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Theresa May em busca de aliados

28 de janeiro de 2017

Premiê britânica visita presidente turco em Ancara, após encontro com Donald Trump. Para críticos, no entanto, ela corre o risco de perder foco sobre direitos humanos na Turquia e se tornar dependente de Washington.

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Premiê britânica Theresa May e presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em Ancara
Premiê britânica Theresa May e presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em AncaraFoto: Reuters/Y. Bulbul

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, prometeu ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, neste sábado (28/01) em Ancara, que irá tomar medidas para ampliar o comércio entre o seu país e a Turquia com vista ao Brexit, a saída de Londres da União Europeia (UE).

May conversou com Erdogan durante três horas, procurando alcançar um equilíbrio delicado entre ampliar os laços comerciais com os turcos, após a votação de junho do ano passado que estipulou a saída do seu país da UE, e transmitir as preocupações europeias frente às medidas tomadas pelo governo em Ancara após a tentativa de golpe de Estado em julho último.

Após se encontrar com Erdogan em seu palácio, May declarou estar "orgulhosa" de que o Reino Unido tenha ficado do lado do governo eleito democraticamente na Turquia durante a tentativa de golpe. Mas ela também acrescentou: "Agora é importante que a Turquia ampare essa democracia, sustentando o Estado de Direito e cumprindo as suas obrigações internacionais frente aos direitos humanos."

No Reino Unido, no entanto, alguns parlamentares instaram May a não deixar que o interesse comercial ofusque as preocupações com os direitos humanos na Turquia. "O governo conservador do Brexit está tão desesperado por acordos comerciais com qualquer país exceto as maduras democracias da União Europeia que até os governantes mais repugnantes estarão sujeitos ao charme da primeira-ministra", escreveu a deputada liberal-democrata Sarah Olney no jornal The Guardian.

Elogio ao Brexit

Donald Trump e Theresa May, em Washington
Donald Trump e Theresa May, em Washington: críticos apontam para uma dependência do Reino Unido frente aos EUA após BrexitFoto: Reuters/K. Lamarque

O tom de equilíbrio propagado por May em Ancara também foi escutado durante a visita da premiê britânica ao novo presidente americano. Os dois sabem que precisam um do outro. Assim como Trump, May também está à procura de aliados para um Reino Unido pós-Brexit.

Durante a visita, Trump elogiou a decisão dos britânicos de sair da União Europeia como sendo "uma coisa fantástica". Quando Londres deixar a UE, "vocês terão a sua própria identidade, e vocês vão ter em seu país somente as pessoas que desejam", disse o presidente, apontando que, além disso, Londres poderá negociar acordos comerciais de forma independente.

Essa declaração foi particularmente importante para May, pois ela sabe que seu país precisa dos Estados Unidos, principalmente como parceiro comercial, já que de outra forma, o Reino Unido – internamente dividido – ficará isolado após o Brexit. Como Londres não pretende deixar somente a UE, mas também o mercado comum europeu, o país se encontra particularmente dependente dos EUA. Nesse ponto, May veio a Washington antes como uma solicitante.

Os dois líderes afirmaram que a cooperação econômica deve ser melhorada, a fim de criar postos de trabalho em ambos os países. Na coletiva de imprensa realizada com seu primeiro convidado internacional, Donald Trump destacou expressamente: "Na história, a especial relação entre os nossos dois países foi uma das grandes forças para a justiça e a paz."

Os Estados Unidos renovam o "seu compromisso profundo com o Reino Unido", acrescentou o presidente americano.

Para quem e onde?

O que muda no comércio e na migração do Reino Unido?

Tais afirmações levaram o jornal alemão FAZ a indagar, em editorial, após o encontro em Washington: "Segundo o desejo de Theresa May, juntos o Reino Unido e os Estados Unidos devem assumir novamente o papel de líderes. Mas conduzir quem e em que setores?"

Para a publicação alemã, o propósito de May é fazer com que seu país substitua a Alemanha como principal parceiro americano. "Como nos velhos tempos", apontou a publicação, ressaltando, no entanto, que disso resulta uma série de perguntas: "Quem eles querem comandar? O Ocidente e seus valores comuns, que têm pouca importância para um Trump 'favorável à tortura'? A Europa, a quem o Reino Unido dá as costas e com quem o presidente americano pouco se importa?"

O jornal questionou ainda: "Em quem setores querem comandar? Na economia? No comércio, Trump se apresenta como um vingador protecionista, enquanto May sonha com um Reino Unido novamente global, sem querer perceber a importância do mercado europeu para a economia do seu país. Na segurança? Com tendência para a isolação, Trump considera a Otan algo antiquado. Mas, até agora, a Aliança Atlântica foi central para Londres."

"Estamos vivendo o desmantelamento da antiga ordem", escreveu o FAZ, "e May se candidata agora ao cargo de assistente do novo homem forte. Vamos ver até onde vai o bilateralismo", concluiu.

CA/afp/dpa/rtr/ots