1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Problema em Portugal são incêndios criminosos, diz perito

Alexandra Frick (rw)25 de agosto de 2005

Os incêndios em Portugal e em outros países do sul da Europa repetem-se a cada ano. DW-WORLD falou com Johann Goldammer, professor de Ecologia do Fogo, sobre as causas e conseqüências para o meio ambiente.

https://p.dw.com/p/75lH
Bombeiro luta contra o fogo no centro de PortugalFoto: AP

DW-WORLD: Os incêndios em Portugal são mais graves do que na Espanha ou na Grécia. Quais os motivos para isso?

Johann Goldammer: Não se pode dizer que eles sejam muito mais graves em Portugal. Se pensarmos nos fogos dos últimos dias ou semanas na Espanha, o número de mortes e a intensidade do fogo, veremos que são semelhantes. Os incêndios levaram a muitos incidentes e mortes. Em parte, eles chegaram muito perto de lugarejos e povoados, causando enormes prejuízos. Em comparação, no resto do Mediterrâneo a situação é calma.

Como estão as florestas portuguesas? A estrutura florestal causa problemas especiais?

Aqui estão queimando florestas e bosques normais. Durante o verão seco, eles queimam em toda a região do Mediterrâneo. O principal problema são os fogos ateados propositalmente. O outro motivo é a estrutura da vegetação: a plantação intensiva para a produção de celulose gera materiais altamente inflamáveis. além disso, como o interesse é obter a maior quantidade possível de madeira, não se cuida de cortar galhos secos, por exemplo. Este fenômeno é verificado em muitos outros países do mundo.

O senhor diria que também falta consciência ecológica entre a população?

Portugal Feuerwehrmann Waldbrände in Portugal
Foto: AP

Em primeiro lugar, eu me concentraria nos investidores e nas empresas que praticam o reflorestamento. Eles parecem não seguir as orientações básicas para a exploração desse tipo de florestas. Já em relação aos bosques públicos, parece que eles não são mais utilizados tão intensivamente como antigamente. Nas matas há muito material facilmente inflamável, como pequenos arbustos ou galhos secos.

É uma conseqüência do êxodo da população rural para as regiões urbanas. As populações dos pequenos lugarejos estão envelhecendo consideravelmente. A biomassa vegetal não é mais usada tão intensamente como há 20 ou 30 anos. Naquela época, usavam-se os galhos e materiais secos para fazer fogo em casa. Hoje, isto não é mais regulado por mãos humanas e fica cada vez mais perigoso, à mercê do acaso. Mesmo que sempre já tenha havido incêndios em Portugal e na Espanha, hoje eles têm uma intensidade bem maior que há 30, 40 anos.

Avolumam-se acusações de que os loteamentos de terras e a caótica situação nos registros de imóveis são uma parte do problema. Como o senhor isso?

Assim que surgem dúvidas em relação à propriedade e seus responsáveis, aparecem os problemas. Responsabilidade significa que haja regulamentos: um proprietário de terras é obrigado a tomar precauções para se proteger do fogo. Quando não está definido claramente quem é o responsável pela propriedade, cai-se nas cordas da indolência.

Que papel desempenha a grande seca no país?

Um ano seco, como nesta "seca do século" dos últimos 12, 15 meses em Portugal, faz com que, por um lado, a mata esteja bastante seca. Mas, por outro lado, esta estiagem inibe o crescimento da vegetação na floresta ou às suas margens, de forma que, com menos capim, deveria haver menos risco de incêndio.

De maneira geral, o fogo começa no capim e é a vegetação rasteira que o leva adiante. Este fenômeno nós conhecemos das savanas africanas: num ano de seca ou depois dele, há bem menos incêndios na África do que num ano de muita chuva e em que cresceu bastante vegetação. Mesmo assim, não são as plantas sozinhas que definem os acontecimentos. No momento, queimam vários locais diferentes e todos os tipos de vegetação possível.

Portugal Löschflugzeug Waldbrände in Portugal
Foto: AP

Isto nos leva a uma situação crítica: a União Européia recebeu o apelo de um país em que todos os incêndios acontecem de propósito ou por desleixo. E isto se repete a cada dia. Os países vizinhos enviam apoio em grande estilo, em forma de pessoal, aviões e helicópteros, para ajudar numa situação que se repete diariamente. Os incêndios em Portugal não são para desmatar, são incêndios de natureza criminosa e refletem uma extrema negligência.

Houve erros de parte do governo português? Os criminosos deveriam ser punidos com maior rigor?

Quando se fala de medidas ou declarações de curto prazo, pode-se naturalmente dizer que os responsáveis têm de ser punidos. Mas as verdadeiras causas estão profundamente enraizadas na sociedade e não podem ser mudadas de hoje para amanhã. Isto tem muito a ver com a relação com o meio ambiente e as reservas naturais, e com quanto a população se sente responsável.

A população deveria ser mais bem esclarecida?

Campanhas exemplares de esclarecimento são praticadas principalmente na Espanha. De qualquer maneira, os espanhóis estão bem mais adiantados na questão do gerenciamento do fogo. Isto vai tão longe, que os espanhóis enviam equipes para ajudar os agricultores no interior a fazerem suas queimadas com segurança, pois as queimadas fazem parte da tradição para preparar os campos para a plantação. Os espanhóis orientam os produtores como usar o fogo com segurança. Eles não dizem que o fogo é proibido e que pode levar a punições. Neste campo, Portugal com certeza está em atraso em relação à Espanha.

O professor Johann Georg Goldammer dirige o Grupo de Trabalho Ecologia do Fogo e o Centro de Monitoramento do Fogo Global (GFMC),

do Instituto Max Planck de Química em Freiburg. O GFMC é o centro mundial de controle do fogo das Nações Unidas.