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Sotaque pode influenciar futuro de estrangeiros

Janna Degener (md)3 de junho de 2016

Especialistas alemães confirmam que a pronúncia do idioma pode influenciar diretamente as perspectivas profissionais. Sotaques são por vezes associados a incapacidade profissional. Mas também despertam simpatias.

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Curso de alemão para estrangeiros
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer

Enquanto para certos povos tudo o que é estrangeiro soa lindo, para boa parte dos alemães existem sotaques e sotaques. Uma sondagem do Instituto da Língua Alemã, de Mannheim, confirma que eles percebem as diferentes pronúncias como bonitas ou feias, dependendo da procedência.

O preferido dos entrevistados foi o sotaque francês, seguido, de longe, pelo italiano. Enquanto 14% revelaram não gostar do russo, cerca de 10% consideram o turco feio. Quase metade dos participantes afirmou que não julga nenhum sotaque antipático, um quinto não acha nenhum simpático.

Fenômeno universal

Os linguistas salientam que o acento carregado é avaliado mais negativamente para certas línguas. "Os sotaques têm má imagem sobretudo no contexto migratório, quer dizer: quando são línguas típicas de imigrantes", explica Katharina König, do Instituto de Língua Alemã da Westfälische Wilhelms Universität, de Münster.

Não raro, os alemães associam a "imperfeição" da pronúncia a uma possível incompetência do indivíduo também em outras áreas. Isso pode significar um obstáculo, por exemplo, na obtenção de emprego ou de promoção profissional.

"Tais processos não ocorrem só na Alemanha, mas em todo o mundo", frisa Brigitta Busch, professora de Linguística Aplicada da Universidade de Viena. "Na África do Sul, mesmo após o fim do apartheid, ainda imperam ideias relacionadas a certos grupos, negociadas a partir da linguagem. Há, por exemplo, anúncios de trabalho direcionados somente aos 'de sotaque normal', subentendendo-se aqui o inglês falado pelos brancos."

Curso de alemão para estrangeiros
Curso de alemão para estrangeiros: professor deve impor pronúncia aceita pela maioria?Foto: picture-alliance/dpa

Sotaque, sim ou não

Portanto para os estudantes de línguas estrangeiras há boas razões para se esforçar por uma pronúncia livre de sotaque, com o fim de, mais cedo ou mais tarde, não chamar mais a atenção como alguém que fala "diferente". Mas há quem veja a questão de outra forma.

Joanna Blaszczak e Marzena Zygis, do Centro de Linguística Geral de Berlim, descobriram, numa sondagem com crianças e adolescentes teuto-poloneses que em determinadas situações, embora falem alemão como nativos, alguns deles reforçam a parte polonesa de sua identidade através da pronúncia.

"Os alunos usam deliberadamente o sotaque polonês quando na presença de colegas com e sem ascendência polonesa. Desse modo, sinalizam para os outros a qual grupo sentem pertencer. São orgulhosos de sua identidade e não querem escondê-la. Isto é possível para eles porque se sentem aceitos pela sociedade majoritária", explicam as pesquisadoras.

İnci Dirim, professora de alemão para estrangeiros na Universidade de Viena, por sua vez, supõe que também se possa interpretar tal comportamento como uma estratégia de resistência à discriminação linguística. Há explicações nesse sentido em relação a fenômenos linguísticos entre jovens. Linguistas estudam, por exemplo, adolescentes alemães que acham "legal" adotar o sotaque turco ou árabe, ou escolares suíços que falam alemão como os albaneses.

Quem é o dono do idioma?

A forma de um professor de idioma estrangeiro deve abordar e corrigir os desvios de pronúncia durante o aprendizado, é um assunto controverso. Naturalmente a aula deve visar um entendimento sem percalços. Mas a meta será os alunos se adequarem ao padrão de pronúncia aceito pela maioria da sociedade?

"Se os jovens acham legal falarem entre si com um determinado sotaque, os professores devem aceitar. Mas devem deixar claro que, além disso, os alunos também precisam dominar um padrão, por exemplo, a fim de ganhar pontos numa entrevista de emprego", sublinha a linguista Ingrid Hove, do departamento de alemão na Universidade de Lausanne.

Para İnci Dirim, os descendentes de imigrantes têm seus próprios sotaques e devem poder preservá-los. Ela lembra que existem muitas pronúncias diferentes dentro do próprio alemão padrão.

"Geralmente se reconhece se alguém é de Viena, Saxônia ou Hamburgo. Por que pessoas de origem migratória devem se assimilar, em vez de expressar seu pertencimento a certo grupo através do acento? E por que as pessoas cujos pais e avós viveram numa determinada área são tidas como donas da pronúncia verdadeira, apesar de vivermos na era da globalização e dos espaços midiáticos?"

Especialistas aconselham os professores de línguas a refletir sobre suas próprias preferências de sotaques. Se gostam do francês, enquanto acham o árabe duro, ou se rejeitam a pronúncia de uma imigrante chinesa, então devem, pelo menos, estar cientes disso e refletir em quais experiências pessoais tais avaliações se baseiam.

Essa reflexão é também importante para a forma de os professores lidarem com seus alunos – já que exercem um certo poder sobre eles, e não só quando se trata de notas e, por consequência, o acesso a instituições de ensino, bolsas de estudo e opções de emprego interessantes.