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Energia geotérmica

Geraldo Hoffmann26 de novembro de 2007

Usina geotérmica em Unterhaching, na Baviera, testa tecnologia inédita e promete abrir caminho para aproveitamento da geotermia na Europa. Alemanha poderia cobrir 50% de sua demanda de energia com essa fonte renovável.

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Usina inovadora é o coração do projeto de geotermia de UnterhachingFoto: Geraldo Hoffmann

O subsolo do sul da Alemanha guarda uma gigantesca reserva de calor. "Trata-se da maior área contínua águas termais da Europa. É como se fosse uma esponja, impregnada com um volume de água comparável ao do Lago de Constança [48 quilômetros cúbicos], que a 3.500 metros de profundidade atinge 80ºC a 150ºC", explica Christian Schönwiesner-Bozkurt, coordenador do projeto de geotermia de Unterhaching.

Explorar essa fonte de energia renovável é o que a prefeitura de Unterhaching está fazendo através do mais ambicioso projeto de geotermia da Alemanha. Além de abastecer a rede de calefação local – como já é feito em outras regiões do país – aqui o calor retirado da terra também será transformado em eletricidade.

A idéia inicial era apenas abastecer as repartições públicas municipais com energia livre de emissões de CO2. Mas isso deu origem ao "principal projeto do início do terceiro milênio, para mostrar o que precisa ser feito na Alemanha em termos de proteção ao clima", explica o prefeito Erwin Knapek. "Optamos pela geotermia porque conhecíamos o tesouro existente no subsolo de Unterhaching."

Perfuração arriscada

Geothermieprojekt Unterhaching: Christian Schönwiesner-Bozkurt, von Rödl & Partner, leitet das Geothermieprojekt in Unterhaching.
Christian Schönwiesner-Bozkurt, coordenador do projeto de geotermia de UnterhachingFoto: Geraldo Hoffmann

Em 11 de setembro de 2001, a Câmara Municipal de Unterhachinger deu sinal verde ao projeto, sem, no entanto, imaginar que a conquista do tesouro fosse durar tanto. Somente o planejamento e a perfuração dos poços levaram três anos.

"É que se trata de um projeto-piloto também em termos econômicos, o que exigiu a criação de estruturas completamente novas", explica Schönwiesner-Bozkurt. Foi preciso criar, inclusive, uma empresa municipal, a Geothermie Unterhaching GmbH & Co KG.

A prefeitura investiu até agora 70 milhões de euros, dos quais 16 milhões só para a construção e a manutenção da usina. Para minimizar o risco, foi desenvolvido um seguro especial – inédito no mundo – para o caso de a perfuração não trazer o resultado esperado.

O risco de uma perfuração sem sucesso foi segurado por um apólice de 1,2 milhão de euros, o que acabou sendo desnecessário porque, em 24 de setembro de 2004, a perfuratriz esbarrou em água de 122 ºC a 3.346 metros de profundidade, com uma vazão de 150 litros por segundo à superfície.

Hoje cerca de 140 clientes e aproximadamente 90 estações de transferência estão ligadas à rede de calefação baseada em energia geotérmica. Em médio prazo, deverão ser fornecidos 70 MW (megawatts). "Em cerca de 20 anos, os custos estarão amortizados", diz Knapek.

Inovação tecnológica

Espera-se que a usina geotérmica de Unterhaching consolide o uso dessa energia renovável. Outras já existentes na Europa – algumas no Leste alemão – em regra apenas transferem o calor da Terra para aquecimento das casas.

A usina de Neustadt-Glewe, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, até produz um pouco de eletricidade (210 quilowatts). Sua turbina a vapor funciona a vapor funciona pelo princípio ORC (Organic Rankine Cycle), considerado ineficiente pelos peritos. Devido a sua baixa temperatura (97ºC), a água captada é usada para aquecer uma substância orgânica que evapora a temperaturas bem inferiores a 100º C.

Em Unterhaching a Siemens testa, pela primeira vez na Europa, o chamado sistema Kalina, inventado pelo russo Alex Kalina e pelo qual uma mistura de água com amoníaco é aquecida, evapora, e esse vapor vai para a turbina que aciona o gerador. "Esse processo aumenta a eficiência da geração de energia e pode se tornar um sucesso nas exportações alemãs", diz Schönwiesner-Bozkurt.

Geothermieprojekt Unterhaching: Unterhaching hat einen besonderen Standortfaktor in Sachen Geothermie - das ist Bürgermeister Erwin Knapek, ein promovierte Physiker. Er ist von der Geothermie überzeug
Prefeito Erwin Knapeck promete redução de CO2 e de custos com calefaçãoFoto: Geraldo Hoffmann

A usina de Unterhaching, com capacidade para 3,4 MW, a população local poderá economizar 15% dos custos de calefação e ainda reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. "Vamos economizar entre 30 mil e 40 mil toneladas de CO2 por ano por ano, o que representa até dois terços dessas emissões no município", diz Knapek.

Novo eldorado

Pelo menos 25% das 20 mil casas em Unterhaching serão abastecidas com calor e eletricidade "das profundezas da Terra". O projeto transformou a região num eldorado geotérmico. Segundo Schönwiesner-Bozkurt, já foram concedidas mais de 90 permissões para explorar a geotermia na Baviera, com investimentos previstos de até 4 bilhões de euros.

Também em Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado há projetos planejados ou em execução nesse setor, sob condições geológicas até melhores do que na Baviera. No fundo do vale do Alto Reno, a 2.500 metros de profundidade, a temperatura chega a 150ºC, em 5.000 metros até 200ºC. A única desvantagem é que a geologia nessa região não é tão homogênea como na Baviera. Por isso, os riscos da perfuração não são mais imprevisíveis, diz Schönwiesner-Bozkurt.

Pesquisas indicam a região dos Alpes, o Leste alemão e a Renânia-Palatinado têm as reservas de águas termais teoricamente mais rentáveis. Um estudo do Bundestag estimou o potencial total aproveitável de geotermia na Alemanha em 300 terawatt/hora, o que representaria cerca de metade da energia gerada no país. Só que gerar eletricidade a partir da geotermia ainda é mais caro do que usar carvão ou gás nas usinas.

Enquanto os grandes investidores ainda hesitam em apostar em projetos de geotermia profunda, aumenta o uso da assim chamada geotermia de superfície (até 400 m de profundidade) na Alemanha. Em 2006, foram instalados sistemas de calefação geotérmicos em 24 mil casas, indústrias e repartições públicas, o dobro do que no ano anterior, informa a associação das empresas do setor (GtV-BV).

A entidade estima que, atualmente, mais de 100 mil desses sistemas estejam instalados no país, gerando mais de um gigawatt de calor a partir de recursos geotérmicos. Isso alimenta o otimismo do prefeito de Unterhaching: "A geotermia está avançando. Quanto mais caros se tornarem os combustíveis fósseis tanto mais a geotermia se transformará na energia básica para o aquecimento de nossas casas."