Uma história de família e de países
Lançado no Brasil e na Alemanha, "O Remanescente", de Rafael Cardoso, resgata a história de fuga de sua família para o Brasil, com destaque para seu bisavô, Hugo Simon. Veja fotos de uma história familiar única.
"O remanescente"
Lançado no Brasil pela Companhia das Letras, em "O remanescente", o autor carioca Rafael Cardoso conta a história de emigração de seu bisavô e de sua família, mantida em segredo durante décadas. O livro tem cinco protagonistas e cada capítulo é narrado por um deles. Segundo Cardoso, o personagem principal da "novela" é o seu bisavô, Hugo Simon (1880-1950).
De banqueiro a quase indigente
Banqueiro, colecionador, ministro alemão das Finanças entre 1918 e 1919, amigo de Albert Einstein e Thomas Mann, Hugo Simon (aqui em foto de 1907) terminou seus dias empobrecido. Segundo Rafael Cardoso, em 1933, seu bisavô possuía uma das dez maiores fortunas da Alemanha. "E ele morreu quase indigente no Brasil, sem nenhuma propriedade, sem casa própria."
Passaportes e nomes falsos
Em 1941, Simon e sua família vieram para o Brasil com nomes e passaportes falsos. "Meu bisavô e minha bisavó com passaportes tchecos. Meu avô, minha avó, minha tia-avó e meu pai com passaportes franceses", contou o autor à DW. Na foto, veem-se identificados pelos nomes falsos franceses seu avô (Wolf Demeter), sua avó (Ursula Simon) e seu pai (Roger).
Rafael Cardoso
Cardoso, que vive em Berlim desde 2012, disse que só foi conhecer a verdadeira história da família de seu pai aos 16 anos, quando sua mãe, uma mineira criada no Rio de Janeiro, foi incumbida de lhe dizer: "Olha, seus avós não são franceses, são alemães; seu bisavô era um homem muito rico e importante na Alemanha; e a família de sua avó é judia e você não pode contar isso para ninguém."
Compreender os personagens
Segundo o autor, no livro, o seu principal interesse não foi a história, mas "compreender os personagens, o que sofreram, o que sentiam, o que pensavam". Na foto, veem-se (da esq. para a dir.): a tia-avó Annette Simon, a avó Ursula Simon (com o filho Roger, à frente), homem não identificado, Henny Landsberger (prima delas, segurando o cachorro), a bisavó Gertrud Simon e o avô Wolf Demeter.
Ricos e famosos
Nesta foto do arquivo da família de Cardoso, pode-se ter uma ideia da posição social ocupada por Gertrud e Hugo Simon na Alemanha anterior à era nazista. Da esquerda para direita, veem-se Gertrud Simon (sua bisavó), acompanhada do pintor alemão Max Liebermann, do físico Albert Einstein, do escultor francês Aristide Maillol e de Renée Sintenis, uma das principais escultoras alemãs do século 20.
Hugo Simon: figura humana
Além da figura histórica, Cardoso diz que seu bisavô (na foto em 1940) o fascina também como pessoa. "Não pelo fato de que era amigo de Einstein e tal, mas essa figura humana capaz de superar tudo o que passou e reagir da forma que reagiu." Durante a guerra, Simon foi gerente de uma fazenda de plantas medicinais em Penedo (RJ), continuando um trabalho iniciado na Alemanha.
Um homem à frente de seu tempo
Nos anos 1920, Simon (dir.) comprou a Schweizerhaus (foto), uma fazenda em Seelow, próximo da fronteira com a Polônia, onde cultivava plantas, convidava artistas, fazia experimentos que o tornaram uma figura muito atual. "Ele realmente era um homem do século 21, vivendo no século 20. Uma pessoa que juntava a arte com questões sociais, com a justiça social, com a natureza e questões ambientais."
Schweizerhaus
A fazenda foi coletivizada na ex-Alemanha Oriental e, após a queda do Muro, a família de Cardoso conseguiu reaver a sede da Schweizerhaus, vendendo-a a preço de custo para o município, que a está recuperando como sítio histórico. Em 2013, o autor visitou Seelow. A última pessoa da sua família a pôr os pés ali fora seu bisavô em 1933. "Foi superemocionante", disse o escritor.
"O legado dos bichos-da-seda"
Com o livro, Cardoso diz poder fazer as pazes e fechar um círculo de uma história que estava mal resolvida para todos: uma história de família, uma história de países. O título em alemão "Das Vermächtnis der Seidenraupen" ("O legado dos bichos-da-seda") faz referência ao romance autobiográfico deixado inacabado pelo bisavô Hugo Simon no Brasil: "Seidenraupen" ou "Bichos-da-seda".