1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Renascimento do colonialismo?

(av)30 de abril de 2003

A guerra no Iraque ameaça inaugurar um novo capítulo na história do colonialismo ocidental. Qual deve ser a atitude dos intelectuais? Será que chegou a hora de baixar a guarda frente aos poderosos? Um comentário.

https://p.dw.com/p/3aIn
Iraque: futura colônia do "Ocidente"?Foto: AP

O sucesso da invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha – de forma mais breve e com danos menores do que se temia – parece haver amainado o tom cético da imprensa falada e escrita, mesmo na Alemanha, onde impera o rechaço à guerra. Pelo menos parte da intelligentsia local dá mostras de estar querendo arranjar-se com a "nova ordem mundial".

Escrevendo para o jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, o etnólogo Thomas Hauschild empenhou-se em nome de "um colonialismo não-colonial e não-racista, que ajude as regiões menos favorecidas do mundo a se porem de pé". Os intelectuais do Ocidente teriam se fixado na crítica unilateral dos poderosos desde a guerra do Vietnã, censura Hausschild. Eles seriam, assim, incapazes de contribuir com conhecimentos aproveitáveis para a necessária instituição de protetorados ocidentais, como nos casos do Afeganistão e do Iraque..

Thomas Bärthlein, da DW-RADIO, comenta.

Queda de um tabu

O "Não ao colonialismo" dos xiitas iraquianos – uma das palavras de ordem mais freqüentes em seus protestos das últimas semanas – parece não estar tão longe da realidade. Claro que os falcões neoconservadores dos EUA não planejam formar uma "colônia", no sentido usual do termo. Eles não pretendem ocupar permanentemente o Iraque, de preferência partiriam o mais rápido possível para novos alvos militares.

Só uma extrema ingenuidade impede de reconhecer que por trás da invasão do Iraque há mais do que um pouco de solidariedade humana, mais do que o temor das armas de extermínio em massa – por mais justificado que seja –, e uma ou outra jazida de petróleo. A mistura de zelo missionário e de obstinada defesa dos próprios interesses geoestratégicos por meios militares, demonstrada pelo presidente norte-americano, George Bush, e o premiê britânico, Tony Blair, manifesta paralelos gritantes com a mentalidade colonialista do século 19.

Os defensores desse intervencionismo neocolonial ignoram as experiências que baniram o colonialismo para o monte de ruínas da história mundial. Nem é preciso apelar para argumentos morais, da teoria da democracia ou do Direito Internacional – cuja conjuntura é sempre baixa, em épocas de guerra e pós-guerra.

Modelo ineficiente e incontrolável

Não se pode esquecer de um coisa, de um ponto de vista puramente pragmático: o colonialismo falhou como modelo de ordem política. Em primeiro lugar, ele não resolve conflitos, em segundo não é confiável, em terceiro, provoca resistência violenta.

Quanto ao primeiro aspecto, é catastrófico o balanço do domínio colonial na solução de atritos internos. Via de regra, os conflitos étnicos e religiosos ou são atiçados pelos senhores coloniais, com o fim de assegurar o próprio poder, ou são reprimidos. Em ambos os casos, o resultado é uma explosão, o mais tardar, quando da retirada dos ocupadores. Como os norte-americanos pretendem enfrentar este problema no Iraque, é um mistério. Domínio externo jamais substituirá a capacidade de convívio entre si que os próprios habitantes do país devem desenvolver.

Quanto à confiabilidade: é impossível prever em que zonas de conflito atuarão os EUA e as forças que se autonomearam como polícia do mundo. Via de regra, isto depende de seus próprios interesses. Um triste exemplo são as regulares intervenções da França na África. Catástrofes muito mais dramáticas – como em Ruanda – lhes "escaparam". A única alternativa continua sendo o fortalecimento das Nações Unidas.

O mesmo se aplica ao ponto três, a legitimação de intervenções militares. Se os EUA ou "o Ocidente" se arvoram em intervir por todo o mundo, a seu bel-prazer, isso coloca em cheque a ordem mundial pós-colonial. E com ela a interdição de violência contida na Carta das Nações Unidas, que justamente se baseou nas vivências e ressentimentos da época colonial. Não só no mundo árabe, de Dacar a Dhaka, como de Pequim a Pretória, anseios colonialistas são objeto de ódio e esbarrarão em ferrenha oposição

De boas intenções... – Um colonialismo "melhor", "mais bem intencionado" não oferece uma saída para esses problemas fundamentais – afinal de contas, a maior parte das administrações coloniais da história sempre esteve plena de filantropos. Seria melhor investir no aperfeiçoamento de instituições multilaterais existentes toda a energia que, no momento, se aplica em reavivar modelos políticos há muito superados.