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Punks alemães radicalizam com Jesus

(ss/sv)2 de agosto de 2002

Sid Vicious deve estar tremendo no túmulo. No “Festival Freakstock”, em Gotha, na Alemanha, acontece o inacreditável: bandas punk cristãs, com direito a cabelos coloridos e muito piercing, declaram seu amor à religião.

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O punk nosso de cada dia, nos dai hoje...Foto: AP

Eles definitivamente não ouvem Sex Pistols. Embora tenham o mesmo layout de qualquer outro punk – cabelos verdes ou azuis, roupas de couro, cabelos arrepiados, tatuagem e muito piercing – os punks de Jesus se ocupam de uma tarefa inusitada: rezar.

Cerca de cinco mil "jovens punks cristãos" estão reunidos desde a quinta-feira (1/8) no Festival Freakstock, em uma pequena cidade da Turíngia, no interior da Alemanha. Organizado pelos "defensores de Jesus", o evento, que termina no domingo (4/8) é voltado para aqueles que "oram sempre que têm vontade".

Os punks de Cristo vão com suas guitarras até à missa, que no seu linguajar recebe o nome de "Noitada do Ócio". Orgulhosos, eles se autodenominam "os maiores bundões" e oram de forma um tanto quanto extraordinária: "Espírito Santo. É um tesão que você tenha vindo. Jesus, obrigado por ter cumprido a sua promessa. Por ter dito – eu vou embora, mas envio o consolo para vocês."

Fissurados pelo Evangelho –

A banda Wooden Cross tornou-se até mesmo especialista em "música punk cristã". Seus fãs, apesar do visual desleixado, diferenciam-se pelos dizeres na blusa: "Jesus Terror Force". Os punks religiosos organizam workshops, com o objetivo de esclarecer a novos adeptos a linha do grupo. O lema maior é: "Nós somos uma turma". E uma turma com uma determinada incumbência: a de propagar o Evangelho "do jeito que a gente tiver vontade, entre os que são como a gente".

Jesus Cristo, segundo os punks religiosos, seria hoje cool – um punk ou um hippie. Ele não iria fazer parte do sistema. "Se vivesse hoje, com certeza não iria tocar órgão, mas guitarra", acredita o punk Cookie, de Hamburgo. Com seus 28 anos, Cookie é uma espécie de emblema dos punks cristãos, o vovô da turma. Ele fez parte de um pequeno grupo que, há dez anos atrás, tomou a decisão: "Queremos viver radicalmente com Jesus." Hoje, os punks de Jesus contam com cerca de cinco mil adeptos. Além da Alemanha, o movimento se espalha pela Dinamarca, Suíça e Polônia.

Ser radical, como para qualquer punk, é o mais importante para o grupo. Radical em relação à música e ao visual, mas principalmente em relação à crença religiosa. Sexo antes do casamento, por exemplo, é tabu. A bíblia é entendida no sentido literal, sem interpretação de qualquer simbologia. Assim, eles acreditam piamente que o mundo foi criado em sete dias, que Adão foi a primeira criatura e que o homossexualismo é um pecado. "Deus criou no começo Adão e Eva e não Adão e Adão. Se não, não existiriam crianças", dispara Cookie.

Fundamentalismo –

Os punks de Jesus pregam a tolerância, "porque assim está na bíblia", mas ao mesmo tempo isolam-se do resto da sociedade. Segundo Bernd Schäfer, delegado da Igreja Luterana: "É como em qualquer tipo de fundamentalismo. Reage-se a um mundo complexo, reduzindo-o a um esquema em preto-e-branco, para que se possa entendê-lo e controlá-lo."

A aversão ao sistema é também algo que costuma desaparecer entre os punks cristãos. Stefan, por exemplo, era antes um militante de esquerda. Como outros jovens, bebia bastante: "No começo, ainda era assim: a gente festejava a ceia com muita cerveja e acabava caído no chão, completamente bêbado."

Agora, vários dos adeptos pararam de se embebedar, jogaram seus cigarros fora e queimaram suas coleções de CDs. "Isso é que é ser radical", completa orgulhoso Stefan, que nem deve mais saber quem foram Sid & Nancy.