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Sequestros do ELN diminuem chances da paz na Colômbia

7 de fevereiro de 2013

Governo colombiano afirma que rebeldes usam sequestro para pressionar pela participação nas negociações de paz entre as Farc e o Estado. Analistas dizem que, nesse caso, ações são contraprodutivas.

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Foto: DW/Walz

Desde meados de 2012 os negociadores colombianos têm viajado muito. Eles foram a Oslo e várias vezes a Havana para negociações de paz com a maior organização colombiana de guerrilha, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). As partes procuraram um terreno relativamente neutro para as primeiras conversações de paz entre o governo colombiano e os combatentes da resistência em uma década.

Muitos consideraram as negociações como um grande passo em direção à paz. Mas, ao que tudo indica, a liderança do país parece ter esquecido parte do problema causado pela guerrilha. Enquanto as Farc e o governo conversam, o Exército de Libertação Nacional (ELN) chama atenção para si. Em meados de janeiro, a segunda maior organização guerrilheira do país sequestrou cinco homens do Canadá, Peru e Colômbia. Agora, foi revelado que os rebeldes mantêm há nove semanas sob sua custódia dois aposentados alemães.

Base de negociação destruída

Os sequestros são tidos pelo governo colombiano como um sinal de que o ELN quer ser envolvido nas conversações de paz. Sabine Kurtenbach, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, também acha isso possível, mas duvida do sucesso dessa tática. "Se esse era o objetivo, ele fracassou estrondosamente", afirma, argumentando que muitos políticos colombianos que já tinham anteriormente se empenhado por conversações com o ELN se distanciaram agora da organização. Kurtenbach ressalta que agora não há mais base para negociações de paz.

FARC Rebellen Kolumbien
Membros das Farc e do governo em negociações de paz em Havana, no começo de janeiroFoto: Reuters

O governo colombiano já anunciou que só inicia as negociações quando todos os prisioneiros forem libertados. Kurtenbach, entretanto, considera improvável que a organização vá deixar de realizar sequestros. "Neste ambiente, é muito importante a demonstração de poder militar." Para a organização também seria importante, segundo ela, ser levada a sério como interlocutora. Sem contar que os sequestros são uma fonte de renda para todas as organizações terroristas.

Objetivos pouco claros

Stefan Ofteringer, relator na Colômbia para Direitos Humanos da ONG alemã Misereor, também duvida que o governo colombiano seja levado à mesa de negociações pelas recentes ações do ELN. "O governo está sob enorme pressão da direita", sublinha. Tanto o ex-presidente Uribe quanto militares de direita são contra as negociações de paz com a guerrilha, preferindo uma solução militar para o conflito. "Se Santos, após o ocorrido, der um passo na direção do ELN, sua imagem sofrerá um enorme dano perante a opinião pública", opina Ofteringer.

Sabine Kurtenbach vom Giga Institut in Hamburg
Sabine Kurtenbach, do Instituto Giga, de BerlimFoto: Sabine Kurtenbach

Ninguém sabe exatamente o que a guerrilha quer. Em seu site, a organização anunciou que considera os dois alemães espiões. O ministério alemão do Exterior confirmou que eles viajaram à Colômbia como turistas. No entanto, os sequestradores mantêm sua teoria, já que os alemães até agora, segundo eles, não conseguiram explicar plausivelmente por que estavam numa região tão pouco turística como Catatumbo, no nordeste da Colômbia.

A mais antiga guerra civil

O conflito entre os rebeldes e o Estado colombiano é a mais antiga guerra civil no mundo. Farc e ELN foram fundados na década de 1960 como movimento marxista, cujo objetivo declarado era mais justiça social. Ao longo dos anos, estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham sido vítimas da guerra de guerrilha.

Embora as informações sobre o número de membros variem, é indiscutível que as Farc são significativamente maiores que o ELN. O Ministério da Defesa colombiano divulga números mais baixos do que outras instituições e calcula haver 8 mil combatentes nas fileiras das Farc e 1,5 mil nas do ELN. De acordo com a cientista política Kurtenbach, as Farc estão baseadas mais nas áreas rurais, enquanto o ELN, nas regiões urbanas.

Autora: Greta Hamann (md)
Revisão: Francis França