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Supermercado da velha guarda

Maristel Alves dos Santos10 de abril de 2005

Em Brandemburgo, um supermercado contrata só funcionários em idade avançada. Medida gerou polêmica e aumentou a clientela.

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Terceira idade no supermercado: identificação entre clientes e funcionáriosFoto: BilderBox

"Não está enxergando o preço do açúcar? Aqui, pode usar meus óculos." Assim um funcionário da rede de supermercados Netto, em Neuruppin, no Estado de Brandemburgo, se dirigue ao cliente. Essa "gentileza entre coroas", que parece antiquada, tem conquistado a freguesia e está derrubando a concorrência.

O caso do Netto é uma exceção. A maioria das empresas alemãs costuma contratar funcionários na base do "quanto mais jovem melhor". Quem termina a faculdade com 25 já precisa se desculpar na entrevista de emprego. A faixa etária "baixou tanto o nível" que algumas firmas deveriam ser denunciadas por prática ilegal de trabalho infantil.

Indo na contramão das supostas exigências do mercado, a filial da rede Netto adotou uma filosofia de trabalho que, além de agradar aos clientes, é solidária com quem procura emprego carregando algumas rugas no currículo.

Proibido para menores de 48

Erste Kassen ohne Kassiererin in Brandenburg
Não só de tecnologia vive um supermercadoFoto: dpa Zentralbild

Eles dançaram ao som dos Beatles, viram o homen pisar na Lua e conheceram Helmut Kohl magro, no começo de carreira política. Seja no caixa ou para arrumar as preteleiras, a filial do Netto não contrata ninguém com menos de 48 anos.

"Os mais velhos têm tanta energia quanto os jovens. São motivados, fazem hora extra e quase nunca ficam doentes. Se precisar, eles vêm trabalhar de braço engessado", contou a gerente, Monika Giesen.

A experiência que começou há dois anos tem dado o que falar e ótimos resultados. Em tempos de tecnologia, os serviços oferecidos no supermercado da terceira idade tornaram-se exclusidade da casa e conquistaram o público.

Simpatia de avó, energia de criança

Supermercados são uma correria, ninguém tem tempo para o cliente e a paciência foi riscada das prateleiras. Mas no Netto é diferente. Quem pergunta pela farinha, sai de lá com o produto e uma receita de bolo de nozes da vovó.

"Eles ajudam, são atenciosos. Em outros supermercados é tudo impessoal." "Seria ótimo se outras lojas adotassem a mesma filosofia." É o que dizem fregueses satisfeitos com o atendimento, lembrando que o cliente sempre tem razão.

Gisela Mischel já foi freguesa. Gostou tanto do supermercado que agora ganha mil euros por mês, trabalhando no caixa. "Gosto de conversar com os colegas e com os clientes. Aqui sinto-me útil, ativa e mais viva", explica Mischel, de 58 anos, com cachinhos grisalhos e energia de professora de aeróbica .

Fleisch- und Wurstabteilung in einem Supermarkt
Atenção ao cliente, uma virtude da filial da rede NettoFoto: Bilderbox

Gisela Mischel provavelmente jamais teria conseguido trabalho em outra firma. A Alemanha tem 5,2 milhões de desempregados (12,5% da população economicamente ativa). E as dificuldades de arrumar emprego são proporcionais à idade de quem o procura. Pessoas com mais de 50 anos são consideradas antiquadas, sujeitas a doenças e inflexíveis.

A filial de Neuruppin tem mostrado como este preconceito é infundado. E quem investiu mais em computadores do que na simpatia e paciência humana – qualidades inerentes, principalmente, a quem já passou dos 50 – deve começar a repensar seus conceitos. Além do mais, num país onde a população envelhece e os jovens tornam-se escassos, iniciativas como a do Netto são, além de solidárias e simpáticas, extremamente adequadas ao quadro mercadológico atual e futuro da Alemanha