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Sob o signo da guerra no Iraque

av16 de abril de 2003

Nesta quarta-feira (16) os dirigentes da UE tiveram um encontro extraordinário em Atenas. O ensejo original, antes festivo, caiu para segundo plano, à sombra das divergências em relação à guerra no Iraque.

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A Acrópole, cenário da cúpula da UE

Originalmente, a reunião pouco mais deveria ser do que uma sessão de fotografia. Diante de um dos símbolos nacionais da Grécia, a Acrópole, os chefes de governo e de Estado da União Européia assinaram a adesão dos dez novos membros. A solenidade foi mantida, porém ficou relegada ao papel de fachada: motivos mais urgentes ocupam agora as cabeças regentes do continente, o evento social teve que ser remanejado em encontro de cúpula de pleno direito.

A guerra no Iraque causou cismas profundos na unidade européia. Não só os 15 países membros dividiram-se em pró e contra: dentre os dez novos filiados, sobretudo os do leste – a "nova Europa", nas palavras de Washington – colocaram-se ao lado dos Estados Unidos.

Para um dos pais da ampliação, o comissário alemão Günter Verheugen, a solução é olhar para a frente, evitando colocar os novos membros mais uma vez diante do difícil impasse. Segundo o Comissário para a Ampliação, a atitude se explicaria por uma "ligação muito forte, também emocional" com os EUA, de que os implicados não desejam abdicar. Afinal "não é antieuropeu ter boas relações com a América", pelo contrário. Importante seria evitar situações baseadas no aparente oposição: ou Europa ou Estados Unidos.

Contudo, certas discussões são praticamente inevitáveis. Segunda-feira em Luxemburgo, durante os preparativos para a reunião em Atenas, esboçou-se um novo ponto de conflito. A UE procura seu papel na reconstrução e ajuda humanitária no Iraque, e a maioria dos europeus é a favor de uma participação representativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Um ponto de vista que Washington encara com reticência, no que conta com o apoio da Grã-Bretanha, Espanha e Dinamarca. Enfim: quão forte deve ser a presença da ONU no Golfo Pérsico? Os quatro países da União Européia que atualmente integram o Conselho de Segurança da ONU elaboraram um plano conjunto neste sentido, a ser discutido com o secretário-geral Kofi Annan.

Degelo em Atenas

Nesta quarta-feira, manifestantes foram às ruas em Atenas, em protesto contra a guerra. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aproveitou o ensejo para encontrar-se com cada um dos dirigentes europeus, a começar pelo premiê britânico, Tony Blair. Logo após esta primeira conversa, Annan declarou-se confiante de que a ONU "representará um papel importante" na reconstrução do Iraque. Por sua vez, Blair demonstrou empenho em reconciliar partidários e adversários daquela guerra, iniciada pelos EUA.

O ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, depositou grandes esperanças na presença de Annan em Atenas. Ele acredita que, se a União Européia escutar as idéias do secretário-geral sobre o papel da ONU no Iraque pós-guerra, também o bloco europeu encontrará uma posição comum. O encontro entre Fischer e Annan estava marcado para a noite desta quarta-feira.

Após conversar com Blair em Hanôver, na noite de terça-feira, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, afirmara que ambos concordam fundamentalmente numa participação relevante da ONU na reorganização do Iraque no pós-guerra. A definição desse papel cabe aos aliados (EUA e Reino Unido), a Annan e ao Conselho de Segurança, acentuou Schröder.

Fim de um capítulo histórico

"Que os novos membros sejam muito bem-vindos à nossa família. Nossa nova Europa nasceu!". Com estas palavras, o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, saudou, em dezembro passado, a decisão de ampliar a União Européia, através da inclusão de mais dez países. Eles eram as ex-comunistas Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia e República Tcheca, além de Malta e Chipre, ambas ilhas do Mar Mediterrâneo.

Rasmussen considerou assim encerrado o capítulo de duas avassaladoras guerras mundiais e da Guerra Fria: "Em seu lugar coloca-se a missão comum de uma Europa unida". De um ponto de vista mais sóbrio, o 1º de maio de 2004 significa o final de uma longa série de negociações, iniciada em 1993, e que deixou de fora a Romênia, Bulgária e Turquia. Para as três, assim como para a Croácia, cabe esperar até as portas do bloco europeu voltarem a se entreabrir: no fim de 2004 elas poderão candidatar-se para filiação em 2007.

Parte desses dez anos foram consumidos por uma reforma dos estatutos da comunidade, a fim garantir sua eficácia, com 25 ou mais nações. Aboliu-se a exigência de unanimidade nas decisões: mantê-la, quando cada membro tem direito de veto em quase todos os setores, significaria a paralisia institucional. Foi igualmente necessário rever o capítulo das vultosas subvenções agrárias, que ameaçavam levar à ruína os cofres da UE.

Os críticos da ampliação apontam para todos os esforços e custos envolvidos, assim como para os riscos de fracasso monumental. Contra estes, o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, sustenta o seguinte argumento: "Nenhum dinheiro paga o que ganharemos em termos de segurança e de crescimento econômico. Por isso, é tudo no interesse de nossos filhos e netos".