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Primeira presidente eleita

Eva Usi (as)29 de outubro de 2007

A manutenção dos bons resultados econômicos será determinante para o sucesso da presidente eleita da Argentina, afirma o cientista político alemão Nikolas Werz, da Universidade de Rostock.

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Cristina Kirchner é a primeira mulher a ser eleita para a presidência da ArgentinaFoto: AP

A senadora Cristina Fernández de Kirchner, 54 anos, foi eleita presidente da Argentina neste domingo (28/10). Ela sucederá o marido, Néstor Kirchner, e deverá dar continuidade à atual política econômica do país, responsável por elevadas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Com a eleição de Kirchner, duas das mais importantes nações sul-americanas serão comandadas por mulheres. No Chile, a socialista Michelle Bachelet ocupa a presidência desde janeiro do ano passado. Kirchner é, ainda, a primeira mulher a ser eleita para a presidência argentina. O posto foi ocupado por Isabel Perón entre 1974 e 1976, mas ela chegou à presidência após a morte do marido, Juan Domingo Perón.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, foi uma das primeiras chefes de governo a parabenizar Kirchner. Merkel disse esperar que as boas relações entre os dois países tenham continuidade no mandato da nova presidente. Kirchner esteve em Berlim no último dia 11 de setembro. A Alemanha é a principal credora da Argentina.

A manutenção da política econômica que tirou a Argentina da grave crise de 2001 será um dos principais desafios da nova presidente. Essa é a opinião do cientista político Nikolas Werz, da Universidade de Rostock, que concedeu entrevista à DW-WORLD.

Ele avalia ainda que Cristina Kirchner deverá ter melhores relações com o Congresso e com a imprensa do que seu marido. "Ela estará mais presente na mídia", disse o pesquisador. Leia a seguir a entrevista com Werz.

DW-WORLD: Como a imprensa alemã cobriu as eleições argentinas?

Nikolas Werz: Na imprensa escrita houve uma ampla cobertura no período anterior às eleições. Na televisão, a cobertura foi menor, também porque as eleições foram no mesmo final de semana em que aconteceu o congresso do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), em Hamburgo.

Como Cristina Kirchner é vista na Alemanha? Como uma espécie de Hillary Clinton do sul?

Essa foi a imagem que se criou recentemente na Alemanha. Apenas há pouco a opinião pública alemã tomou conhecimento dela, com a visita a Angela Merkel, já durante a campanha eleitoral. E a imprensa disse que Cristina Kirchner se via mais como uma Hillary Clinton do que como uma Evita Perón. Mas é uma imagem muito prematura e só nos próximos meses é que se terá uma imagem melhor dela na Alemanha.

Como se explica o sucesso arrasador da peronista?

A Argentina vem de uma situação muito difícil, em 2001 teve vários presidentes no período de alguns dias. Néstor Kirchner foi eleito presidente com uma margem estreita de votos, ele teve menos da metade dos votos que Cristina Kirchner recebeu agora. Mas depois a situação melhorou. Os preços da carne, da soja e dos cereais [produtos de exportação da Argentina] estão elevados e isso beneficiou o governo Kirchner. Ele renunciou à política liberal e sobre essa base segura pôde conduzir uma troca de governo praticamente intrafamiliar, uma troca que foi iniciativa dele.

O que se pode esperar de Cristina Kirchner?

Sempre houve uma grande distância entre o presidente Kirchner e o Congresso, o Senado, a imprensa e o gabinete de governo. Praticamente não há sessões do gabinete. Ele tem uma relação distante com a imprensa e não dá muito valor ao protocolo diplomático. Pode-se esperar que Cristina Kirchner, como ex-senadora, tenha relações melhores com os órgãos legislativos. Ela também deverá dar mais importância à presença de sua imagem na imprensa e às relações diplomáticas. Ou seja, ela estará mais presente na mídia, ao menos no início.

O senhor acredita que ela governará de forma soberana?

Ela tem muita experiência como política. E os Kirchner já formam há tempos um casal político, ao menos quando querem. Tudo depende de a atual situação econômica, que é muito favorável, se manter na Argentina. O país chegou a registrar nos últimos cinco anos taxas de crescimento de 8% ao ano. No entanto, esse dinheiro não tem sido reinvestido no país, em educação ou em infra-estrutura. Se ocorrer um rompimento do atual ciclo positivo, ela terá dificuldades.

Na sua campanha eleitoral, Kirchner praticamente não tratou dos assuntos de política interna. Em vez disso, ela fez um giro ampliado pelo exterior. Não se sabe exatamente o que ela defende, que tipo de política ela fará. Assim, também não se pode dizer que será uma política populista, ainda que isso seja provável. Ela tem falado muito pouco sobre isso. Mas ela será posta à prova nos próximos anos, e se os ganhos [da balança comercial] da Argentina não forem mais tão grandes, como alguns supõem, então o governo dela enfrentará mais dificuldades do que o do seu marido nos últimos anos.

Ou seja: tudo depende da economia.

É assim que funciona, infelizmente. Os países da América Latina, e a Argentina não é exceção, voltaram a exercer, nos últimos dez, 20 anos, o papel de exportadores de matérias-primas. Optou-se de forma consciente por atender à forte demanda que vem dos países da Ásia, mas isso torna a economia muito dependente do exterior.

A Argentina recuperou sua credibilidade diante dos investidores alemães?

Esse era o objetivo da viagem de Cristina Kirchner à Alemanha há algumas semanas. É de se esperar que ela faça o possível para atrair investimentos estrangeiros à Argentina, o que não tem acontecido nos últimos tempos.