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Resultado de eleição na Itália cria impasse político

26 de fevereiro de 2013

Sucesso do comediante Beppe Grillo nas urnas impede a formação de uma maioria no Senado italiano e atrapalha a formação de uma coalizão de governo tanto para Pier Luigi Bersani como para Silvio Berlusconi.

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Foto: picture-alliance/dpa

O grande vencedor das urnas na Itália é o comediante e blogueiro Beppe Grillo. Ele abalou o sistema político do país com seu Movimento Cinco Estrelas, que concorreu pela primeira vez em nível nacional nas eleições, angariando votos tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, com resultados que encostam naqueles das grandes alianças de centro-esquerda e centro-direita.

Grillo, que durante a campanha eleitoral praguejava contra os políticos italianos e os partidos tradicionais, entusiasmando centenas de milhares de eleitores, não apareceu frente às câmeras na noite após a eleição. Como de praxe, adotou um comportamento sui generis, concedendo uma entrevista telefônica por streaming no site do movimento Cinco Estrelas.

"Essa é uma aventura fantástica", disse Grillo sobre o resultado do pleito, ao reiterar mais uma vez sua rejeição a coalizões com outros partidos. "Nas próximas eleições, seremos os mais fortes e vamos assumir o comando", completou.

Beppe Grillo
Beppe Grillo foi o grande vencedor da eleiçãoFoto: AP

Grillo, com seus 61 anos, não quer ser ele próprio deputado ou senador. "Vou acompanhar tudo do terraço da minha casa, em Gênova", afirmou. Ele conclamou os outros partidos a comporem uma grande coalizão. "Sem a nossa participação, nada mais funciona", declarou, triunfante, o ex-comediante, retomando por um momento o tom exaltado da campanha eleitoral.

Grande coalizão: solução indesejada

De fato, na segunda câmara parlamentar, o Senado, não é possível obter maioria sem Grillo. Nem a aliança de partidos de esquerda do socialista Pier Luigi Bersani nem o bloco do ex-premiê Silvio Berlusconi, que ressurgiu das cinzas com seu grupo de direita, conseguem compor uma maioria no Senado, cujas cadeiras são distribuídas de acordo com a votação em cada região.

O Cinco Estrelas de Grillo têm 54 cadeiras. A esquerda consegue, junto com o pequeno partido do ainda premiê Mario Monti, somar 131 senadores. E a aliança de centro-direita de Berlusconi atinge 116 cadeiras.

Italien Wahlkampf Pier Luigi Bersani
Para Pier Luigi Bersani, falta a maioria no SenadoFoto: ANDREAS SOLARO/AFP/Getty Images

No entanto, o número mágico, que representa uma maioria parlamentar, é de 158 assentos. E o próximo chefe de governo da Itália precisará da aprovação do Senado até mesmo para assumir o poder. Ou seja, se Bersani quiser mesmo se tornar primeiro-ministro, terá que desenvolver alguma ideia para obter uma maioria no Senado.

Uma grande coalizão é possível do ponto de vista matemático, mas improvável, analisa Vincenzo Scarpetta, especialista em questões ligadas à itália no think tank Open Europe. Ele diz não acreditar na viabilidade dessa solução.

"Para Bersani ou Monti seria difícil explicar a seus eleitores que iriam compor um governo com Berlusconi. E vice-versa", analisa Scarpetta. Apesar disso, uma grande coalizão poderá ser uma solução transitória para evitar a necessidade de novas eleições – uma coisa que ninguém quer.

Para a Câmara dos Deputados, os partidos de centro-esquerda em torno de Bersani obtiveram uma votação minimamente superior à da aliança de centro-direita de Berlusconi, com 29,54% dos votos contra 29,18%. Mas, em função do bizarro direito eleitoral italiano, ainda assim conquistaram uma maioria de 340 assentos, contra somente 124 parlamentares para o lado de Berlusconi. A Câmara dos Deputados, porém, não é suficiente para manter um governo, pois o Senado tem exatamente as mesmas competências.

Italien Wahlen Parteien PdL Silvio Berlusconi
Silvio Berlusconi também não obteve maioria no SenadoFoto: Reuters

E agora?

Bersani, que provavelmente receberá a incumbência de compor o próximo governo, pretende dar continuidade, de maneira mais suave, às reformas iniciadas por Monti. O socialista concorda que a Itália tem que manter o controle sobre suas dívidas, que perfazem quase 130% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. No entanto, ele pretende diminuir os encargos tributários dos assalariados e aumentar os dos mais abastados.

Outra possibilidade é que o presidente Giorgio Napolitano, após um possível fracasso das tentativas de coalizão, deixe o governo tecnocrata de Mario Monti no poder. Ou dissolva o Parlamento em alguns meses, convocando novas eleições. Como Napolitano deixará o cargo em maio próximo, um passo como esse acarretaria alguns tropeços para a política italiana. Afinal, ele praticamente não pode dissolver um Parlamento, que, de acordo com a Constituição italiana, deverá escolher seu sucessor.

Mario Monti Italien Premierminister Rom
Mario Monti é opção para a formação de um governo de centro-esquerdaFoto: Reuters

Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Alexandre Schossler