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Terrorismo no cinema alemão

lk5 de setembro de 2002

O terrorismo de esquerda incorporado pela Fração do Exército Vermelho (RAF), que teve seu auge há 25 anos, foi e é trabalhado por inúmeros diretores alemães em seus filmes.

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Christopher Roth (esq.), diretor de "Baader"

Baader, filme de Christopher Roth que estreou na Berlinale deste ano e vai ser lançado nos cinemas em fins de setembro, é a mais recente produção cinematográfica alemã a trabalhar o tema do terrorismo no país. Abordando a vida de Andreas Baader entre 1967 e 1972 numa montagem de cenas de ficção com imagens de noticiários da época, o filme tem a intenção de desmitificar a figura do terrorista, mas acaba estilizando-o como um gângster.

Luta armada contra o Estado

A radicalização de alguns representantes dos movimentos estudantis de 1968, a partir do início da década de 70, levou ao surgimento da Fração do Exército Vermelho (RAF) e movimentos seguidores, que declararam guerra ao "imperialismo e ao monocapitalismo" de que a Alemanha seria representante.

Uma série de atentados, seqüestros e assassinatos praticados por membros do movimento teve seu auge em 44 dias dos meses de setembro e outubro de 1977, que ficaram conhecidos como "Outono Alemão": o seqüestro e assassinato do então presidente da entidade patronal da Alemanha, Hanns-Martin Schleyer; seqüestro de um avião da Lufthansa, cujos passageiros foram libertados somente após cinco dias em Mogadíscio, capital da Somália; suicídio de três terroristas em suas celas, entre os quais Andreas Baader.

O Outono Alemão já serviu de inspiração para a realização de inúmeras amostras especiais do cinema alemão no exterior, como a que está sendo promovida a partir de 12 de setembro pelo Instituto Goethe de Estocolmo. Muitos dos filmes que compõem este programa foram mostrados em ocasião anterior em Lisboa, também pelo Instituto Goethe.

A busca do cinema por imagens adequadas

Rainer Werner Fassbinder aproximou-se do tema por meio de uma farsa: seu filme A Terceira Geração (Die dritte Generation, 1979), em que os terroristas são apresentados como patricinhas e mauricinhos pirados, cujas ações mais parecem um carnaval absurdo. "Eu não jogo bombas. Eu faço filmes", foi sua justificativa.

Stammheim

(1985), de Reinhard Hauff, é uma reconstrução do julgamento, em 1975, de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhof e Jan-Carl Raspe, as principais figuras do movimento terrorista. Stammheim é o nome do bairro de Stuttgart onde ficava a prisão na qual Meinhof se suicidou ainda durante o julgamento, e os demais, ao final do "outono" de 1977. Na Berlinale de 1986, o filme foi contemplado com um controvertido Urso de Ouro.

Por que uma pessoa se torna terrorista é uma questão que interessa pouco os cineastas. Eles preferem retratar os efeitos do terrorismo sobre a sociedade ou tematizar as circunstâncias que levam à escalada da violência. É o caso de A Honra Perdida de Katharina Blum (Die verlorene Ehre der Katharina Blum, 1975), filmagem de uma obra do Nobel de Literatura Heinrich Böll, e de Alemanha no Outono (Deutschland im Herbst, 1978), ambos de Volker Schlöndorff.

O Tempo de Chumbo

(Die bleierne Zeit, 1981), de Margarethe von Trotta, é a tentativa de retratar a personalidade de Gudrun Ensslin, que era filha de um pastor luterano. O documentário Black Box BRD (2001) contrapõe as trajetórias do banqueiro Alfred Herrhausen, que morreu em 1989 num atentado a bomba, e do terrorista Wolfgang Grams, que morreu em 1993 ao ser preso.

Dois filmes mais recentes mostram a tentativa de ex-terroristas de retorno a uma vida normal: O Silêncio após o Tiro (Die Stille nach dem Schuss, 2000), de Volker Schlöndorff, e A Segurança Interna (Die innere Sicherheit, 2000), de Christian Petzold. Este último ganhou em 2001 o Prêmio do Cinema Alemão em Ouro como melhor filme do ano.