Reformistas excluídos de eleições iranianas
20 de fevereiro de 2004As eleições iranianas despertaram pouco interesse da população, ao contrário do último pleito, realizado em 2000. Em Teerã, cidade de 16 milhões de habitantes, a vida prossegue normalmente. A propaganda eleitoral foi realizada sobretudo através de panfletos, passados de mão em mão. Os grandes cartazes foram proibidos pelo governo.
Festas em vez de comícios
Os jovens, que ajudaram a eleger o presidente reformista Mohammad Khatami, desta vez não se mobilizaram. Vestindo roupas no estilo ocidental, a juventude prefere se encontrar nos restaurantes de fast food a participar de comícios. E, à noite, percorrem as ruas do bairro ao norte de Teerã à procura de festas, cujos endereços são trocados através de telefones celulares.
Aliás os celulares tornaram-se também um instrumento de campanha eleitoral. As mensagens por SMS convocam tanto para ir às urnas como também para boicotar as eleições.
Faltam alternativas
O desinteresse da maioria dos iranianos pelas eleições que se realizam nesta sexta-feira (20/02) se explica pela falta de uma verdadeira alternativa. Em mais de cem distritos eleitorais de país há apenas um candidato e, mesmo onde há mais de um candidato, faltam opções polítics.
O Conselho de Guardiães, órgão que controla politicamente o Irã, excluiu quase um terço dos oito mil candidatos que se apresentaram inicialmente às eleições. Dentre os excluídos estão alguns deputados que pertencem ao sexto Majilis – ou seja o sexto Parlamento desde a revolução iraniana há 25 anos.
Ainda que o Conselho de Guardiães tenha voltado atrás, permitindo que alguns excluídos se reinscrevessem nas eleições, as medidas afetaram sobretudo a Frente de Participação do Irã Islâmico (FPII), o maior partido de oposição que é liderado por Mohammad Reza Khatami, irmão do presidente Mohammad Khatami.
Separar a política da religião
Reza Khatami, que foi proibido de participar das eleições, vem exigindo publicamente uma separação entre a política e a religião. Esta opinião, segundo ele, é compartilhada pela maioria dos iranianos, só que não se sabe ainda o que fazer para se atingir este objetivo.
O Conselho de Guardiães ordenou o fechamento de alguns jornais independentes e de um site internet, que publicavam críticas ao regime. Um desses jornais é o Yaseh-Nohn. Seu redator-chefe, Morad Vaisi, disse que o problema do Irã não é a constituição, e sim o papel político do Conselho de Guardiães.
A constituição, afirmou Morad Vaisi em entrevista à Deutsche Welle, garante eleições livres, mas o Conselho de Guardiães exige que as eleições sejam realizadas em duas etapas: primeiro o Conselho escolhe os candidatos e em seguida o povo pode votar entre os escolhidos. A solução, segundo Vaisi, é separar a administração política da administração religiosa.
Oposição fora do Parlamento
Vaisi não tem nenhuma ilusão de que os reformistas tenham algum papel no futuro Parlamento iraniano. O trabalho de oposição será realizado fora do Majilis e o contato com as ONGs deverá ser intensificado. Ele exclui também a cooperação com o presidente Mohamad Khatami, que permanecerá no cargo até o próximo ano.
O comportamento do presidente Khatami, segundo Vaisi, está próximo dos conservadores. Ele teve o voto de 22 milhões de eleitores, mas após oito anos de governo, os reformistas consideram que a sua conduta é hoje muito dura e perniciosa.