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Sem Campos, PSB tem futuro ameaçado

Marina Estarque, de São Paulo14 de agosto de 2014

Analistas políticos dizem que ex-governador de Pernambuco representava projeto alternativo de governo e, com ele, partido poderia romper polarização entre PT e PSDB. Candidatura de Marina pode dividir legenda.

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Foto: Reuters

O acidente aéreo que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos pode ter acabado também com as esperanças do PSB de se tornar uma terceira força política no país. A morte do ex-governador de Pernambuco deixa um vácuo no partido, centrado na figura do político.

“Campos era o único líder real do PSB. Na falta dele, não há um sucessor. É um problema sério na construção do partido, que ficou fechado sobre si mesmo”, afirma o professor de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo Renato Janine Ribeiro.

Para ele, o personalismo é uma marca da política brasileira, o que pode ser perigoso para os partidos. “É uma pena, porque o PSB poderia ter um espaço maior, mas acabou tendo uma posição pequena. A Rede, quando for criada, também só terá a Marina. Até o PT, com vários nomes, tem uma dependência excessiva do Lula”, argumenta.

O cientista político David Fleischer, professor emérito da UnB, acredita que o partido terá que trabalhar para criar novas lideranças. “Isso não será fácil, porque Campos tinha uma história e dois mandatos muito bem sucedidos como governador. E não há nenhum outro com essa experiência acumulada”, explica.

Rupturas e disputas

O cientista político Pedro Fassoni, da PUC-SP, lembra que o PSB já entrava enfraquecido na campanha eleitoral, com importantes membros abandonando a legenda no ano passado.

“Já tinha havido algumas deserções, como os irmãos Cid e Ciro Gomes, que deixaram o partido para apoiar a reeleição de Dilma, pois não concordavam com a candidatura de Campos. Com isso, o partido, que já era pequeno, ficou ainda menor”, diz Fassoni.

Especialistas apontam também que o trágico acidente pode desencadear disputas internas no partido. “Campos tinha um projeto hegemônico, que outros grupos vão tentar substituir”, afirma o cientista político Antonio Carlos Mazzeo, da Unesp e da PUC-SP.

Sem o seu principal líder, o partido deve lançar Marina Silva, vice-candidata na chapa do PSB. Antes de se unir a Campos, a ex-senadora tentou lançar a sua própria candidatura à Presidência pela Rede, projeto de partido que não obteve o registro a tempo.

A escolha, entretanto, representa um dilema para o partido. “Ou o PSB apoia a Marina, uma pessoa de vínculo frágil com o partido e que provavelmente vai sair para construir a sua própria legenda, ou lança outro nome e tem uma votação muito pequena”, afirma Ribeiro.

Caso opte por Marina Silva, o partido corre outro risco. Segundo os cientistas políticos, a ex-senadora não tem boa relação com os quadros do PSB e pode motivar rupturas com o partido.

“O PPS, por exemplo, é muito mais identificado com o PSDB do que com Marina. Ele pode romper com o PSB e em nome de outro candidato”, aponta Fassoni. O especialista argumenta que o mesmo deve ocorrer em alianças estaduais. “No estado de São Paulo, o grupo do PSB deve apoiar Aécio Neves, e não Marina”, diz.

Eduardo Campos und Marina Silva
Sem o seu principal líder, o partido deve lançar Marina Silva, vice-candidata na chapaFoto: AFP/Getty Images

Terceira via

De acordo com especialistas, Campos representava um projeto alternativo de governo. Eles defendem que o PSB poderia romper com a polarização entre PT e PSDB.

“O PSB estava se tornando uma terceira força política. O papel de Campos nessa construção era essencial, mas infelizmente isso se perdeu”, lamenta Fleischer.

O cientista político acredita que Campos teve pouco tempo para expor suas ideias aos eleitores brasileiros: “A entrevista no Jornal Nacional, um dia antes do acidente, foi a primeira vez que ele teve a chance de falar das suas propostas em rede nacional."

Para Fleischer, Campos tinha propostas inovadoras em relação ao programa de governo do PT e do PSDB. “Diferentemente de Dilma e Marina, ele era cordial com o mercado, o sistema financeiro e a agroindústria. Apesar de socialista, queria um maior envolvimento do setor privado para resolver os problemas do Brasil”, diz.

Semelhanças com PSDB

Nem todos os especialistas concordam que o PSB chegaria a ser uma força política nacional capaz de concorrer com o PT e o PSDB.

“É um partido pequeno, que não conta nem com 5% das cadeiras na Câmara dos Deputados. É muito pouco tempo na televisão”, defende Fassoni. Além disso, argumentam que o PSB não apresentou propostas inovadoras o suficiente para inaugurar uma nova linha política.

“Eu acho que o PSB era uma terceira via apenas no sentido eleitoral. Em termos de conteúdo, não diferia muito do PSDB. As ideias são praticamente as mesmas: responsabilidade fiscal, choque de gestão, profissionalização do serviço publico, controle de metas da inflação”, aponta Fassoni.

Para Ribeiro, um das principais problemas da campanha de Campos era que o candidato era visto como uma espécie de “reserva” de Aécio.

“Ninguém sabia exatamente o que o Campos propunha. Era muito difícil distingui-lo do Aécio. E o candidato do PSDB foi muito hábil nisto, porque tratava o ex-governador de Pernambuco com um pouco de paternalismo e condescendência, como se estivessem do mesmo lado”, diz o especialista da USP.

Ambos os especialistas concordam que a campanha de Campos já estava enfraquecida e “não decolava”. Segundo eles, a candidatura de Marina Silva tem mais chances de representar uma alternativa real ao PT e o PSDB, ainda que também correria o mesmo risco de fracassar.