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Quem fala dialeto fala melhor

(sm)23 de agosto de 2005

Os dialetos são cultivados em nome da tradição e da variedade lingüística e cultural. Mas estudos provam que há mais um bom motivo para incentivar os falares locais: os dialetos elevam a competência lingüística.

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Falar dialeto e língua oficial desenvolve capacidade de abstraçãoFoto: dpa

O mais recente estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) chamou atenção para um fato interessante. Além da Áustria, regiões alemãs como a Baviera, Baden-Württemberg, Saxônia tiveram notas melhores que o resto da Alemanha. Por coincidência ou não, estas são regiões onde o uso de dialeto é propagado. Será que existe alguma relação entre as duas coisas?

Dialeto deixa esperto

Esta questão levantada pelo jornal Bild foi investigada mais a fundo pelo diário Süddeutsche Zeitung, que reuniu opiniões de especialistas sobre o assunto. O dialetologista Hans Triebel explica que a criança que cresce falando dialeto e aprende alemão padrão na escola é praticamente bilíngüe, o que eleva sua competência e performance lingüísticas – uma constatação fundada em pesquisas lingüísticas.

O presidente da Associação Alemã de Filólogos, Heinz-Peter Meininger, justifica este fenômeno da seguinte maneira: "Os falantes de dialetos aprendem bem cedo a diferenciar diversos níveis lingüísticos. Isso treina a capacidade de apreensão e o pensamento abstrato."

Na visão de Josef Kraus, presidente da Associação Alemã de Professores, os falantes de dialetos tendem a ter melhor desempenho em língua alemã e matemática por causa de sua boa compreensão analítica.

Falares do norte em extinção

Pesquisas neurológicas recentes também revelam que o centro de competência lingüística no cérebro é mais desenvolvido em crianças que dominam diversas línguas. E o dialeto é um pressuposto ideal para qualquer criança desenvolver sua capacidade de articulação verbal.

O interessante é que, quanto mais reduzido o uso de dialeto, menor o domínio da língua padrão escrita. Um estudo da Universidade de Oldenburg comprovou que os falantes de dialeto de 10 a 13 anos cometem 30% menos erros de ortografia.

Mas por que os dialetos do sul da Alemanha são mais propagados que os do norte? Isso não se limita apenas à tendência mais tradicionalista dessa parte do país. Quanto mais ao sul, maior a chance de sobrevivência de um dialeto alemão. O baixo-alemão, por exemplo, falado nos Estados do norte, está praticamente ameaçado de extinção.

Isso porque as diferenças de pronúncia e de vocabulário em relação ao alemão padrão são bem maiores que as existentes nos dialetos da metade sul da Alemanha, segundo explicou o filólogo Karl-Heinz Bausch, da Universidade de Mannheim, ao diário Frankfurter Rundschau. Sendo assim, os falantes não têm dificuldade de diferenciar estritamente entre dialeto e língua padrão.

Desprestígio e diluição

Nas regiões de alta concentração industrial e urbana, como o caso da região do Rio Ruhr, por exemplo, o dialeto está mais exposto a influências de outras línguas e outros sotaques. Isso acelera a perda de identidade lingüística local.

Mas o que mais contribui para o desaparecimento gradativo dos dialetos é sua imagem negativa e seu reduzido prestígio. No ouvido da maioria das pessoas, um dialeto estranho simplesmente não soa inteligente ou culto. E os falantes jovens tendem a interiorizar esses preconceitos e se distanciar da variante lingüística falada por seus pais. Além disso, durante um bom tempo, os professores tinham a tendência de censurar o uso de dialeto dentro de sala de aula, o que levou os dialetos a se limitar a um registro de intercâmbio meramente familiar.