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Retirada de Gaza: decisão de peso simbólico

pp (av)27 de outubro de 2004

Com os votos da oposição, Ariel Sharon conseguiu a aprovação da Knesset para seu plano de retirada. É um precedente de forte significado simbólico, analisa comentarista da Deutsche Welle.

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Após dois dias de debates, 67 dos 120 deputados do Knesset (parlamento israelense) aprovaram a evacuação de todos os assentamentos judaicos na Faixa de Gaza, assim como de quatro dos 120 na Cisjordânia. Para tal, o premiê Ariel Sharon dependeu dos votos da oposição, pois parte de seu partido, o Likud, rejeita o plano. Peter Philipp, da Deutsche Welle, comenta.

História x símbolo

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Ariel Sharon no KnessetFoto: ap

É um mero acaso, porém de significado simbólico, a controvertida votação do Knesset ocorrer justamente na véspera do nono aniversário do assassinato de Yitzhak Rabin. O então primeiro-ministro foi abatido a tiros por um colono que não suportava a idéia de Israel renunciar aos assentamentos nos territórios ocupados, como previsto no Acordo de Oslo.

Agora, o atual premiê israelense, Ariel Sharon, postou-se diante do Knesset para exigir precisamente isto: a evacuação da Faixa de Gaza e a dissolução dos 21 assentamentos da região, assim como de quatro na Margem Oeste. A seu lado, um guarda-costas, pois mais de uma vez se insinuara que o atentado de 1995 poderia se repetir.

Paralelo inexato

Apesar das semelhanças externas, o paralelo entre Sharon e Rabin não é exata, nem procede. Sob Rabin, Israel alcançou o grande feito de reconhecer a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), negociar com ela, e esboçar o caminho para um futuro melhor, com lugar para dois Estados na Palestina histórica.

Sharon, pelo contrário, esteve desde o princípio entre os que polemizaram a questão, contribuindo para que a tensão crescente finalmente se descarregasse no primeiro atentado contra um chefe de governo israelense.

Agora que Sharon conquistou a maioria no Knesset para seu plano de retirada de Gaza, muitos insistem em celebrar o momento como "histórico", assegurando ao antigo protagonista da "Grande Israel", Sharon, um lugar na história israelense.

"Judéia e Samaria"

Como assim, "antigo"? No discurso perante o Knesset, Sharon deixou absolutamente claro: ele não pensa por um segundo em abandonar "os" territórios ocupados e dissolver "os" assentamentos. Ele só quer se retirar da Faixa de Gaza por esta haver se tornado um fardo para ele e seu país. Para compensar, irá concentrar-se em manter a Margem Oeste – "Judéia e Samaria", como os israelenses denominam o núcleo geográfico de sua bíblica "Terra de Israel".

Ainda assim: há alguns anos teria sido impensável Sharon sequer sonhar em abrir mão de Gaza. E a decisão do Knesset constitui um importante precedente: pela primeira vez, em 37 anos, Israel cede ao menos parte do território palestino ocupado em 1967.

Aprendendo com o passado

Um possível paralelo histórico seria a devolução da Península de Sinai, obedecendo ao Acordo de Paz de Camp David, firmado com o Egito em 1978. Na época também se dissolveram assentamentos, e o então primeiro-ministro Menachem Begin, do partido Likud, igualmente acreditou que bastaria uma retirada parcial. No fim das contas, teve que devolver todos os territórios, ou a paz não teria sido possível. Outro ponto de comparação: nos dois casos um premiê nacionalista dependeu do apoio da oposição de esquerda.

Traçar paralelos talvez também seja útil para os palestinos que se opõem aos planos para Gaza. Sem dúvida, o ideal seria um acordo de paz sólido e uma regulamentação por escrito do processo de retirada e da futura convivência.

Como tal é impossível – em parte também devido ao seus próprios radicais – os palestinos devem aceitar o que puderem. Portanto, primeiro Gaza, sem renunciar à Margem Oeste: o mundo os apoiará. Mas será muito difícil sustentar ou justificar uma refutação radical.