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Sozinho na Floresta Amazônica

Laís Kalka18 de junho de 2003

O aventureiro alemão Rüdiger Nehberg, conhecido por seu engajamento pelos ianomâmis, está de partida para o Brasil, onde vai percorrer mil quilômetros na Floresta Amazônia, sozinho e sem equipamentos de orientação.

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"Homenagem à floresta e aos índios"Foto: AP

Aos 68 anos, Rüdiger Nehberg precisa de óculos para aumentar a acuidade visual e de aparelho auditivo para corrigir uma deficiência de 90% na audição. Estes dois requisitos da civilização são dos poucos aos quais o conhecido alemão não vai renunciar em sua próxima missão, "talvez a última aventura destas proporções em minha vida", como ele próprio se expressa.

A pé e sozinho pela selva —

Nehberg, de profissão confeiteiro e há 20 anos defensor da causa dos ianomâmis, para os quais chamou a atenção da comunidade internacional, está de partida para o Brasil, onde quer percorrer sozinho, sem o auxílio de mapas e sem o apoio de equipamentos de orientação, cerca de mil quilômetros pela Floresta Amazônica.

As concessões à civilização que ele está definitivamente disposto a fazer durante a marcha, que vai durar de quatro a seis semanas, são uma câmera de vídeo — para documentar a aventura — e, se as condições locais permitirem, um celular — para poder conceder entrevistas de lá.

A publicidade é sempre um efeito desejado das inúmeras ações realizadas por Nehberg que, entre outros feitos, já desembarcou no Brasil a bordo de uma embarcação construída com troncos de bambu, com a qual atravessou o Atlântico. O fato de os ianomâmis poderem viver hoje em condições de vida aceitáveis — "melhores do que as dos garimpeiros", afirma Nehberg em entrevista à DW-WORLD —, deve-se sem dúvida em grande parte a este alemão idealista, autor de cinco livros sobre os indígenas.

Treinamento com caciques e o Exército —

Apesar de especialista em sobreviver em condições extremas — em seu site, ele é apresentado como "Sir Vival" —, Nehberg não vai se lançar à fase crucial da aventura sem preparo. Durante duas a três semanas, vai passar por treinamento junto a dois caciques dos waiapis — um dos quais fala português, facilitando o entendimento com Nehberg, que conhece a língua. Os índios vão ensinar-lhe os segredos da selva, tais como a utilização de ervas medicinais no caso de ferimentos. Em seguida, será instruído por militares especializados em florestas tropicais.

Aliás, não será a primeira vez que irá contar com a ajuda do Exército brasileiro. "Quando fui parar no litoral brasileiro com a jangada de bambus, os militares me ajudaram a colocar a pesada embarcação num caminhão e a transportá-la 350 quilômetros para um lugar mais favorável do Atlântico", contou Nehberg à DW-WORLD.

Homenagem à floresta tropical —

Passada a fase de treinamento, em que Nehberg estará acompanhado do cinegrafista Wolfgang Brög, o aventureiro se deixará levar por um helicóptero, à noite, para uma parte desconhecida da Floresta Amazônica, perto da fronteira com a Guiana, de onde quer achar sozinho o caminho de volta à dita civilização.

Nehberg compreende a viagem e sua documentação como "uma homenagem à floresta e aos índios". "Quero mostrar, por meio do exemplo dos waiapis, que outras formas de vida são possíveis, uma vida modesta e não sempre voltada para o progresso e para cada vez mais luxo." Pretende ainda despertar a consciência para a genialidade da floresta — com sua diversidade —, aliada a sua fragilidade e necessidade de proteção e, ao mesmo tempo, "concretizar um velho sonho".