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Seleção alemã enfrenta crise pré-Copa

Geraldo Hoffmann17 de outubro de 2005

Excesso de juniores e de falta jogadores experientes põem em risco o sonho da Alemanha de conquistar o Mundial de 2006 em casa. Testes que antecedem o torneio revelam crise do futebol alemão.

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Borowski, Podolski, Mertesacker , Schweinsteiger e Owomoyela, esperanças alemãsFoto: AP

A pouco mais de sete meses da abertura da Copa do Mundo, os 204 países que disputaram as Eliminatórias sabem onde estão: 167 eliminados, 26 classificados e dez lutam pelas cinco vagas restantes na repescagem.

Dentre os 27 que já estão com o passaporte carimbado, a situação mais delicada é enfrentada pela anfitriã Alemanha, que não disputou as Eliminatórias, tropeça de amistoso em amistoso e vive uma crise pré-Copa.

As estatísticas até que não são ruins: desde meados de 2004, a equipe colecionou 11 vitórias, cinco empates e quatro derrotas sob o comando do técnico Jürgen Klinsmann, campeão de 1990 na Itália.

Mas, nos últimos testes, contra a Holanda, Eslováquia, África do Sul e, especialmente, contra a Turquia e a "muralha" da China, a seleção alemã mostrou um desempenho em queda livre. Isso preocupa os dirigentes e milhões de torcedores que esperam a conquista do tetra em casa.

Cadeira de Klinsmann balança

Jürgen Klinsmann Deutsche Fußballnationalmannschaft vor Landesspiel gegen China
Klinsmann sob fogo cerradoFoto: DW

O tom das críticas à equipe e à comissão técnica torna-se cada vez mais áspero. A alegria com que os torcedores aplaudiram a jovem guarda do futebol alemão durante a Copa das Confederações, em junho passado, começa a dar lugar às vaias. Até mesmo a cadeira de Klinsmann já balança.

Alguns treinadores de clubes da Bundesliga criticam Klinsmann pela "americanização" dos treinos, baseados em métodos copiados dos EUA, país classificado para a Copa, mas que não pertence à nata do futebol mundial.

Outros cartolas estão descontentes com o fato de Klinsmann viver nos Estados Unidos e só aparecer duas vezes por mês na Alemanha. Há ainda clubes que se acusam mutuamente de boicotar a seleção. E gerentes como Uli Hoeness, do Bayern de Munique, para quem "a situação tanto da seleção quanto do país é simplesmente catastrófica".

A briga entre os dirigentes sobre o rumo certo a ser dado ao escrete nacional – e ao futebol alemão como um todo – bem como as grandes expectivas da torcida em relação a 2006 faz com que muitos dos jovens jogadores da seleção afundem na insegurança.

Leia na próxima página Sinais de decadência

Sinais de decadência

As desastrosas atuações diante da Turquia e da China apenas revelaram a ponta do iceberg. O problema da seleção vêm de longa data. Há cinco anos, o país não vence um adversário de ponta do futebol mundial.

Na Europa, a Alemanha já é considerada uma seleção de segunda categoria. No ranking da Uefa, que conta para o sorteio dos sete grupos das Eliminatórias à Eurocopa 2008, a equipe de Klinsmann caiu para o novo lugar, atrás da Holanda, Inglaterra, República Tcheca, Portugal, França, Suécia, Croátia e Itália.

Sorte e espírito de equipe

DFB-Training in Istanbul
Quo Vadis, seleção alemã?Foto: dpa

O editor-chefe da revista de futebol kicker, Rainer Holzschuch, vai até mais longe. "Há dez anos que a Alemanha não mostra um desempenho realmente de alto nível. Os sucessos da Eurocopa 1996 (campeã) e da Copa 2002 (vice-campeã) foram inusitados e podem ser atribuídos à uma boa dose de sorte e ao extraordinário espírito de equipe. Esses momentos de glória acabaram gerando uma acomodação, de modo que não foram feitas as mudanças estruturais necessárias nos anos seguintes", escreve.

Fato é também – acrescenta – que os clubes da Bundesliga cambaleam de vexame em vexame no palco internacional e, há anos, não estão mais à altura das grandes nações. "Técnicos ou dirigentes, que nos últimos anos foram eliminados pelos pobres da Europa, deveriam se calar, em vez sobrepor seus interesses aos da seleção."

Independentemente da polêmica rotatividade e "americanização" imposta por Klinsmann, ele depende dos craques que lhe são disponibilizados pela Bundesliga. E jogadores alemães de categoria mundial são raridade, como mostram os rankings da mídia especializada.

Um outro aspecto é que a onda de contrações de estrangeiros para o Campeonato Alemão está tendo um efeito amargo para a seleção. Os técnicos da Bundesliga treinaram jogadores que, em parte, eram desconhecidos em seus países, mas hoje têm mais perspectivas ao título em 2006 do que os anfitriões.

Na Alemanha, a vinda dos estrangeiros fez com que se relaxasse a forja de novos talentos durante quase uma década. Só depois da eliminação na Eurocopa 2002 e, mais ainda, quando alguns grandes clubes começaram a atolar em dívidas, a prata da casa voltou a ser valorizada.

Ironia do destino

Bildgalerie Top-Spieler Lukas Podolski 1. FC Köln p178
Podolski, estrela alemãFoto: dpa

"Falta-nos toda uma geração", constata o técnico da equipe Sub-21 da Alemanha, Dieter Eilts. Os melhores da Sub-21 (Mertesacker, Podolski, Schweinsteiger, Jansen, Sinkiewicz e Huth) já atuam na seleção principal, comandada por Klinsmann.

Na avaliação de Christoph Kneer, comentarista esportivo do jornal Sueddeutsche Zeitung, "a Alemanha tem talentos de sobra, mas lhe falta o que se chama de jogador completo. A melhor faixa etária para o futebol – entre 25 e 30 anos – resume-se a um nome: Michael Ballack, o insubstituível capitão da seleção. Por isso, impõe-se aos talentos um fardo que eles dificilmente podem carregar".

Por ironia do destino, a Alemanha torna-se um país de juniores, justamente no momento em que precisa de alguns jogadores experientes para sonhar com o título em casa. Muita coisa ainda pode acontecer nos próximos meses, mas até que os jovens talentos cheguem ao ápice de seu desempenho, ainda pode demorar uns quatro, cinco anos. É um dilema nada fácil de resolver para os anfitrões da Copa 2006.