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"UE não tem padrão duplo"

Emilia Rojas (ns)31 de julho de 2003

As relações entre Cuba e a União Européia entraram em crise. A DW-WORLD entrevistou sobre a questão Sven K. von Burgsdorff, o representante de Bruxelas em Havana.

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Castro discursa em Santiago, no 50º aniversário da revoluçãoFoto: AP

O esfriamento nas relações entre Cuba e a comunidade dos 15 foi se agravando nos últimos meses, até culminar com as críticas do "máximo líder" no discurso pronunciado por ocasião dos 50 anos da revolução cubana, no último fim de semana (26-27/07). Devido a altas penas de prisão para 75 intelectuais e dissidentes e a execução de três seqüestradores de barcos cubanos, a UE havia decidido limitar seus contatos diplomáticos com Havana.

"Cuba não precisa da União Européia para sobreviver e se desenvolver", disse Fidel em seu discurso, anunciando que renunciará à ajuda da UE. Como ex-potências coloniais, os países europeus seriam co-responsáveis pela miséria no chamado Terceiro Mundo, disse ainda o chefe de Estado.

Em conversa com a DW-WORLD, o representante da UE na capital cubana não quis especular sobre as conseqüências concretas que o anúncio de Castro poderá ter em seu trabalho, mas garantiu que até agora não houve tensões de nenhum tipo e que mantém boas relações de trabalho e pessoais com seus interlocutores em Havana.

Os mesmos critérios para todos

"Nossa intenção é lutar contra a pobreza em todos os países do mundo. Por isso queremos continuar trabalhando aqui, centrando o esforço nas camadas mais necessitadas", expõe Sven Kühn von Burgsdorff que, no mais, remeteu ao comunicado de Bruxelas em reação às amargas palavras de Castro, no 50º aniversário do assalto ao Quartel de Moncada.

A Comissão Européia lamentou a posição do chefe de Estado cubano, mas indicou que não há um comunicado oficial de Havana confirmando que Cuba deseja encerrar a cooperação econômica. De sua parte, a Comissão continua empenhada em continuar prestando ajuda à população. Nos últimos dez anos, a UE destinou a Cuba 145 milhões de euros a título de ajuda ao desenvolvimento.

Comentando o discurso de Fidel, contudo, Von Burgsdorff, disse que a União Européia se orienta por uma postura conjunta. Sua base é o desejo de promover a democracia, os direitos humanos, a economia de mercado e a melhora das condições de vida da população cubana. "Não são condicionamentos; são objetivos políticos e econômicos que também compartimos com outros países", ressalta o representante da UE. Tais critérios, sobretudo os referentes à democracia, aos direitos civis e políticos, "fazem parte de qualquer acordo de cooperação que a União Européia assine com outro país".

Política constante

Em conseqüência, não se aplica a Cuba um parâmetro diferente. "Se você analisa a conduta da UE e de seus membros da Comissão de Direitos Humanos da ONU, e se observa a posição que adotamos com relação a outros países, como a China ou o Zimbábue, poderá confirmar que não existe um padrão duplo", indicou, garantindo que "analisamos a questão dos direitos humanos da maneira mais objetiva possível".

O representante da União Européia em Cuba também refutou as críticas de Fidel Castro quanto à dependência da política européia dos Estados Unidos, embora acrescentasse estar acostumado a essas interpretações. Como exemplo, frisou que "na ONU votamos, durante os últimos dez anos, sempre a favor da resolução cubana contra o embargo estadunidense". Em suma, Sven K. von Burgsdorff considera bem clara a política da União Européia: "É uma política contra as sanções econômicas, mas a favor dos direitos humanos, em qualquer país do mundo, também em Cuba".