Sociedade de informação
8 de janeiro de 2008Anúncio
Nas agências de notícia russas, o presidente Vladimir Putin aparece esquiando. Na América do Sul, a abertura de uma fábrica de celulose uruguaia é o principal tema do noticiário. A televisão paquistanesa noticia a chegada de agentes da Scotland Yard (polícia britânica) ao país, encarregados de investigar o assassinato de Benazir Bhutto.
O noticiário alemão Tagesschau abre com o comunicado de que os ferroviários desistiram temporariamente de fazer greve. Essas notícias ao vivo são simultaneamente apresentadas e comentadas por jornalistas e tradutores-intérpretes.
Breaking News – Ein Tagesschauspiel (Breaking News – Um Noticenário) é o título da nova peça do coletivo alemão de teatro Rimini Protokoll, estreada no fim de semana passado, no Hebbel am Ufer, em Berlim. O que se apresenta ao público é uma quantidade inesgotável de notícias. Nove atores em palco explicam quais são os critérios de escolha das notícias em todo o mundo, mostrando como são diferentes as prioridades temáticas das diversas regiões.
O que torna ainda mais interessante a peça é o fato de o espetáculo técnico ser encenado e coreografado com perfeição. Pequenas panes, como interferências e programas temporariamente fora do ar, servem justamente para mostrar que se trata de uma performance ao vivo.
Sempre uma anedota no fim
Os diretores Helgard Haug e Daniel Wetzel são conhecidos por fazer teatro documentário. O que eles querem é trazer a realidade para o palco. Muitas vezes substituem atores profissionais por leigos. Este também é o caso de Breaking News.
Saídos da "vida real", jornalistas e tradutores-intérpretes da Índia, Islândia, Curdistão e Alemanha relatam sobre seu cotidiano. Breaking News, um título que quer dizer "a última notícia, a notícia mais atual", varia de apresentação para apresentação, pois os conteúdos transmitidos correspondem às informações específicas do dia em questão.
Em 24 televisores, vêem-se as notícias das oito da noite transmitidas em diferentes países. Os atores são convocados a comentar trechos dos programas. Seus comentários ao vivo retornam à cena depois, como gravação.
Tudo é muito bem orquestrado. Por trás de uma mesa de mixagem, o regente de toda a encenação decide a hora de cada ator traduzir e explicar seu noticiário ou contar sobre a sua própria vida.
O islandês explica que, no seu país, os noticiários só mencionam guerras quando há algum cidadão islandês no meio. Além disso, o programa sempre acaba com uma boa notícia.
O curdo explica que as emissoras árabes nunca se referem a "atentados suicidas", mas chamam quem os cometeu de "mártires". Ele acha repugnante propaganda desse tipo.
Sentado acima de todos, como em um trono divino, um ex-correspondente africano e crítico de teatro frustrado relata suas experiências como jornalista. E aproveita para ler trechos de Os Persas, de Ésquilo. Afinal, essa peça sobre guerra, morte, assassinato e amor pode ser considerada uma espécie de noticiário da antiguidade grega. (sm)
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