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Resistência inconsistente

mw4 de julho de 2003

Ministra da Agricultura recebida com protestos por produtores rurais. Após discurso conclamando-os a participarem da reforma agrícola, Renate Künast chegou a conquistar aplausos.

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Produtores temem crise no setor leiteiroFoto: AP

Ao chegar em Freiburg, no terceiro dia do Congresso dos Agricultores, a ministra Renate Künast parecia predestinada ao martírio. A Federação dos Agricultores Alemães prometera uma grande manifestação contra a recém aprovada reforma agrícola da União Européia, em cuja elaboração o governo social-democrata e verde teve sensível participação. No entanto, apesar dos assobios e vaias iniciais, a ministra soube dominar os produtores rurais e esvaziar as intenções políticas de seus líderes.

A reforma e as críticas

O presidente da federação, Gerd Sonnleitner, acusa Künast de ter aprovado a mais radical das reformas agrícolas da UE de todos os tempos. A reforma visa acabar com a superprodução de carne e cereais na Europa. Ela desvincula o valor dos subsídios à quantidade produzida. Os recursos serão calculados no futuro a partir do necessário para garantir a existência dos agricultores e de sua receita histórica. No entanto, aqueles que desrespeitarem diretrizes de proteção aos animais, ao meio ambiente e ao trabalho, correm o risco de cortes de até 25% nos subsídios.

Para a federação, a reforma coloca em risco a sobrevivência dos produtores rurais, criará burocracia excessiva e ameaça o mercado de leite, sendo que exatamente as vacas cumprem papel fundamental na preservação da paisagem rural da Alemanha. Esta é também uma das metas da nova política agrícola da UE.

Os agricultores apontam ainda as anunciadas medidas de austeridade do governo federal como uma sobrecarga extra. "Não é possível que os produtores rurais sejam o porquinho número um do governo", disse Sonnleitner, numa referência aos tradicionais cofres para guardar economias. Em comparação a outros países, os agricultores alemães estariam sendo explorados.

A princípio, as críticas do líder receberam amplo respaldo dos 3500 participantes do congresso. A ministra foi saudada com assobios e o barulho de sinos de vaca. O protesto ganhou toque circense com o desfile de duas vacas leiteiras pelo pavilhão. Um dos poucos pontos em que governo e produtores estão no mesmo barco é a resistência aos alimentos transgênicos. "Queremos uma identificação clara das mercadorias. Se o consumidor não deseja produtos manipulados geneticamente, nós não os produziremos. Os americanos têm de aceitar isto", já enfatizava Sonnleitner mesmo antes de a UE aprovar resolução sobre o assunto esta semana.

Desarmando os ânimos

Bauernpräsident Gerd Sonnleitner und Bundeslandwirtschaftsministerin Renate Künast.jpg
O líder dos agricultores, Gerd Sonnleitner, e a ministra Renate KünastFoto: AP

"Não vou tentar me tornar a queridinha de vocês, nem afirmar que nada irá mudar", avisou Künast no início de seu discurso. A ministra conclamou os produtores a suspenderem o bloqueio às mudanças e colaborar em sua implantação. "Vocês têm a chance de vocês mesmos estruturarem a reforma", disse ela. Afinal, tanto o governo quanto os produtores teriam o mesmo objetivo, o fomento à agricultura. Segundo a ex-presidente dos verdes, os produtores precisam reconhecer, entretanto, que o mercado e a situação financeira do Estado mudaram drasticamente.

A esta altura, o público ouvia calado. A virada de mesa mesmo veio quando Künast enfatizou que a produção de alimentos de alta qualidade precisa ser remunerada com um bom preço. Os aplausos não chegaram a ser acalorados, mas por si só podem ser considerados uma vitória da pouco querida ministra. "O silêncio dos agricultores é a maior forma de reconhecimento", interpretou satisfeita.

"Não somos bloqueadores", reagiu Sonntleitner, dando a impressão de ter captado e aceito a mensagem do governo. Seus liderados, por sua vez, transpareceram resistir à reforma mais por temor a mudanças do que por seu conteúdo em si. Bastou alguém dizer a eles que podem lucrar com as alterações no cálculo dos subsídios para ficarem, pelo menos, com a pulga atrás da orelha e baixar a guarda.