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"Taxa de desemprego na Alemanha é manipulada"

4 de janeiro de 2018

Embora governo aponte que mercado de trabalho está a todo vapor, com a menor taxa de desemprego desde a Reunificação, estatísticas oficiais não têm nada a ver com realidade econômica alemã, afirma economista.

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Segundo o economista Heinz-Josef Bontrup, a taxa de desemprego real é de aproximadamente 10% na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte

Segundo a Agência Federal de Emprego da Alemanha, a taxa de desemprego no país é a menor desde a Reunificação, em 1990. Em 2017, o governo registrou em média 2,5 milhões de pessoas sem trabalho, o que representa 158 mil pessoas a menos que no ano anterior. A taxa de desemprego caiu de 6,1% em 2016 para 5,7% no ano passado.

No entanto, para Heinz-Josef Bontrup, professor de economia da Westfälische Hochschule, não se pode confiar nos dados governamentais. "Os números são manipulados. A política não tem interesse em dizer a verdade às pessoas", afirma.    

Segundo o especialista em economia laboral, as estatísticas não refletem a verdadeira situação da economia alemã, e a política tem mudado, por meio de leis, a definição de desemprego. "Uma manipulação tão maciça beira o emburrecimento populacional", critica.  

DW: O senhor se refere às estatísticas sobre o desemprego como "emburrecimento populacional". Por quê?

Heinz-Josef Bontrup: Porque os números são manipulados. Não pela Agência Federal de Emprego da Alemanha, que apenas compila e publica. Mas a política mudou, por meio de várias leis, a definição de desemprego, que está regulamentada no Código Social. O resultado: os números não mostram o real desemprego e, consequentemente, a verdadeira preocupação social com pessoas desempregadas na Alemanha não é manifestada.

O que falta nas estatísticas oficiais?

Nas estatísticas faltam, por exemplo, as pessoas com 58 anos ou mais. A política argumenta que essas pessoas são menos propensas a serem inseridas no mercado de trabalho, e, por isso, podem ser retiradas [das estatísticas].

Desempregados que realizam cursos de aprimoramento profissional por meio da Agência Federal de Emprego da Alemanha também não são listados como desempregados. E quando uma pessoa desempregada comunica que está doente à sua respectiva repartição da Agência Federal de Emprego, também não é mais considerada desempregada.

O mesmo ocorre com os chamados trabalhadores de um euro [programa da Agência Federal de Emprego da Alemanha de realocação no mercado de trabalho para pessoas desempregadas que recebem uma renda básica do governo – popularmente conhecida como Hartz 4].

Todas essas pessoas estão, de fato, sem emprego, mas não constam nas definições de desemprego das estatísticas oficiais. Estas são manipulações graves, pelas quais a política é responsável.

Considerando-se todas essas pessoas, qual seria então o número de desempregados?

Tivemos quase 2,4 milhões de desempregados registrados em novembro. Pode-se adicionar quase um milhão de pessoas oficialmente não definidas como desempregadas.

Heinz-Josef Bontrup
Bontrup: "Nos últimos anos, houve várias mudanças legislativas para redefinir o que são desempregados"Foto: Ulrich Zillmann

Então, seriam 3,4 milhões...

Para a Agência Federal de Emprego da Alemanha, este um milhão adicional são subempregados. Mas o termo está errado, subemprego é outra coisa. Subempregados são pessoas que, por exemplo, têm uma carga semanal de trabalho de 20 horas, mas que desejam trabalhar 30 horas ou mais por semana – estas estão subempregadas.

Desde a Reunificação da Alemanha, o volume total de trabalho permaneceu constante, e é aproximadamente de 60 bilhões de horas por ano. Mas este volume é distribuído de maneira completamente diferente do que antes.

Atualmente, mais pessoas trabalham, mas apenas porque a proporção de pessoas em ocupações parciais aumentou acentuadamente, e a dos trabalhadores em tempo integral caiu. Por exemplo, a taxa de emprego em funções com carga de trabalho reduzida aumentou de 17,9% em 1991, para 37,5% em 2016, enquanto a taxa de emprego em tempo integral diminuiu de 82,1% para 62,5%.

Muitos veem isso como um sinal de flexibilização do mercado de trabalho. Nem todos podem ou querem trabalhar em tempo integral.    

Isso é verdade. Mas há estudos que dizem que cerca de três milhões de pessoas que trabalham em cargos parciais e, desta forma, estão subempregadas, gostariam de trabalhar mais. Adicione estas pessoas aos 3,4 milhões de desempregados mencionados acima, e já estamos em 6,5 milhões de pessoas desempregadas e subempregadas na Alemanha. Isso reflete todo o desastre no mercado de trabalho alemão.

Quais são os custos decorrentes?

A Agência Federal de Emprego da Alemanha realiza análises sobre a questão desde 2001. Segundo a agência, os custos fiscais do desemprego em massa na Alemanha de 2001 a 2015 [dados mais recentes não estão disponíveis] foram de cerca de 69 bilhões de euros por ano. Em contrapartida, a dívida total do governo alemão foi, em média, de 43 bilhões de euros por ano no mesmo período.  

Pode-se afirmar, portanto, que, se houvesse uma economia totalmente empregada na Alemanha desde 2001, o Estado não teria precisado pegar um euro extra em crédito desde 2001, mas teria alcançado um superávit de 26 bilhões de euros. Isso reflete todo o drama macroeconômico do desemprego em massa na Alemanha.

A política define as referências para as estatísticas de desemprego e, ao mesmo tempo, tem interesse em números baixos porque isso é considerado um sinal de políticas bem-sucedidas.

Sim, claro, esta é a principal motivação da política. Nos últimos anos, houve várias mudanças legislativas para simplesmente redefinir o que são desempregados. Mas o desemprego não é apenas representado em números absolutos, mas também relativamente, como a taxa de desemprego. E aqui jaz a próxima manipulação. A taxa é um quociente, ou seja, uma fração. Quanto maior o denominador pelo que se divide, menor a taxa de desemprego.

A Agência Federal de Emprego da Alemanha tem duas taxas de desemprego, e o denominador é artificialmente inflado em ambas. A primeira inclui toda a força laboral – não apenas aqueles trabalhadores que, quando perdem seus empregos, são registrados como desempregados, mas também todos os funcionários públicos [que não estão ameaçados de desemprego] e todos os autônomos [que, via de regra, também não ficam desempregados]. Na segunda taxa, a agência exclui os autônomos, mas mantém os funcionários públicos na equação.

Em novembro, a agência apontou a primeira taxa de desemprego em 5,3%, e a segunda, em 5,9%. Se calcularmos corretamente, ou seja, no numerador os desempregados desconsiderados pela legislação e embaixo, no denominador, apenas os trabalhadores que podem realmente ficar desempregados, teríamos uma taxa de desemprego de cerca de 10% na Alemanha. E, além disso, há cerca de três milhões de trabalhadores em funções parciais que gostariam de trabalhar em tempo integral e nem foram contabilizados.

Existem países que apresentam números mais honestos?

Na União Europeia (UE), os países se comportam da mesma forma. Há também os números da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas suas estatísticas de desemprego são ainda piores e mais manipuladas. Elas não consideram desempregados, mas os chamados desocupados. Para a OIT, uma pessoa não está desempregada se ela trabalha ao menos uma hora por semana. Isso só pode ser considerado cínico.

Dessa forma, as taxas de desemprego são computadas baixas demais também a nível internacional. Infelizmente, os economistas estão usando essas taxas totalmente equivocadas e manipuladas para comparar o desemprego entre os países. Não tenho compreensão alguma perante uma manipulação tão maciça, que, de fato, beira o emburrecimento populacional.

Apesar dos argumentos citados, ninguém parece se importar com as estatísticas de desemprego. A cada mês, os dados são discutidos por especialistas e com eles é feita a política. Por quê?

Porque a política não tem interesse em dizer a verdade às pessoas. Soa muito melhor quando posso dizer que a quantidade de desempregados está retrocedendo e o número de trabalhadores segue crescendo. Mas, como eu disse, é manipulador, e não tem nada a ver com a realidade econômica.

Além disso, em defesa dos interesses dos donos de capital, a política não quer a plenitude empregatícia. Isso só fortaleceria os interesses dos trabalhadores e o poder dos sindicatos. Portanto, no fim das contas, existe uma maciça falha por parte da política. E nossos representantes deveriam ser responsabilizados por isso.

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