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Privatização da TAP gera controvérsia política em Portugal

Jochen Faget, de Lisboa (av)23 de junho de 2015

Maioria da companhia aérea com 70 anos de existência passa para consórcio que inclui brasileiro. Oposição socialista critica valor, modalidade e efeitos da transação e promete cancelá-la caso vença as próximas eleições.

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Foto: picture-alliance/dpa

Há anos o governo de Portugal tentava vender a companhia aérea TAP, e os sindicatos combatiam as tentativas com greves, enquanto iniciativas de cidadãos organizavam ações de protesto.

Nesta quarta-feira (24/06), em Brasília, será assinado o contrato de compra que coloca 61% das ações da TAP nas mãos do consórcio Gateway, controlado pelo empresário português Humberto Pedrosa e pelo americano-brasileiro David Neeleman, dono da companhia Azul.

Apesar disso, o conflito prossegue: a oposição socialista afirma que a tradicional companhia, com 70 anos de existência, está sendo vendida muito abaixo de seu valor. E promete reverter a transação caso seu partido vença as eleições legislativas do terceiro trimestre.

Parco retorno, métodos duvidosos

Os lucros para o erário com a privatização seriam de pelo menos 354 milhões de euros, podendo chegar a até 500 milhões de euros, explicou a secretária de Estado no Ministério das Finanças, Isabel Castelo Branco. Isso até ser divulgado que, do cheque da Gateway, não constariam mais do que 10 milhões de euros: o restante, os compradores investiriam na própria TAP, a título de injeção de capital urgentemente necessária.

Aparentemente fã ardoroso do futebol, o deputado socialista Rui Paulo Figueiredo condenou imediatamente o negócio: "É uma vergonha vender a TAP pela metade do preço do Jorge Jesus", afirmou, numa referência ao treinador que acabou de trocar o Benfica pelo Sporting, seu rival local.

TAP Pilotenstreik in Portugal
Pilotos da TAP fizeram greve em maioFoto: Reuters/Hugo Correia

As pesquisas de opinião indicam ser muito provável que o Partido Socialista (PS) volte a ocupar o governo em Portugal após as próximas as eleições, mesmo que num coalizão. Segundo a legenda, a privatização da TAP contraria os interesses nacionais, além de ter sido realizada em condições duvidosas, sob sigilo e precipitadamente. Assim, um futuro governo socialista tudo fará para anulá-la.

Malabarismos financeiros e testas de ferro

Esse é um dos motivos da grande pressa do ministro das Finanças, Antônio Pires de Lima, em fechar o negócio. Pois, caso ele esteja concluído até as eleições, uma rescisão sairá bem cara para o novo governo – cara demais, esperam os atuais dirigentes de centro-direita em Lisboa. Nos bastidores se comenta que os compradores exigiram garantias para o caso de uma anulação da venda.

À medida que vão sendo revelados mais detalhes sobre a transação, acumulam-se as críticas à venda da companhia aérea. Consta que, para garantir a prometida injeção de capital, os aviões da TAP serão primeiramente vendidos, depois alugados, resultando num lucro de cerca de 100 milhões de euros. Ou seja: malabarismos financeiros em vez de investimentos reais.

Critica-se também o cancelamento de rotas já planejadas. E igualmente mal recebida é a opção reservada para o consórcio Gateway de, a partir de 2017, comprar outros 34% da empresa, passando assim a deter um total de 95% de suas ações. Os 5% restantes caberiam, aliás, aos pilotos.

Com a concretização da compra, a briga em torno da tradicional estatal se transformou numa luta de princípios em torno das privatizações. Segundo o sindicato dos pilotos, a TAP – que até então sempre dera lucros e era economicamente saudável – foi difamada por um governo neoliberal, com vista à privatização. Por isso, a classe sempre combaterá a transação.

Por fim, os partidos de oposição atacaram numa nova frente, alegando que o português Humberto Pedrosa, oficialmente detentor de 51% do Gateway, não passaria de um testa de ferro, cuja participação real seria muito menor. Caso isso se confirme, a venda TAP estaria violando as leis da União Europeia devido à participação estrangeira acima do permitido.