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Shitstorm: a tempestade virtual de indignação

10 de julho de 2012

A Shitstorm, que pode ser traduzida como "tempestade de indignação", é usada na internet como campanha difamatória ou medida disciplinar contra pessoas ou empresas. E a nova forma de protesto virtual veio para ficar.

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Lightning illuminates the sky above the Kibbie Dome and the University of Idaho in Moscow, Idahao, on Sunday, Aug. 28, 2011. The lightning storm could have sparked new fires in the area Sunday night. (AP Photo/Ted S. Warren)
Symbol Shitstorm Blitze GewitterFoto: AP

“Prezada equipe Mietpark, para a nossa festa de conclusão do ensino secundário, procuramos um pula-pula inflável. (…) Como nosso orçamento não é muito alto, gostaríamos de conseguir o melhor preço possível. Vocês poderiam nos fazer uma oferta? (...) Maik Luu”

Quando o aluno recebeu a resposta ao seu e-mail, achou que tinha lido errado. O funcionário da empresa Mietpark aconselhou Maik a “esquecer desejos luxuosos” quando não tiver dinheiro, e acrescentou: “se você viu algum letreiro nosso dizendo 'loja de presentes', favor me avisar”.

O estudante enviou outro e-mail tentando cuidadosamente explicar ao funcionário pouco simpático que não teve a intenção de mendigar nada, pediu apenas uma promoção. A resposta foi ainda pior: o funcionário profetizou que os alunos não chegariam a lugar nenhum na vida, que 70% dos formandos acabam dependendo da ajuda social do governo. Disse também que eles nunca “jogariam no mesmo time” das pessoas que ganham bem.

Ajuda da mídia e da internet

A troca de e-mails acabou sendo publicada por um jornal local, que comentou o ocorrido como “inconcebível”, e embora Maik Luu não goste de polêmica na internet,  decidiu tornar o assunto público e postou o trecho do jornal em seu perfil do Facebook. Em poucos dias, a publicação foi compartilhada por quase 10 mil pessoas e choveram comentários em sua página. As reações surgiram de todas as partes da Alemanha e até dos Estados Unidos. Além da atenção da mídia, a atitude do estudante deu resultado: outra empresa local disponibilizou o tão sonhado pula-pula inflável para a turma de graça.

Abiturient Maik Luu Empörung über Hüpfburgverleiher
Maik Luu teve seus emails publicados em jornais e na internetFoto: picture alliance/dpa

A notícia foi divulgada na imprensa popular, na televisão e até em jornais nacionais. A empresa fechou rapidamente sua página de recados online, e o funcionário mal-educado retirou as fotos dele e da esposa do Facebook. Mas não é tão fácil barrar os internautas: as fotos foram achadas no Google e disponibilizadas na rede.

O ocorrido tomou tamanha proporção que Maik acabou sendo dominado pelas consequências. Ele tentou de certa forma apaziguar a situação, acalmando críticas indignadas, como um comentário de um internauta que sugeria tirar todo o dinheiro da empresa. Maik respondeu ao fã: "Fique tranquilo, não precisa levar a empresa à falência. O nosso recado está dado e é isso que conta”, respondeu o estudante.

Nesse tipo de campanha, é possível afirmar o que se quiser, pois qualquer um que lê a troca de e-mails sente certo prazer na desgraça da Mietpark. A empresa não irá à falência, pois é grande na região, mas o funcionário com certeza vai escolher melhor suas palavras da próxima vez que trocar e-mails com um cliente.  Assim, o fenômeno "Shitstorm" tem, antes de tudo, caráter educativo, mas algumas vezes pode causar grandes danos.

Größte Hüpfburg Europasin Frankfurt
Tudo por causa de um pula-pula inflável...Foto: picture-alliance/dpa

As diferentes faces da Shitstorm

A primeira Shitstorm aconteceu em 2005 com a fabricante de computadores Dell. Um cliente reclamou do canal “serviço e suporte”, e milhares juntaram-se a ele. A rede de produtos alimentícios Nestlé, a empresa de telecomunicações O2 e a firma alemã Schlecker também já passaram pela tempestade de indignação.

Os motivos que desencadeiam uma Schitstorm podem ser os mais variados: um mau comportamento, um erro ou uma confusão. Outras vezes, pode se tratar de uma série direcionada de assédio moral pela internet. Em todo caso, o fenômeno já se tornou tão famoso, que linguistas escolheram a palavra Shitstorm como o “anglicismo do ano” em 2011.

Aguentar até a poeira abaixar

Especialistas em defesa do consumidor e consultores de empresas aconselham: não se importe tanto com a situação. Nenhum consumidor que chega ao nível de provocar um Shitstorm e responder com comentários irados vale a pena ser encarado. Outra dica: observe a rede, reaja apropriadamente, leve na esportiva e responsabilize-se pelos seus erros.

Um conselho eficaz é manter a calma e deixar o tempo passar, porque assim o interesse diminui. Assim aconteceu com o jogador da seleção alemã Mesut Özil. Sua descendência turca mostrou seu lado negativo quando um canal no twitter disse que, por Özil não ser alemão, ele e todos os jogadores com nomes estrangeiros deveriam sair da seleção. Enquanto a família do jogador fazia denúncia contra desconhecidos, Özil permaneceu calmo e deixou a tempestade passar sozinha.

Shitstorm racional

Campanha difamatória ou medida disciplinar, o fato é que não se pode mais ignorar esta tempestade de indignação. O fenômeno pertence ao mundo virtual assim como blogs, redes sociais, Twitter e Google e transformou-se numa forma moderna de expressar opinião.

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Sascha Lobo já "sobreviveu" a 40 ShitstormsFoto: DW

O famoso blogueiro alemão Sascha Lobo considera a “Shitstorm” uma hipercorreção de grandes resultados. “O medo da Shitstorm pode ajudar pessoas públicas a repensarem suas próprias ações”, diz Lobo.

Autora: Silke Wünsch (gmf)
Revisão: Francis França