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Músicos pop e rock se inspiraram na obra beethoveniana

DW (rk/av)17 de setembro de 2008

Chuck Berry, Kiss, Eurythmics, Die Toten Hosen: a lista dos músicos pop e rock que se inspiraram, citaram ou simplesmente pilharam a obra beethoveniana é infindável. Da balada romântica ao punk, heavy metal e hip hop.

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Foto: DW

"Mi-ré#-mi-ré#-mi-si-ré-dó-lá..." Quem já estudou piano na vida, mesmo só um pouquinho, não escapa deste tema: as primeiras notas de Für Elise (Para Elise). A peça composta por Ludwig van Beethoven em 1810 é melódica, relativamente fácil de tocar e, por isto, freqüente alvo de massacre pelos pequenos gênios do teclado.

Beethoven Hammerklavier
Exposição no museu Beethovenhaus, em BonnFoto: picture-alliance/akg-images

Porém, sua popularidade ultrapassa longe as fronteiras do clássico. Devidamente "popificada", ela tornou-se um hit do romântico pianista francês Richard Clayderman em 1979. Dois anos mais tarde, a italiana Alice vencia o Festival de San Remo com Per Elisa. Como o título não esconde, pilhada de Beethoven.

O fato de estar em domínio público e a técnica de sampleagem tornaram o gênio de Bonn acessível também à cena hip hop. Assim o rapper norte-americano Nas se valeu da aura revolucionária de Beethoven, transformando Für Elise em veículo para uma mensagem de crítica social na canção I can, de 2002.

Artista atual

O cabaretista musical holandês Hans Lieberg, o excêntrico cantor e ator alemão Helge Schneider, o duo britânico Eurythmics (I love to listen to Beethoven): todos fizeram uso do legado do grande compositor. Uma banda underground dos EUA levou a homenagem até seu próprio nome: Camper van Beethoven.

Qual será o segredo deste fascínio? O crítico de música clássica Oliver Buslau arrisca uma explicação:

"Beethoven foi o primeiro grande compositor a defender o ideal moderno do artista: 'Eu sigo meu caminho, vou de encontro às regras. Não me interessa o que o público quer, eu faço o que quero'. Os que viveram antes dele, como Mozart, estavam ainda subordinados à sociedade da corte, tinham patrões, precisavam cumprir obrigações sociais impostas. Isto que admiramos hoje nos artistas, essa atitude, Beethoven foi o primeiro a defendê-la com furor. Este espírito se faz sentir. E acho que ainda fala às pessoas, hoje em dia."

O destino da Quinta

Concert in Cleveland
Concerto de Chuck Berry em Cleveland, 1995Foto: AP

Tal potencial foi reconhecido, por exemplo, pela banda inglesa Electric Light Orchestra. O grupo cita em Roll over Beethoven as – possivelmente – quatro mais famosas notas de toda a música: as que iniciam a Quinta sinfonia (apelidada "Do Destino"). O título Roll over, aliás, provém de uma canção de Chuck Berry, a qual anunciava, em 1956, que o tempo dos clássicos se esgotara e chegara a hora do rock 'n' roll.

Modificado e passado pelo sequencer, o mesmo motivo musical inspirou projetos dance como o Sweetbox (Crazy), ou DJs de tecno e house, como o inglês Paul Oakenfold (1975). Buslau analisa:

"Nota-se nesta peça que a música pop – que é composta por pequenos elementos continuamente repetidos – encontrou a possibilidade de pegar este motivo e martelá-lo como um logo. Ele serve bem à música pop, por ser bem curto e marcante."

Laranja da sorte

Konzert der Toten Hosen
Banda Die Toten HosenFoto: dpa

Ludwig encontrou o caminho até mesmo para a repertório da banda punk de Düsseldorf Die Toten Hosen. Um trajeto tortuoso: através da versão teatral do filme de Stanley Kubrick baseado no romance de 1962 de Anthony Burgess A laranja mecânica.

A obra-prima de Kubrick tinha status cult na cena punk, e seu protagonista, Alex DeLarge, ouve sem parar a música de Beethoven. Portanto, quando a banda foi convidada em 1988 para se encarregar da música de cena, nada mais lógico do que incluir o segundo movimento (Scherzo) da Nona sinfonia na canção Hier kommt Alex voran (Aqui Alex se dá bem).

Como explica o crooner Campino, a encomenda representou uma virada na trajetória da banda. "Foi, sem dúvida, um marco, passamos a ser assunto dos cadernos culturais. A partir daí, não havia mais retorno: éramos uma banda digna de respeito aos olhos dos críticos."

Ainda é Beethoven?

BdT Beethovenkonzert in Japan
Coro de 5 mil amadores canta a 'Ode à Alegria' no JapãoFoto: AP

Nem mesmo conjuntos de hard rock e heavy metal hesitaram em usar a música beethoveniana. O Kiss lançou mão da Sonata para piano opus 13 em dó menor (Patética) em sua balada Great expectations. E o pianista do Depeche Mode Alan Wilder não deixou de prestar seu tributo – mais para diletante – ao mestre, gravando a Sonata op. 27 – Ao luar. A mesma peça foi evocada tanto por Alicia Keys em The piano and I como pelo girl group En Vogue em Sad but true.

O quanto uma interpretação pop pode se afastar das intenções originais, isso mostram duas versões do último movimento da Nona sinfonia e hino da Europa, a Ode à Alegria: com o grupo de rock Rainbow (Live to cure) e com Miguel Ros (Ode to Joy). Ambos privam a canção de todo elemento dramático, critica o jornalista musical Oliver Buslau.

"Retirar a melodia do contexto e envolvê-la num som orquestral diluído não faz jus a Beethoven. A gente desfruta a beleza melódica, mas de forma unidimensional. E isso não tem a ver com a ideia original do compositor."

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