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Um ano após morte de Aylan, pai lamenta situação

2 de setembro de 2016

Pai do menino sírio que virou símbolo da crise migratória critica falta de medidas para solucionar o problema. Unicef afirma que 500 mil menores utilizaram serviços de traficantes para viajar à Europa desde 2015.

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Imagem de Aylan, aqui retratada por artistas em Frankfurt, foi amplamente divulgada em todo o mundo
Imagem de Aylan, aqui retratada por artistas em Frankfurt, foi amplamente divulgada em todo o mundoFoto: picture-alliance/dpa/A. Dedert

Há exatamente um ano, a foto que mostrava o menino sírio Aylan, de três anos, morto numa praia da Turquia, se tornava símbolo da crise dos refugiados e do sofrimento daqueles que fogem de guerras e conflitos em seus países de origem. Pouca coisa mudou desde então, diz o pai de Aylan, Abdullah Kurdi, que além do filho caçula perdeu o mais velho e a esposa durante a viagem rumo à Europa.

Em reportagem do jornal alemão Bild, Kurdi, que agora vive no Iraque, diz que se sente grato pelo fato de a foto de Aylan ter sido divulgada em todo o mundo, para "deixar claro o que está acontecendo". Ao mesmo tempo, ele lamenta que mais não tenha sido feito pelos refugiados.

"Após a morte da minha família, os políticos disseram: 'nunca mais'", lembrou Kurdi. "Todos supostamente queriam fazer alguma coisa após as fotos que os comoveram. Mas o que acontece agora? As mortes continuam e ninguém faz nada."

Ele pede a outras famílias que pretendem se aventurar na perigosa jornada até a Europa, que repensem seus planos. "Quero dizer aos refugiados nos campos de refugiados que eles não devem fazer essa viagem", disse. "O perigo é muito grande, Não vale a pena."

Unicef alerta sobre tráfico de pessoas

No primeiro aniversário da morte de Aylan, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmou nesta sexta-feira (02/09) que, desde janeiro de 2015, ao menos 500 mil menores de idade utilizaram serviços de traficantes de pessoas para entrar clandestinamente na Europa.

O Unicef estima que quase 590 mil menores de idade entraram com pedidos de asilo na União Europeia (UE) nesse período de 18 meses. Levando em conta que a Europol e a Interpol consideram que 90% dos percursos feitos por migrantes até a Europa foram através de traficantes, o Unicef concluiu que meio milhão de crianças e jovens utilizaram os serviços ilegais.

Abdullah Kurdi, pai de Aylan
Abdullah Kurdi, pai de Aylan, pede aos refugiados que não façam a perigosa travessia: "Não vale a pena"Foto: Reuters/G. Gurbuz

Dos quase 600 mil pedidos de asilo feitos por menores, 100 mil foram de crianças ou jovens desacompanhados. O Unicef alerta que esse número pode ser maior, uma vez que os países utilizam diferentes sistemas de registros.

As agências europeia e internacional de polícia estimam que o tráfico de pessoas gere entre 5 bilhões e 6 bilhões de dólares ao ano. Os refugiados pagam, em média, 3 mil dólares pela travessia ilegal.

Desde Aylan, mais de 4 mil morreram no Mediterrâneo

Também nesta sexta-feira, a Organização Internacional para Migrações (OIM) afirmou que cerca de 250 mil menores de idade entraram ilegalmente na Grécia e na Itália em 2015. O total difere dos dados do Unicef porque, apesar das crianças ou jovens terem entrado com pedidos de asilo neste período, muitos deles já estavam anteriormente em solo europeu ou chegaram por rotas terrestres, sem ter cruzado o Mar Mediterrâneo.

A agência da ONU para os refugiados (Acnur), por sua vez, lembrou que a imagem do menino Aylan ajudou a conscientizar as pessoas mundo afora sobre a gravidade do conflito na Síria.

Segundo o órgão, desde Aylan, ao menos 4.176 pessoas morreram no Mediterrâneo, o que significa, em média, 11 mortes por dia nos últimos 12 meses. Apesar de não haver informações sobre o total de crianças mortas, é possível estimar que tenham sido um terço desse total.

Segundo a Acnur, ao menos 281.740 pessoas chegaram à Europa cruzando o Mediterrâneo nos primeiros oito meses de 2016.

RC/ap/efe