1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Uma guerra distante dos latino-americanos

Alberto Methol Ferré/rw

A guerra aconteceu longe e teve pouca relação com a América Latina, diz historiador uruguaio. Mesmo com a mudança dos centros do poder mundial após o conflito, continuou-se a busca pela unificação latino-americana.

https://p.dw.com/p/681j
Foto: AP

"Que os loiros e os amarelos do Norte se entendam. É uma luta de leões pela presa." Este foi o comentário de Luis Alberto de Herrera ao ataque japonês contra a base norte-americana de Pearl Harbor. Herrera era o líder do Partido Nacional do Uruguai, que havia assumido a neutralidade em relação à Segunda Guerra Mundial.

Isto aconteceu na minha pátria, o Uruguai. Uma nação pequena, surgida por intervenção do lorde britânico John Ponsonby em 1828, no Rio da Prata, como Estado-tampão entre o Brasil e a Argentina. Uma operação logo completada com a ocupação das Ilhas Malvinas, para controlar a passagem do Atlântico Sul ao Oceano Pacífico. Dois anos mais tarde, Ponsonby propiciou o surgimento da Bélgica como Estado-tampão no Mar do Norte.

Dívidas

Depois da independência da Espanha, a economia da América do Sul esteve sob influência britânica. Paralelamente ao surgimento dos novos – e fracos – países, nasceu a dívida externa, que existe até hoje.

Ao longo do século 20, a influência da Grã-Bretanha na América Latina foi paulatinamente cedendo lugar aos Estados Unidos. Este processo atingiu seu auge em 1945, na Conferência de Chapultepec, a partir da qual os EUA substituíram em definitivo a Europa como potência colonizadora.

Para nós, o nazismo foi uma forma individualista de racismo, que se opunha ao pensamento universalista. A América Latina, pelo contrário, é o produto da miscigenação de raças propiciada pela missão da Igreja Católica. Nada queríamos saber de "racismos". Lembro que em 1945, quando vi o primeiro filme sobre um campo de concentração, não consegui continuar, deixando logo o cinema.

Racismo

Para mim, o fato mais significativo de 1945 foi a revolta dos trabalhadores argentinos . Eles foram chamados em Buenos Aires de "cabecitas negras", por serem mestiços vindos do interior. Também Perón foi um "cabecita negra" (filho de uma índia). Ele havia recebido apoio do próprio Herrera, com quem me iniciei na política. Mas por que isto é tão significativo? Porque marcou o início da luta pela industrialização na América Latina.

Foi Perón quem definiu, em 1951, a aliança da Argentina com o Brasil de Vargas como um "núcleo básico de aglutinação" da América do Sul, semelhante à aliança entre Alemanha e França para a União Européia. Foi a tentativa fracassada de uma primeira integração, selada 40 anos mais tarde com o Mercosul. Desta vez sem o Chile, que Perón considerava estratégico por causa do acesso ao Oceano Pacífico.

Integração

Do Mercosul e sua integração com a Comunidade Andina, chegamos à recém-fundada Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN). Ela foi assinada no Peru, em dezembro de 2004, no aniversário de 180 anos da vitória na batalha de Ayacucho, o triunfo que selou a independência da América.

Retomamos agora o processo de integração iniciado por Bolívar, San Martin e Artigas. E relembramos sua gênese, ao falar do simbólico ano de 1945.

Alberto Methol Ferré é professor de História da Universidade de Montevidéu, no Uruguai, e autor de vários livros e ensaios sobre a história da América Latina, entre os quais Unión Sudamericana, segunda fase de la Independencia de América del Sur, El Uruguay como problema e La bipolaridad TLC-Mercosur. El destino llama dos veces.