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"Quinta-feira negra" repercute na imprensa

rw15 de outubro de 2004

Dia do anúncio do corte de 16 mil empregos na Alemanha foi apelidado de "5ª-feira negra". Saneamento da subsidiária da GM e reestruturação da KarstadtQuelle são os assuntos do dia. Aqui, as opiniões da imprensa.

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Após anúncio de cortes, funcionários da Opel pararam trabalhoFoto: AP

A General Motors anunciou nesta quinta-feira (14/10) que vai cortar nos próximos dois anos 12 mil postos de trabalhos em suas montadoras na Europa. Segundo informações do conselho de fábrica em Rüsselsheim, a Opel alemã seria a maior atingida, com a extinção de 10 mil empregos. A meta da maior fabricante mundial de automóveis é economizar 500 milhões de euros ao ano até 2006.

A GM justificou as drásticas medidas com a demanda insatisfatória na Europa e a evolução dos preços no mercado automobilístico. Há anos, as subsidiárias Opel, Saab e Vauxhall vêm dando grandes prejuízos à matriz. Representantes sindicais acusam a central de má administração, pois enquanto as subsidiáris eram rentáveis, seus lucros foram canalizados para a modernização da sede, em Detroit (EUA).

Saneamento da KarstadtQuelle

Schlechte Zeiten für Karstadt
Foto: AP

Já o conglomerado varejista KarstadtQuelle deverá eliminar cerca de 5500 empregos nos próximos três anos, conforme prevê o plano de saneamento, acertado entre a diretoria da empresa e os sindicatos, também nesta quinta-feira. O corte de empregos deverá ocorrer no âmbito de um plano social e não haverá praticamente nenhuma demissão sumária. KarstadtQuelle terá de economizar 760 milhões de euros nos próximos três anos. Seus funcionários concordaram em abrir mão de aumentos de salário durante esse período.

Ao comentar a crise na Opel, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung apontou que funcionários temem que se trate de uma represália da central norte-americana contra os alemães, por estes terem se oposto à guerra no Iraque. "O conselho de fábrica acredita que as decisões da GM possam ter motivação política. A Polônia, estimada pelo presidente George W. Bush por causa de sua política em relação ao Iraque, havia encomendado há seis anos 60 aviões de caça à Lockheed-Martin.

Em contrapartida, criaram-se mais empregos na Polônia através da transferência da produção de 100 mil veículos Zafira da cidade alemã de Bochum para a polonesa Gliwice. A chefia européia da Opel, por sua vez, havia argumentado que os custos de produção são mais baixos na Polônia", escreveu o jornal de Munique.

Efeitos da globalização

Embora não tenham provas de qualquer influência da política internacional na administração da fábrica, prossegue o diário, os funcionários sabem que as lideranças da GM estão entre os patrocinadores da campanha eleitoral de Bush. "Confere, também, a informação de que Andrew Card, chefe da Casa Civil na Casa Branca, era lobista da GM antes de começar a trabalhar com George W. Bush", publica o Süddeutsche Zeitung.

"A maior produtora mundial de automóveis, que além da Alemanha fabrica em seis outros países europeus, acerta contas com o país com a mais cara produção. A Suécia tem apenas 64% dos custos de uma hora trabalhada na Alemanha. A Espanha é 33% mais barata. A GM demonstra aos alemães de forma dolorosa o que pode significar a globalização: perda de empregos, pressão sobre salários e qualidade de vida, insegurança crescente e a certeza de que o mercado tem mais influência sobre a vida cotidiana do que um governo federal", conclui.

Péssimo dia para trabalhadores alemães

O jornal suíço Der Bund escreve: "Não foi um bom dia para os trabalhadores alemães. Mas talvez tenha sido um bom dia para a Alemanha. A longo prazo. O exemplo da KarstadtQuelle mostra que os funcionários, ao contrário do que costuma se pensar, estão dispostos a concessões substanciais. Os trabalhadores da Opel também terão de fazer concessões para salvar postos de trabalho."

O ministro alemão da Economia, Wolfgang Clement, participou da comissão de emergência convocada às pressas pela prefeitura de uma das cidades atingidas, mas não fez promessas de subsídios. O jornal de Berna saúda a decisão de Berlim de não intervir financeiramente, lembrando o fracasso das subvenções à empreiteira Holzmann, em 1999, falida dois anos depois. "Os alemães estão se despedindo de suas ilusões", ressalta o Der Bund.

O Kölner Stadt-Anzeiger, de Colônia, encara as crises das duas grandes empresas como um alerta para todo o país. "É uma clara advertência do que pode vir a acontecer se não forem tomadas decisões importantes a serem postas em prática a tempo. A cronologia da derrocada da Opel e da KarstadtQuelle tem paralelos impressionantes com o moroso processo de reformas na Alemanha SA", destaca o jornal.