1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Tártaros pedem apoio à Turquia

Senada Sokollu (msb)8 de março de 2014

Minoria muçulmana de origem turca que vive na península no Mar Negro é contra uma integração da região à Rússia, em grande parte devido à história de perseguição sofrida por seus antepassados.

https://p.dw.com/p/1BLRB
Ukraine Demonstration auf dem Krim Simpheropol
Foto: picture-alliance/dpa

Com o conflito entre Ucrânia e Rússia em torno da Crimeia tomando proporções cada vez maiores, cresce a preocupação com uma eventual independência da península ucraniana – sobretudo entre os cerca de 300 mil tártaros que vivem na região.

Eles são descendentes da população que durante os 300 anos de dominação do Império Otomano sobre a Crimeia aderiu ao islamismo e adotou a língua turca. Por isso os tártaros, que correspondem a 13% da população da península, são considerados parte do povo turco.

Ancara se sente ligada etnicamente e culturalmente a esses turco-crimeanos, como são chamados na Turquia, e se esforça para buscar uma solução pacífica para o conflito.

Ancara promete apoio

No início desta semana, o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmed Davutoglu, reuniu-se com 50 representantes de associações de turco-crimeanos em Ancara. Durante o encontro, o ministro garantiu que a Turquia estará sempre ao lado dos tártaros que vivem na península. "Sempre que houver irmãos e irmãs nossos sofrendo, seremos os primeiros a ajudá-los", afirmou Davutoglu.

O ministro havia estado em Kiev pouco antes, onde conversou com representantes do novo governo da Ucrânia. Ele ressaltou que a integridade do país precisa ser assegurada, mas evitou críticas à Rússia e pediu que se buscassem caminhos diplomáticos para uma saída pacífica para o conflito.

Krim Tataren 2009
Tártaros são descendentes da população turca que dominou a península durante Império OtomanoFoto: picture-alliance/dpa

Ainda como parte dos esforços diplomáticos empenhados pela Turquia, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan conversou por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin. Erdogan teria advertido Putin sobre uma desestabilização na região e pedido ao Kremlin que possibilite um convívio harmônico entre ucranianos, tártaros e russos.

Kiev deseja a intermediação da Turquia no impasse. Segundo a agência turca de notícias Cihan, a Embaixada da Ucrânia em Ancara solicitou ao governo turco que se some aos esforços internacionais para evitar uma escalada do conflito com a Rússia. Os ucranianos teriam alertado por e-mail que os tártaros da Crimeia estão correndo "grande perigo" caso a Rússia assuma definitivamente o controle da península.

Tema presente na Turquia

Tais alertas não estão sendo ignorados na Turquia. Os turco-crimeanos têm estado cada vez mais no foco da mídia turca na cobertura sobre os recentes acontecimentos na península. Ao mesmo tempo, representantes dos tártaros tentam ganhar voz junto à opinião pública na Turquia.

"Manifestantes já foram às ruas protestar em Ancara, Istambul, Antália e outras cidades turcas. Tudo organizado pela Associação da Crimeia na Turquia", relata o professor de história Hakan Kirimli, de origem tártara.

Os cerca de cinco milhões de tártaros que vivem na Turquia estão furiosos com os desenrolar dos últimos acontecimentos políticos, explica Kirimli, que também é integrante da associação em Ancara. "Eles protestam contra a invasão russa em seu país natal, a Ucrânia, e defendem a preservação da integridade territorial dele", afirma.

Ahmet Davutoglu
Ministro turco do Exterior, Ahmed Davutoglu, prometeu apoio aos "irmãos" turcos da CrimeiaFoto: picture-alliance/dpa

O especialista ressalta que os tártaros são claramente contrários à anexação da Crimeia à Rússia: "A razão dessa postura anti-Rússia é a experiência ruim que eles tiveram durante o domínio russo, que durou mais de 200 anos. Eles temem que a história possa se repetir, por isso se preocupam tanto com o futuro."

Sentimento enraizado

A Crimeia pertenceu ao Império Otomano entre 1475 e 1774. Somente após a guerra russo-turca (1768-1774), a península no Mar Negro conseguiu a independência. Mas essa condição não durou muito tempo. "Em 1783 o Império Russo anexou a Crimeia e fez dela uma província russa", conta o historiador Kahraman Sakul.

Em 1944, Stalin assinou uma lei pela qual os tártaros da Crimeia foram considerados traidores da União Soviética por alguns grupos da etnia terem lutado ao lado do Exército nazista. "Todos os tártaros foram expelidos da península. Somente a partir de 1990, após o fim da URSS e da consequente independência da Ucrânia, eles começaram a retornar para a Crimeia", explica Sakul.

De acordo com o historiador, os ucranianos apoiaram a ocupação dos tártaros na península, uma vez que a presença russa era bastante forte. "Eles queriam ter mais tártaros na península e, assim, obter um melhor balanço com a população russa. E, claro, ucranianos e tártaros estão unidos contra a infiltração russa na região."

Russische Kriegsschiffe auf dem Weg ins schwarze Meer
Navio de guerra russo cruza o Bósforo, em Istambul: turcos não querem estremecer relações com PutinFoto: picture-alliance/dpa

Sem desgaste com Moscou

As relações entre turcos e ucranianos baseiam-se principalmente nas políticas ligadas ao interesse dos tártaros, afirma Sakul. "A partir de 1990 a Turquia passou a investir bastante na área cultural. Os ucranianos também apoiaram projetos culturais. Há muitas associações tártaras na Ucrânia que servem como ponte entre o país e a Turquia. É uma política de preservação em conjunto por meio de investimentos culturais", afirma o historiador.

A Turquia é contra uma intervenção da Rússia na Ucrânia, mas também não quer ver um desgaste nas relações com Moscou. Davutoglu ressalta que o país não quer que a crise da Crimeia se transforme em um problema entre turcos e russos. Mas ofereceu ajuda para "melhorar as relações entre russos e ucranianos".

Também os tártaros da Crimeia querem evitar um conflito. Eles sabem que seriam as primeiras vítimas, avalia Halan Kirimli. "Além disso, eles conhecem o ódio dos militares russos contra a etnia deles. Por isso ninguém quer guerra."