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Djihad digital

5 de novembro de 2010

Para pregar valores da Idade Média, eles recorrem à mais moderna tecnologia. Portais de vídeo e redes sociais são veículos preferenciais de grupos radicais islâmicos para o recrutamento de novos membros.

https://p.dw.com/p/PylS
Foto: AP/DW

O vídeo do YouTube mostra quatro homens de longas túnicas, os rostos cobertos por máscaras de tecido negro, treinando chaves de braço, ataques com armas brancas e de fogo. Trata-se de um filme de propaganda da Al Qaeda e usuários de todo o mundo podem assisti-lo, baixá-lo, relincar.

Guerra de propaganda digital

Anwar al-Awlaki
Anwar Al-Awlaki, o 'Bin Laden da Internet'Foto: dapd

A internet é um dos meios preferidos dos extremistas muçulmanos em todo o mundo. Através de blogs e de plataformas como o YouTube e o Facebook, eles divulgam vídeos violentos e mensagens de ódio. Já se pode falar de uma guerra de propaganda digital.

O pesquisador Mansour Al-Hadj, especialista em terrorismo do Middle East Media Research Institute em Washington, dedica-se a observar e analisar sites e blogs extremistas.

"Eles sabem o que estão fazendo, e o fazem com muita eficiência. Têm seus próprios fóruns da Djihad [termo comumente traduzido como "guerra santa". "Guerra interna" seria mais correto], também utilizam o YouTube para voltar a difundir o que já foi publicado em outros locais, a fim de atingir um público mais amplo. Eles usam o Facebook e também enviam e-mails em grupo", comenta.

"Dever de todo muçulmano"

Uma presença constante no meio virtual é Anwar Al-Awlaki. O radical religioso natural do Iêmen é cidadão norte-americano e um dos suspeitos de terrorismo mais procurados de todo o mundo. Quando, em 2009, seu website pessoal foi fechado pela operadora de internet californiana que o hospedava, Al-Awlaki passou a blogar.

Conectado com outras plataformas globais, ele é também conhecido como o "Bin Laden da internet". "O YouTube foi o veículo mais importante para a difusão de suas ideias. E como ele fala muito bem inglês, decidiu usar essa plataforma para alcançar um público mais amplo", conta Al-Hadj.

Drohvideo von El Kaida gegen Deutschland
Vídeo da Al Qaeda contra a AlemanhaFoto: picture alliance / dpa

A busca por "Al-Awlaki" no portal de vídeos acusa quase 5 mil entradas. Um clip de março de 2010 o mostra de óculos sem aro e túnica de algodão branco, bradando contra os Estados Unidos e conclamando à guerra: "Não conseguia conciliar estar vivendo nos EUA e ser muçulmano, e a certo ponto cheguei à conclusão que a Djihad contra a América é meu dever, assim como o de todo muçulmano".

Após a recente detecção de bombas em aeronaves provenientes do Iêmen, o YouTube desativou alguns desses clips, sob pressão dos EUA e do Reino Unido. Mas muitos outros continuam na plataforma, alguns deles com legendas em alemão. Peritos de segurança alertam que os radicais islâmicos dirigem sua propaganda com intensidade crescente contra a Alemanha.

Alemanha na mira

O especialista em segurança Philipp Holtmann, do Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança (SWP), afirma: "O público da propaganda da Djihad não se compõe apenas de islamitas, como também de convertidos que, justamente por isso, vivem uma interpretação muito mais rígida do Islã do que os muçulmanos crescidos nessa cultura".

O cientista político observa como extremistas do Paquistão usam a propaganda de internet para recrutar pessoas na Alemanha, sobretudo jovens. "Geralmente formam-se pequenos grupos em centros comunitários ou locais de oração. Eles então se encontram, conversam a respeito, vão se inflamando, baixam material da internet, assistem-no juntos, talvez vão para a floresta e treinem em conjunto."

Alguns deles acabam por fazer o caminho até a região montanhosa paquistanesa do Warizistão. Próxima à fronteira com o Afeganistão, ela é conhecida como zona de retiro para terroristas islâmicos. No momento, as autoridades de segurança alemãs observam mais de 70 pessoas formadas nos campos terroristas da região. Segundo consta, cerca da metade delas está de volta à Alemanha.

Autoria: Julia Hahn (av)
Revisão: Alexandre Schossler