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Prisão de correspondente na Turquia indigna Alemanha

28 de fevereiro de 2017

Governo, políticos e intelectuais criticam detenção do jornalista Deniz Yücel, de nacionalidade turca e alemã. Desde golpe de Estado fracassado de 2016, Erdogan aumentou cerceamento à imprensa.

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Em Berlim, protesto terminou em frente à Embaixada da Turquia
Em Berlim, protesto terminou em frente à Embaixada da Turquia Foto: Reuters/F. Bensch

A prisão preventiva do jornalista teuto-turco Deniz Yücel, determinada por um tribunal de Istambul na segunda-feira (27/02), foi duramente criticada por governo, políticos e intelectuais da Alemanha.

O embaixador turco na Alemanha foi convidado a prestar esclarecimentos. A chanceler federal Angela Merkel classificou a ordem de prisão de uma decisão dura e decepcionante e disse esperar que Yücel seja libertado em breve.

"A medida é desproporcionalmente dura, afinal Deniz Yücel se apresentou voluntariamente à Justiça turca e se colocou à disposição para as investigações", disse Merkel.

Protestos contra a prisão ocorreram nesta terça-feira em várias cidades alemãs. Em Berlim, segundo a polícia, cerca de cem carros participaram da carreata que pedia a libertação de Yücel. A manifestação terminou em frente à Embaixada da Turquia. Em Frankfurt am Main, a irmã do jornalista, Ilkay, participou da carreata e afirmou que seu irmão está bem apesar da situação.

Protestos foram registrados também em Colônia, Hamburgo e Leipzig. Atos foram programados ainda em Viena, Graz e Zurique. Um grupo de intelectuais e jornalistas publicou um anúncio de página inteira em grandes jornais alemães pedindo a liberdade de Yücel e citando o artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, que se refere à liberdade de expressão e de imprensa.

Reportagem crítica ao governo

Na segunda-feira, um juiz de Istambul decidiu decretar a prisão preventiva de Yücel, que é correspondente do jornal Die Welt, depois de ele passar 13 dias detido sob a acusação de fazer propaganda terrorista.

Deniz Yücel é acusado de incitação ao ódio e de fazer propaganda para uma organização terrorista
Deniz Yücel é acusado de incitação ao ódio e de fazer propaganda para uma organização terroristaFoto: picture-alliance/dpa/K. Schindler

A prisão preventiva pode durar até cinco anos, ao fim dos quais o acusado pode ser julgado ou libertado. O jornalista, que possui dupla nacionalidade – alemã e turca –, é acusado de incitação ao ódio e de fazer propaganda para uma organização terrorista, em referência à guerrilha curda PKK.

O vice-presidente do opositor Partido Republicano do Povo (CHP), Sezgin Tanrikulu, que acompanhou a audiência, afirmou em sua conta no Twitter que o promotor perguntou a Yücel exclusivamente sobre sua atividade jornalística e que o alemão foi preso unicamente por isso.

Yücel foi detido no âmbito de uma investigação sobre uma invasão ao e-mail do ministro da Energia, Berat Albayrak, que é genro do presidente Recep Tayyip Erdogan. A invasão é atribuída ao grupo clandestino de esquerda RedHack, que publicou os e-mails na internet.

Os e-mails indicam haver iniciativas do governo turco para manipulação de contas no Twitter e controle estatal sobre a mídia. Yücel foi um dos poucos jornalistas a escrever sobre o caso, em setembro passado. Ele se apresentou à polícia para responder perguntas sobre a sua reportagem e foi imediatamente detido.

Cerca de 150 jornalistas presos

Yücel é o primeiro jornalista alemão e ser preso desde que o partido conservador islâmico AKP chegou ao poder, em 2002. No ano passado, o correspondente Hasnain Kazim, do site Spiegel Online, teve que deixar a Turquia porque o governo lhe negou o registro como jornalista e, com isso, o visto de trabalho e residência.

Bem pior é a situação dos jornalistas turcos. Cerca de 150 estão presos, seja de forma preventiva, seja cumprindo sentença. Depois do golpe de Estado fracassado de 15 de julho, 149 jornais, rádios e televisões já foram fechados e 775 jornalistas tiveram seus registros cancelados, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF).

A Turquia ocupa a posição 151, entre 180 países, na lista de liberdade de imprensa da RSF, publicada antes do golpe fracassado e da entrada em vigor do estado de exceção.

AS/dpa/afp/epd