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Mudança de estratégia

17 de janeiro de 2012

Consórcio alemão vai transferir sua unidade de pesquisas sobre plantas geneticamente modificadas para os Estados Unidos. Brasil está na lista de países que autorizam o plantio de lavouras transgênicas.

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Pesquisa em transgênicos da Basf: mudança de planosFoto: picture-alliance/ZB

Diante da forte resistência europeia aos transgênicos, o conglomerado químico alemão Basf resolveu mudar de estratégia. A empresa anunciou nesta segunda-feira (16/01) que vai concentrar suas pesquisas de biotecnologia vegetal no continente americano: a sede corporativa da Basf Plant Science deixará de ser em Limburgerhof, na Alemanha, e passará para Raleigh, nos Estados Unidos.

"Nós estamos convencidos de que a biotecnologia vegetal é uma tecnologia-chave para o século 21. No entanto, ainda há pouca aceitação dessa tecnologia em muitos locais da Europa – pela maioria dos consumidores, agricultores e políticos", disse Stefan Marcinowski, membro da junta diretiva mundial da Basf, ao explicar a decisão.

Consequentemente, a empresa encerrou o desenvolvimento e a comercialização de todos os produtos que, até então, eram voltados para o mercado europeu. Os processos aprovados, no entanto, terão continuidade. "Sob uma perspectiva de negócios, não faz sentido continuar investindo em produtos cuja comercialização é direcionada exclusivamente para esse mercado [europeu]", alegou Marcinowski em nota oficial.

Lucros e empregos

O grupo ambientalista Greenpeace disse não se surpreender com a notícia. "É realmente apenas um passo lógico e empresarial que certamente faz sentido. Por um determinado tempo a biotecnologia vegetal certamente não tem chances na Europa", respondeu à DW Brasil o ativista Dirk Zimmermann, do escritório alemão da ONG.

Na visão do ativista, o consórcio alemão manteve por algum tempo a esperança de que esse panorama mudasse, após a aprovação da batata Amflora, em 2010 – um "fiasco total", na avaliação de Zimmermann.

Com a mudança da Basf Plant Science para os Estados Unidos, 140 postos de trabalho serão fechados na Europa. "Nossos colaboradores realizaram um excelente trabalho nos últimos anos. Lamentamos a redução dessas posições de alta qualificação na Alemanha e na Suécia", afirmou Marcinowski.

Uma questão de atratividade

A empresa passa a se dedicar com mais intensidade aos "mercados mais atrativos das Américas do Norte e do Sul", além do mercado asiático crescente. Nos Estados Unidos e no Brasil, o cultivo de sementes geneticamente modificadas é permitido – Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Honduras e México também estão na lista.

"Eu acho que a engenharia genética também não tem futuro na América: soluções sustentáveis para a agricultura não são consideradas e não há ganhos mais elevados", acrescentou Zimmermann, do Greenpeace alemão.

No caso do Brasil, as primeiras sementes transgênicas chegaram ao país clandestinamente, em 1997. De lá para cá o governo liberou as lavouras desse tipo e o país, em 2010, registrou uma área de 25,4 milhões de hectares de cultivo transgênico, diz a pesquisa mais recente da Isaaa, órgão internacional que estuda o setor.

Além da soja, semente transgênica mais difundida no Brasil, o milho e o algodão também são liberados. Recentemente, as autoridades brasileiras deram sinal verde para o feijão geneticamente modificado desenvolvido pela Embrapa e mantiveram a discussão sobre a liberação do arroz.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, os fazendeiros passaram a cultivar transgênicos já a partir de 1996, ano em que o país autorizou esse tipo de tecnologia. Em 2011, cerca de 94% da área de soja plantada no país era geneticamente modificada. Outras sementes largamente usadas são as de algodão e de milho.

Ainda assim, segundo a análise do Greenpeace, não há garantias de que a Basf será bem-sucedida nos Estados Unidos, já que o mercado local está muito dividido. "E no resto do mundo há cada vez mais rejeição", complementou Zimmermann.

"No entanto, para a Europa, essa é uma mensagem extremamente importante. Eu espero que os concorrentes da Basf sigam esse exemplo", disse o ativista alemão.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler