PT oficializa troca de Lula por Haddad
11 de setembro de 2018Após meses de suspense, o PT finalmente oficializou, nesta terça-feira (11/09), o seu "plano B" à Presidência. Após reunião da Comissão Executiva Nacional em Curitiba, a poucas horas do prazo final de substituição de candidaturas, membros do partido confirmaram que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad vai assumir a cabeça de chapa no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva.
O anúncio formal ocorreu pouco depois em frente à sede da Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense, onde Lula está preso desde abril. O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos fundadores do PT, leu uma carta do ex-presidente para algumas centenas de apoiadores que se reuniram em frente ao prédio.
"Estou indicando ao PT e à coligação 'O Povo Feliz de Novo' a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente", disse o petista na carta. "A partir de agora, Haddad vai ser Lula para milhões de brasileiros."
Pouco depois, Haddad tomou a palavra e, após repetir algumas frases de efeito para a militância petista – lançando acusações contra a Rede Globo e a elite brasileira –, disse que vai "ganhar essa eleição pelo Lula, pelo PT, pelo PCdoB, pelos movimentos sociais e pelo Brasil".
Ao seu lado estavam figuras do PT como a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores Fernando Pimentel e Wellington Dias. A presidente do partido, a senadora Gleisi Hoffmann, definiu a desistência de Lula como "um momento de dor" e disse que a decisão de substituição partiu do próprio ex-presidente. "Como ele determinou, estamos apresentando Haddad", afirmou.
Após o anúncio, Haddad evitou falar com a imprensa. Apoiadores gritavam "Lula livre, Haddad presidente!" e "Manu no Jaburu!".
No início da noite, os advogados da coligação PT/PCdoB/PROS registraram oficialmente junto à Justiça Eleitoral a candidatura de Haddad à Presidência e da deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) como vice. O PT tinha até esta terça para efetuar a troca em sua chapa presidencial.
Antes disso, o partido havia tentado postergar ao máximo o anúncio. Nos últimos meses, seus dirigentes negaram repetidamente a possibilidade de substituir Lula como candidato, mesmo após ele ter sido condenado em segunda instância e atingido pela Lei da Ficha Limpa.
Apoiadores de Lula também tentaram até o último momento reverter a decisão que barrou a candidatura dele em agosto. Não foi fácil para o partido desistir do seu principal nome. Nas pesquisas eleitorais, Lula aparecia com até 39% das intenções de voto, muito à frente de qualquer outro candidato.
Poucas horas antes do anúncio, Gleisi Hoffmann ainda afirmava a jornalistas que o partido pretendia aguardar a análise de um recurso no Supremo contra a decisão que barrou a candidatura de Lula. No entanto, outros dirigentes petistas que chegavam à reunião já diziam que estavam resignados com a substituição.
Nas últimas semanas, a insistência em manter Lula como candidato vinha causando nervosismo em alguns setores do partido, que defendiam uma definição rápida de Haddad como substituto para aproveitar ao máximo o tempo restante de campanha até o primeiro turno.
Enquanto a resistência à execução do plano B persistiu, o candidato Ciro Gomes (PDT), que disputa o mesmo eleitorado que votou no PT em eleições passadas, passou para o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Haddad já vinha assumindo uma posição de maior destaque nas últimas semanas, viajando ao Nordeste e concedendo várias entrevistas. No entanto, ele ainda insistia que era apenas candidato a vice e que Lula era de fato o candidato do PT à Presidência.
Agora, Haddad e D'Ávila vão ter menos de um mês para fazer campanha com a nova composição da chapa e promover junto aos eleitores que eles são os candidatos indicados por Lula.
Haddad, por enquanto, está em quarto lugar na última pesquisa Datafolha, mas seu desempenho segue uma curva crescente. Mesmo antes de ter sido anunciado como o candidato do PT, ele já registrou 9% das intenções de voto, ficando tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), que já se esforçam há meses para promover suas candidaturas.
Em agosto, Haddad tinha apenas 4% das intenções no Datafolha. Assim, foi o candidato que apresentou o maior crescimento. Segundo o governador Fernando Pimentel, os números da pesquisa Datafolha mostram que Lula já está conseguindo transferir votos para seu indicado.
Mas entre as dificuldades que o ex-prefeito deve enfrentar está o desafio de promover sua candidatura para mais setores da sociedade sem a participação de Lula, que preso não poderá gravar peças de campanha e participar de eventos ao lado do ex-prefeito.
Quando venceu a corrida pela prefeitura de São Paulo em 2012, Haddad dependeu em larga medida de recursos volumosos disponibilizados pelo PT e sua associação com o ex-presidente, que participou de dezenas de eventos de campanha ao lado dele. Em 2016, a tática não funcionou, e ele acabou perdendo no primeiro turno para João Doria (PSDB), que fazia sua estreia na política.
Haddad ainda segue sendo o único candidato com desempenho relevante nas pesquisas que corre o risco de perder em um eventual segundo turno com o ex-capitão populista de direita Jair Bolsonaro (PSL). Segundo o Datafolha, Haddad tem por enquanto 39% das intenções de voto em uma disputa isolada contra Bolsonaro, que registra 38%. Candidatos como Ciro, Marina e Alckmin aparecem com vantagem maior em cenários contra o ex-capitão.
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