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Crise do euro

12 de maio de 2010

Os políticos europeus declararam guerra aos especuladores, acusando-os de apostar na desvalorização do euro e colocar assim em risco toda a zona monetária da moeda comum europeia. Mas será que as coisas são assim?

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Moeda grega de 1 euroFoto: picture-alliance/Karl-Josef Hildenbrand

A agitação do final de semana passado deve ter deixado muitos com a impressão de que o euro está por um fio. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, por exemplo, deixou de lado uma importante eleição estadual e foi a Bruxelas liderar uma reunião de emergência, ao final da qual países da União Europeia liberaram 500 bilhões de euros em garantias e o FMI (Fundo Monetário Internacional), mais 250 bilhões.

E tudo isso só porque alguns especuladores malvados apostaram na quebra de alguns países europeus, com o objetivo de lucrar com a desvalorização do euro perante o dólar. "Foi assim mesmo que eles agiram ou simplesmente estavam fazendo o seu trabalho?", questiona o presidente da Frankfurt School of Finance, Udo Steffens.

"Talvez eles simplesmente tenham dito que, de acordo com sua análise macroeconômica, o euro iria desvalorizar em relação ao dólar," continua Steffens, "algo que só pode servir aos nossos interesses, pois afinal beneficia as exportações europeias".

Esse raciocínio é semelhante ao de Clemens Fuest, presidente do Conselho Científico do Ministério alemão das Finanças: "A crise não foi causada por especuladores; eles apenas expuseram os pontos fracos".

"É preciso ter cuidado, pois a crise certamente foi causada por governos; foram eles que tomaram a droga endividamento para além do limite e agora não sabem mais como se desintoxicar", complementa Udo Steffens.

A desvalorização do euro poder ser positiva?

A política orçamentária pouco séria de alguns países da zona do euro está, portanto, na origem da especulação contra o euro. E não é culpa apenas dos fundos de hedge que essa especulação esteja tendo sucesso. Se eles apostassem sozinhos contra um banco central, perderiam na certa.

Mas eles podem jogar além de suas fronteiras, podem produzir no mercado financeiro uma espécie de pânico que faça com que todos queiram se livrar do euro. E se isso pegar e todos os agentes do mercado financeiro estiverem convencidos de que o euro vai cair, então os bancos centrais não terão mais o que fazer, e o euro de fato vai cair. Mas será que isso é tão ruim assim?

"Não acredito que o euro tenha estado em perigo", argumenta Wolfgang Gerke, diretor do Bayerisches Finanzzentrum, um órgão sediado em Munique que aproxima o setor industrial e o âmbito acadêmico.

"A atual cotação é boa, ela ajuda muitos países da zona do euro. Daria para imaginar que o euro continuasse a cair sem causar nenhum problema. Muito pelo contrário, isso poderia tornar muitos países, principalmente a Espanha e a Grécia, mais atraentes nos mercados mundiais."

Desajustes na zona do euro

De fato, já houve tempos em que não se recebia 1,30 dólar por euro, mas apenas 88 centavos de dólar. Uma cotação dessas encarece as férias nos Estados Unidos e eleva os preços das matérias-primas e da energia na Europa, mas também favorece as exportações de produtos produzidos na União Europeia.

Gerke considera maior o risco de inflação na União Europeia do que o perigo de um euro fraco. Se os 750 bilhões de euros que hoje existem apenas na forma de garantias se tornarem de fato necessários e acabarem circulando na economia europeia, certamente vão gerar inflação.

Por isso, resta saber como acalmar a situação e quando vão cessar as especulações. Steffens tem uma receita, mas ela é de longo prazo.

"Esse desajuste na zona monetária não deve ser permitido a longo prazo. A questão é saber quem deverá se adaptar a quem. A Alemanha tem conduzido uma política austera, de contenção de gastos. Os outros, não me entendam mal, gastaram dinheiro de mão aberta. Temos que encontrar um meio-termo, para que desajustes dentro de uma zona monetária não sejam mais permitidos da maneira como foram."

Em outras palavras, a Alemanha também terá que fazer uma avaliação, terá que se perguntar se uma política exagerada de arrocho salarial e uma orientação excessiva para as exportações não colaboraram para as enormes diferenças nas balanças comerciais e no desempenho dos demais países da zona da euro.

Autor: Rolf Wenkel (as)
Revisão: Simone Lopes