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Pé na praia: O casamenteiro alemão

Thomas Fischermann
11 de maio de 2017

Baseado em Salvador, imigrante de 78 anos promove por meio da internet encontros entre alemães e brasileiras interessados em casamento. Para ele, no Brasil, mulheres são mais atraentes e bem-humoradas.

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DW Brasilianisch Kolumne - Autor Thomas Fischermann
Foto: Dario de Dominicis

O encontro com o casamenteiro foi num bar de praia em Salvador. Serviu-se de vinho de uma garrafa mantida em um balde de gelo, lançou o olhar para as ondas do mar e explicou as vantagens da mulher brasileira. "Por que casar-se na Europa com uma mulher rabugenta e materialista e passar a juventude irritado, se você pode viver com saúde e sem stress até a velhice, feliz e satisfeito com uma brasileira atraente e sempre bem-humorada?"

Achei essa frase muito comprida e complicada. O casamenteiro a pronunciava devagar, pausando de vez em quando para ter certeza de que eu escrevia cada palavra corretamente. Gerd Kahmann, de 78 anos, vive disso. Vende um sonho para homens alemães: com sua ajuda, eles podem encontrar uma mulher que nunca reclama e está sempre satisfeita.

Descobri o casamenteiro depois de me deparar com vários de seus websites, chamados "Amor Brazil" e "Latin Amor", por exemplo. Neles se veem modelos fotográficas jovens e sensuais mostrando as pernas e o traseiro. Os homens podem ler, em alemão, conselhos sobre a vida em geral, como "Os 5 melhores segredos para relacionar-se com mulheres brasileiras TOP", e clicar na "galeria de fotos de mulheres". Então, são mostrados detalhes sobre "1776 Joyce", "3647 Diana" e "1760 Jenny".

Pagando, é possível encontrá-las, convidá-las para ir à Alemanha e celebrar um casamento. "Temos 2.775 mulheres registradas", contou o casamenteiro. "O mais importante para nós é qualidade e seriedade."

Certo, eu tinha muitas perguntas a fazer. "Pode fazer", disse Kahmann. Começou a chover na praia e fomos para o interior do bar. A esposa de Kahmann nos trouxe o balde de gelo com o vinho e os copos. Ele a conhece há 15 anos, graças a um anúncio que colocou num jornal brasileiro: "Empresário alemão procura mulher para amor e casamento."

Naquela época, ele já vivia há alguns anos no Brasil. Após um casamento fracassado na Alemanha, tinha vindo com muito dinheiro. Com mais de 100 mil dólares nos bolsos de sua jaqueta de couro, ele aterrissou no Brasil e começou uma nova vida. A mulher sentada ao seu lado no bar ficou quieta e calada. Kahmann explicou que ela também é responsável pela seriedade da firma.

Segundo o alemão, a agência matrimonial funciona da seguinte forma: em seus websites inscrevem-se de dez a 15 brasileiras por semana, interessadas em conhecer um homem da Alemanha, Áustria ou Suíça. Elas fazem uploads de selfies e escrevem sobre quem são. A Frau Kahmann liga para as interessadas para descartar os trotes, e o Herr Kahmann faz uso de sua intuição para o assunto do amor.

"Das inscrições, 80% acabam no lixo", esclareceu Kahmann. "Elas são feias e gordas, tem dois a três filhos ou são muito velhas." Perguntei ao casamenteiro se não poderia ajudar homens que gostam de mulheres gordas. Ele desviou o olhar. Perguntei se ele também julga a aparência dos homens alemães, mas não obtive muito progresso nessa questão.

Questionei o porquê das mulheres brasileiras se interessarem por tais serviços. "Chega a 90% o percentual dos homens brasileiros que são machistas e só querem se divertir, até mesmo com várias mulheres", ele replicou, decidido. "As mulheres dizem: já estou cheia deles!"

"Limpa o copo, mein Schatz", disse Herr Kahmann, o antimachista, entregando a taça de vinho para sua mulher. Então, chamou o garçom e pediu mais uma garrafa.

Conversamos por muito tempo – sobre a visão que Kahmann tem das mulheres e da vida. Acredito que o vinho e a vista para as ondas ajudaram. Aprendi sobre todos os passos do procedimento para conhecer uma mulher: do "certificado de inscrição" que Kahmann manda para seus clientes e da "averiguação grátis de interesse", passando pelo "certificado de estabelecimento de contato", o "pacote para se conhecerem", por 490 euros, e a "confirmação de ordem de mediação", até o "primeiro contato no local", por 1.990 euros, e a garantia de devolução do dinheiro em até 90 dias.

Falamos sobre a concorrência de Kahmann, outros alemães que fazem esse tipo de sites no Brasil. Mas, segundo ele, as demais páginas não têm a mesma seriedade que a dele. Kahmann contou que não está autorizado a ler o que as mulheres conversam com os homens. Entretanto, encontros secretos sem o seu conhecimento são proibidos. Segundo ele, alguns homens vêm da Alemanha com expectativas falsas, procurando mulheres jovens demais para eles.

Perguntei a Kahmann sobre as jovens de biquíni da página principal de seu site. "No começo, tínhamos ainda mais fotos sensuais", respondeu o casamenteiro. "Já tivemos clientes que reclamaram por não fazermos mais isso." Ele afirmou não estar interessado no moralismo rígido como o que existe na Alemanha.

O casamenteiro me contou que o maior problema dos homens alemães é, acima de tudo, a cultura. Os alemães entendem muito pouco do amor, apontou. "O amor tem que ser renovado diariamente", disse, enquanto o sol se punha sobre o mar. "É importante fazer pequenos mimos para a mulher e lhe dar muita atenção."

"Alguns homens alemães não conseguem se decidir mesmo depois de semanas no nosso site", disse o casamenteiro, afirmando que estes ficam navegando pela galeria de fotos sem encontrar a mulher certa. Olhei para ele e percebi que tais hesitações o irritavam profundamente. "Para estes eu digo: procurem uma mulher em casa!"

Thomas Fischermann é correspondente para o jornal alemão Die Zeit na América do Sul. Em sua coluna Pé na Praia, faz relatos sobre encontros, acontecimentos e mal-entendidos – no Rio de Janeiro e durante suas viagens. Pode-se segui-lo no Twitter e Instagram: @strandreporter.