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"Triagem da Germanwings avalia até infância de pilotos"

Timothy Jones (md)27 de março de 2015

Especialista diz que testes da companhia levam em conta, além de perfil profissional e psicológico, detalhes como histórico de infrações de trânsito e relações familiares. Para ele, caso de copiloto é "excepcional".

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Foto: picture-alliance/dpa

Michael Müller é diretor executivo da ATCC, empresa que prepara candidatos para testes de seleção de pilotos de avião. Em entrevista à Deutsche Welle, o especialista afirma que, embora as companhias de aviação na Alemanha não sigam um procedimento padrão para aprovar seus pilotos, as provas de seleção são consideradas mundialmente confiáveis.

Isso vale tanto para atestar a aptidão técnica, quando para garantir que somente profissionais psiquicamente saudáveis sejam aprovados, diz. "O que aconteceu agora deve ter sido um caso absolutamente excepcional", opina, se referindo à queda do voo 4U-9525, da Germanwings, supostamente causada propositalmente pelo copiloto.

Deutsche Welle: Existem normas internacionais relativas a testes psicológicos para pilotos que as companhias aéreas alemãs devem respeitar?

Michael Müller: Não existem padrões internacionais para isso. Cada companhia aérea define seu próprio processo de recrutamento.

Isso significa que Lufthansa e Air Berlin, por exemplo, realizam testes distintos?

Exatamente. Existem diferentes processos de seleção. O teste do DLR [sigla em alemão para Centro Aeroespacial Alemão], pelo qual os pilotos da Lufthansa têm que passar, é um dos mais famosos e, provavelmente, um dos melhores do mundo. Ele é empregado por diversas empresas. Mas também existem outros métodos. As companhias aéreas escolhem o que acham melhor.

O que esses testes incluem?

Eles testam habilidades cognitivas, ou seja, o que uma pessoa pode realizar em comparação com o desempenho de um computador. Também é verificada capacidade de compreensão, assim como o perfil psicológico, a empatia, a assertividade, entre outras coisas.

Também contam a capacidade de gerenciar situações de estresse e de trabalhar em equipe, ou seja, se o piloto é capaz de trabalhar em dupla, de modo que duas pessoas possam alcançar juntas mais do que uma sozinha, especialmente numa situação crítica.

Além disso, conhecimentos específicos também desempenham um papel importante nos testes de recrutamento, como matemática, física e inglês.

Os antecedentes dos candidatos também são analisados, ou seja, se eles já estiveram em tratamento por problemas psicológicos ou coisas do tipo?

Sim, claro, é necessário um exame médico detalhado. O passado também é analisado do ponto de vista médico. Mas o histórico pessoal também desempenha um papel importante nos procedimentos gerais de seleção, especialmente nas entrevistas. Isso inclui as origens do candidato, experiências anteriores, o que fazem os pais, relações familiares. Tenta-se saber como o candidato cresceu, se teve um desenvolvimento normal e assim por diante.

Tudo é cuidadosamente verificado, até as coisas mais práticas, como quantos pontos a pessoa tem na carteira de motorista, se ela chamou atenção no passado por algum comportamento. Esse é um padrão mundial.

E tais testes são adequados para identificar pessoas com problemas psicológicos?

Os testes são bastante adequados, especialmente o teste do DLR, que vem sendo usado pela Lufthansa há muitos anos. Ele é líder absoluto do mundo em termos de tolerância para falhas que, também segundo nossa avaliação, é bastante baixa. Via de regra, um candidato que foi considerado apto pelo DLR é realmente apto. É o que também demonstra o fato de que há apenas correções mínimas posteriores. Se um candidato passa pelo processo de seleção e, depois, levanta suspeita durante o treinamento, parecendo não corresponder à norma, aplicam-se medidas bastante restritivas. Não há margem de manobra. Por isso, o que aconteceu agora, deve ter sido um caso absolutamente excepcional.

Como o senhor descreveria o estado psicológico do piloto ideal?

Essa é uma pergunta difícil. Isso está simplesmente relacionado ao fato de que os perfis psicológicos dos pilotos são geralmente bastante diferentes, como em outras empresas ou mesmo em outras profissões. Mas o que certamente é importante é uma personalidade estável, formada com base num histórico social sólido, na maneira como a pessoa cresceu.

O desenvolvimento anterior é um fator importante, mas um piloto precisa ter uma personalidade sólida. Ele deve ser empático, ou seja, ser capaz de compreender os pensamentos do próximo, por exemplo, dos seus colegas. Mas um piloto também deve ser assertivo, porque sua tarefa não é apenas operar sistemas, monitorar instrumentos, ela deve também observar o seu capitão.

Um copiloto está, na hierarquia, informalmente situado abaixo do capitão, porque ele não necessariamente tem tanta experiência. Mesmo assim, ele deve ser capaz de corrigir o capitão, quando este comete um erro. Esse é o dever do copiloto, o que pode parecer mais fácil do que realmente é.

Por isso, nos testes de aptidão, o candidato deve se mostrar uma pessoa sensível, empática, em estado psicológico saudável. Por outro lado, deve ser suficientemente assertivo para eventualmente tomar medidas corretivas e, numa emergência, ir contra o capitão, quando este comete um erro. As companhias aéreas querem que os pilotos atendam a uma ampla gama de requisitos, e, na seleção do método usado para triagem de profissionais, tentam assegurar que os candidatos realmente tenham essas características.