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Relação entre alemães e bebida vai muito além da cerveja

Marc Lüpke (mas)11 de junho de 2013

Há tempos, a Alemanha é considerada a terra da cerveja, mas o país não é mais o maior consumidor. A história mostra que os alemães são grandes bebedores também de chá, vinho e, sobretudo, café.

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Foto: picture-alliance/Frank May

Uma coisa é certa quando se visita bares, cafés e restaurantes na Alemanha: há uma grande variedade de bebidas, quentes ou frias. Durante milênios as opções para beber foram bem limitadas – só havia água. Por volta de 10 mil a.C, a humanidade descobriu a primeira bebida artificialmente produzida: a cerveja.

Desde então, a bebida de baixo teor alcoolico se tornou, por excelência, parte da cultura. Em tempos em que a higiene era precária, por exemplo, os benefícios médicos da cerveja foram inestimáveis. A Santa Hildegarda de Bingen, que na Idade Média ficou conhecida por sua sabedoria nas áreas de saúde e medicina, recomendava veementemente: "Beba cerveja!".

Crianças e adultos seguiram rapidamente o conselho da santa, já que a água, até o século 20, era muitas vezes suja e contaminada. Assim, toda a Europa se mantinha saudável bebendo cerveja. Além disso, no século 19, os donos de indústria incentivavam quem trabalhava nos fornos de aço e nas minas a beber cerveja.

Hoch die Gläser: Ein Biergarten in München
Os alemães consomem cerca de 100 litros de cerveja por anoFoto: picture-alliance/dpa

A cerveja era uma boa fonte de caloria para os homens e tinha o teor alcoólico menor do que o das bebidas destiladas. Poetas e escritores também eram fãs da bebida feita de lúpulo e malte. "Eu bebo pelo menos um copo de cerveja todo o jantar", confessou certa vez o Nobel da Paz de literatura Thomas Mann.

Thomas Mann
O escritor Thomas Mann bebia cerveja diariamenteFoto: AFP/Getty Images

Há tempos, a Alemanha é considerada o país da cerveja, mas não é o maior consumidor. Os alemães bebem, em média, cerca de 100 litros de cerveja por ano. O que garante a eles a segunda posição, atrás apenas do dos tchecos, que consomem cerca de 150 litros.

Tchecos à frente

Há um ditado tcheco que diz: "Onde a cerveja é feita, vive-se bem a vida". No entanto, na Alemanha a cerveja é um bem cultural. São 1.300 cervejarias que produzem mais de 5 mil rótulos diferentes– mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Cada vez mais os alemães preferem produtos de microcervejarias para serem desfrutados em bares, ao ar livre ou em casa.

"A cerveja é obra do homem; o vinho, de Deus", disse Martinho Lutero no século 16. Embora os mosteiros medievais sejam conhecidos por sua cerveja, os monges também eram responsáveis pelos melhores vinhos produzidos na Alemanha.

De acordo com a lenda, muitos monges conseguiam, provando o gosto da terra, saber se ela era boa ou não para plantar a uva de um determinado vinho. Mas foi graças a seus vizinhos do sul que os alemães entraram em contato com o vinho. Foram os romanos que levaram a arte de fazer vinho para as tribos germânicas.

Na Idade Média, o vinho era uma bebida extremamente popular, mas só os ricos e nobres podiam pagar um de boa qualidade. As pessoas comuns consumiam bebida barata, muitas vezes misturada com vinagre. A mistura talvez seja a razão pela qual, até hoje, se bebe mais cerveja do que vinho na Alemanha.

Gekröntes Haupt: Die 63. deutsche Weinkönigin
O vinho foi trazido pelos romanos para as vilas germânicasFoto: picture alliance/Imagno

Os alemães bebem, em média, cerca de 20 litros de vinho por ano, dos quais grande parte é consumida nos estados no sul do país. Mas talvez isso seja algo bom. Em 2008, cientistas descobriram que o álcool no vinho pode ser mais prejudicial para o cérebro do que o álcool na cerveja. Uma constatação surpreendente, já que o vinho é uma bebida muito popular entre artistas e intelectuais. O jornalista e escritor Kurt Tucholsky disse entusiasmadamente na década de 1920: "Uma pena que o vinho não pode ser acariciado".

Expressão da identidade nacional

De manhã, a maioria dos alemães prefere uma bebida quente, sem álcool e revigorante. Eles começam o dia com uma xícara de café ou chá. Muito já foi dito e discutido sobre suas qualidades.

"Se isso é café, traga-se chá. Se isso é chá, traga-me café", disse Abraham Lincoln no século 19. Assim como o vinho, somente as pessoas com dinheiro podiam beber café e chá de boa qualidade.

"Café, tenho que beber café. Se quiserem me agradar, que me deem café", compôs Johann Sebastian Bach em 1732 em sua Cantata do Café.

Naquele período, os primeiros cafés começaram a aparecer na Europa. Eles eram frequentados por comerciantes, acadêmicos e ricos que se reuniam para conversar, fazer negócios e desfrutar da exótica bebida exportada da Arábia. As pessoas comuns bebiam substitutos de café feitos com malte ou chicória.

O mesmo acontecia com o chá, que, por um longo período, foi privilégio dos abastados. No começo do século 19, os preços começaram a baixar e, só assim, a classe trabalhadora começou a ter acesso a bebidas quentes. O cultivo barato de chá e café só foi possível graças ao uso de escravos nas plantações.

Einfach gemütlich: Kaffeehaus-Szene aus Berlin um 1930
Café em Berlin na década de 1930Foto: picture alliance/Imagno

Até os dias de hoje, casas de chá e café são populares pontos de encontro. A preferência por chá ou café se desenvolveu em uma expressão da identidade nacional. Enquanto os ingleses se tornaram quase a personificação de uma nação que bebe chá, os alemães se entregaram ao consumo do café. Quase 150 litros de café – mais que cerveja, vinho ou água mineral – são consumidos pelos alemães por ano.

Em restaurantes e cafés alemães, a diversidade oferecida é grande. E, por trás de cada decisão na hora de olhar o cardápio, não estão só as preferências pessoais, mas também os séculos de história de uma cultura. Saúde!