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Sedução política na extinta RDA é tema de peça de teatro

Assis Mendonça17 de dezembro de 2001

A peça teatral "Akte Böhme" (Dossiê Böhme), que estreou no último fim-de-semana no teatro Schauspiel em Leipzig, baseia-se em fatos reais.

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Apesar de provas irrefutáveis, Ibrahim Böhme jamais admitiu ter sido delatorFoto: AP

O autor Eugen Ruge construiu monólogos fictícios do político Ibrahim Böhme, a partir dos fatos conhecidos do seu dossiê no Stasi, o Ministério de Segurança do Estado – mais propriamente, a polícia política da Alemanha comunista. Na peça, Böhme tenta em vão escrever uma autobiografia, já muito doente e pouco antes da sua morte. Nos monólogos, o político nega-se a admitir que cooperara estreitamente com o regime comunista da Alemanha Oriental.

O ator Matthias Hummitzsch foi longamente aplaudido pela sua representação da figura de Ibrahim Böhme, que tenta justificar aos oficiais do Stasi a sua motivação ao lançar panfletos anticomunistas de um trem. Sua explicação absurda é de que desejava cooperar ainda mais estreitamente com a polícia política, como delator. "Tenho de mentir, para que eles creiam no resto do que eu falo", afirma. Esta é a frase que norteia toda a sua vida. A peça é quase toda em monólogos. A segunda personagem, a enfermeira de Böhme, quase não passa de uma ouvinte atenta.

O grande tombo de um futuro líder político

Na vida real, Ibrahim Böhme tornou-se o primeiro presidente do SPD (Partido Social Democrático) na Alemanha Oriental, logo após a queda do muro de Berlim. Nessa época, ele teve grande influência política no processo de democratização da RDA. Era tido como provável primeiro-ministro, assim que fossem realizadas as primeiras eleições livres para a Câmara Popular de Berlim Oriental. Mas, nessa fase conturbada da política alemã, logo surgiram acusações sobre o seu passado. Böhme teria sido colaborador do Stasi.

Foi grande o tombo de Ibrahim Böhme. Quando foram dadas a conhecer provas irrefutáveis das suas atividades de delator, ele foi expulso do SPD. Com a carreira política destruída da noite para o dia, Ibrahim Böhme tornou-se alcoólatra, tentou o suicídio em 1993 e morreu em conseqüência do alcoolismo em 1999, com a idade de 55 anos.

A sedução do poder

A tragédia pessoal de Ibrahim Böhme é compartilhada por um grande número de alemães que viveram sob o regime da extinta RDA: a sedução do poder, que levou muitos cidadãos comuns a cooperarem com um sistema que, na verdade, repudiavam. Para Andreas Dresen, o diretor da peça encenada agora em Leipzig, são exatamente essa contradição e esse conflito íntimo, que tornam o tema tão fascinante: "A questão é até que ponto as pessoas se deixam seduzir para serem amadas."