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Salto alto com batutas

17 de janeiro de 2012

Uma mulher à frente de uma orquestra não é tão comum quanto uma médica, uma administradora ou uma advogada. Na Alemanha, país liderado por uma chanceler federal, três maestrinas são a exceção.

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Karen Kamensek é regente da Ópera de HannoverFoto: picture-alliance/dpa

Na Alemanha existem apenas três orquestras regidas por mulheres. Uma delas é a orquestra do Teatro de Mecklemburgo, sob a batuta da alemã Romely Pfund. A australiana Simone Young é diretora da Filarmônica de Hamburgo e Karen Kamensek, também dos Estados Unidos, foi recentemente apontada para o cargo de diretora da Ópera de Hannover. Além delas, a norte-americana Catherine Rückwardt, de Los Angeles, conduziu de 2006 a 2011 a Orquestra Filarmônica de Mainz.

Encontrar mulheres ocupando cargos mais elevados em instituições orquestrais e de ópera na Alemanha também não é fácil, embora haja algumas exceções, como a diretora-geral da Ópera de Dresden, Ulrike Hessler, a diretora de Stuttgart, Andrea Moses, a diretora teatral Andrea Breth e a diretora de ópera Vera Nemirosa. Além delas, pode-se citar ainda Lucia Linz, kapellmeisterin da Arquidiocese de Munique e Freising. A sua nomeação, em 2010, rendeu à Igreja Católica diversos elogios de feministas em toda a Alemanha.

Há outros casos que ilustram a pequena presença de mulheres em posições de regência ou comando na música erudita alemã. Quando a Filarmônica de Munique procurou um substituto para o maestro Christian Thielemann, havia somente duas mulheres entre os cerca de 60 candidatos. Nenhum livro de referência sobre dirigentes importantes lançado recentemente traz o nome de uma mulher, nem mesmo no recente livro de Wolfgang Schreiber, que apresenta 30 kapellmeister, de Hans von Bülow até Ingo Metzmacher.

Profissão sob pressão

Para sua estreia na Ópera de Hannover, Kamensek optou – não por acaso – por uma das mais conhecidas óperas de Richard Strauss: Ariadne na Ilha de Naxos. Trata-se de uma obra que evidencia características de personagens femininas bem diversas. Questionada com qual das heroínas da ópera ela mais se identifica – a trágica Ariadne ou a coquete Zerbinetta –, a norte-americana disse que entende bem o comportamento das duas personagens, mas que na posição por ela ocupada há características bem mais importantes.

Catherine Rückwardt
Catherine Rückwardt esteve à frente da Orquestra de MainzFoto: staatstheater mainz

Qualidades tidas como femininas, como ser cuidadosa e saber cultivar contatos, são secundárias quando se trata de motivar 120 músicos altamente profissionais, a maioria homens, diz Kamensek. De fato, a profissão de regente tem um lado de general ou de domador de circo: é importante saber se impor, o que também não raro causa problemas de saúde, principalmente na coluna, à quem a exerce.

Para a profissional Anu Tali, da Estônia, muitas mulheres simplesmente não querem estar à frente de uma orquestra. Segundo ela, maestros viajam muito ou trocam com frequência de cidade. Assim, mal tem tempo para a família. Além disso, está-se constantemente exposto ao interesse, nem sempre bem intencionado, dos colegas e do público.

"Seria muito útil à causa se déssemos menos importância ao fato de sermos homens ou mulheres e lembrássemos que somos todos seres humanos", acrescenta. Para os homens que a elogiaram pelos seus belos olhos azuis, Tali fez questão de deixar claro que é lésbica.

Não para as cotas às mulheres

Apesar das dificuldades, há uma tendência constante de crescimento no número de mulheres na regência de orquestras e óperas europeias. Muitos acreditam que é apenas uma questão de tempo para que haja um melhor equilíbrio entre homens e mulheres.

Anu Tali / Dirigentin / Estland
Para Anu Tali, muitos mulheres não querem saber da profissãoFoto: warnermusic.com

Nos Estados Unidos, onde as mulheres começaram a se impor na profissão há mais tempo, há muito mais regentes femininas do que na Alemanha. A matriarca do setor, Sarah Caldwell, morreu em 2006, aos 82 anos. Não é coincidência, portanto, que três das quatro maestrinas em solo alemão sejam estrangeiras. Afinal, os tempos em que a respeitada Filarmônica de Viena tentava ser uma "área livre de mulheres" ainda não estão tão longe assim.

No entanto, cotas para regentes femininas são rejeitadas por quem chegou lá. "Isso seria ridículo", diz Tali, acrescentando que quem é bom se impõe pela competência. Para a grega Konstantia Gourzi, o público em breve se acostumará com a ideia de ver também mulheres à frente de orquestras. Por enquanto, elas também têm o fraque como uniforme, mas isso ainda pode mudar.

Autora: Anastassia Boutsko (br)
Revisão: Alexandre Schossler