvimento desse produto está longe de se concluir: a cada ano, a Lanxness registra de 20 a 30 patentes só no setor de borracha. Fritz Hofmann, que morreu em 1956, estaria feliz.

Autor: Andreas Becker (av)
Revisão: Simone Lopes